sexta-feira, 18 de setembro de 2020

 


O Espiritismo perante a Ciência

 

Gabriel Delanne

 

Parte 27

 

Continuamos o estudo do clássico O Espiritismo perante a Ciência, de Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la Science.

Nosso objetivo é que este estudo possa servir para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 


Questões preliminares

 

A. No caso das aparições de Katie King, o fato não poderia ser atribuído simplesmente à ação do duplo fluídico da médium Cook?

B. Crookes apurou diferenças entre a forma materializada e a médium?

C. Apesar de tantas minúcias, não poderia Crookes ter sido joguete de uma ilusão, de uma alucinação, admitindo fantasias como verdades?

 

Texto para leitura

 

631. Em outro texto, Crookes descreve uma sessão realizada em Hackney, em que Katie King durante cerca de duas horas passeou pelo aposento, conversando familiarmente com os presentes. “Muitas vezes, ao passar, tomou meu braço, e a impressão por mim sentida era a de que uma mulher viva estava a meu lado, e não uma visitante do outro mundo; esta impressão, afirmo, foi tão forte que quase não resisti à tentativa de repetir uma recente e curiosa experiência.”

632. Katie disse, então, que, desta vez, julgava poder mostrar-se ao mesmo tempo em que a Srta. Cook, a médium. Eis o relato feito por Crookes: “Diminuí o gás e, em seguida, com uma lâmpada fosforescente, penetrei no gabinete. Tinha anteriormente pedido a um dos meus amigos, hábil estenógrafo, anotasse qualquer observação que eu pudesse fazer, enquanto estivesse no gabinete, pois, conhecendo a importância das primeiras impressões, não queria confiar à memória mais do que era necessário. Estas notas estão, neste momento, diante de mim. Entrei na câmara com precaução; estava escura e foi tateando que procurei Miss Cook; encontrei-a encolhida, no chão. Ajoelhando-me, deixei entrar o ar na lâmpada e, à sua claridade, vi esta moça, vestida de veludo preto, como no princípio da sessão, e com a completa aparência de insensibilidade. Não se moveu quando lhe tomei a mão e lhe cheguei a lâmpada ao rosto, mas continuou a respirar tranquilamente. Levantando a lâmpada, olhei em torno de mim e vi Katie, em pé, perto e atrás da Srta. Cook. Vestia uma roupagem curta e flutuante, como já lhe tínhamos visto, durante a sessão. Com uma das mãos da Srta. Cook nas minhas, ajoelhei-me ainda, suspendi e abaixei a lâmpada, tanto para iluminar o corpo inteiro de Katie, como para convencer-me plenamente de que via, de fato, a verdadeira Katie, que tinha apertado em meus braços alguns minutos antes, e não o fantasma de um cérebro enfermo. Ela não falou mais, porém meneou a cabeça em sinal de reconhecimento. Por três vezes examinei, com cuidado, a Srta. Cook, encolhida diante de mim, para certificar-me de que a mão que segurava era bem a de uma mulher viva, e por três vezes virei a lâmpada para Katie, a fim de examiná-la com atenção firme, de modo que não tivesse a menor dúvida de que ela ali estava, diante de mim. No fim a senhorita Cook fez um leve movimento e logo Katie me fez sinal para que eu saísse; retirei-me para outra parte do gabinete e então deixava de ver Katie, mas não deixei o aposento até que a senhorita Cook tivesse despertado e que dois assistentes tivessem penetrado com a luz”.

633. Poder-se-ia supor, pelos conhecimentos que temos das propriedades do perispírito, que se opera simplesmente um desdobramento da personalidade da médium, mas as notas de Crookes vão mostrar-nos que o duplo fluídico não exerce aqui nenhum papel e que a ação é devida a um ser espiritual, momentaneamente materializado.

634. Eis outras informações de autoria de William Crookes: “Antes de terminar este artigo, desejo que se conheçam algumas das diferenças que observei entre a Srta. Cook e Katie. A estatura de Katie é variável; vi-a, em minha casa, com mais seis polegadas que a Srta. Cook. Ontem, à noite, com os pés nus e na ponta dos pés, tinha 4,5 polegadas mais que Miss Cook. Estava com o pescoço descoberto, a pele era perfeitamente suave ao tato e à vista, enquanto Miss Cook possui uma cicatriz no pescoço, que, em circunstâncias semelhantes, se vê distintamente e é áspera. As orelhas de Katie não são furadas, ao passo que as da senhorita Cook trazem brincos, comumente. A cor de Katie é muito branca e a da Srta. Cook muito morena. Os dedos de Katie são muito mais compridos que os da Srta. Cook e seu rosto também maior. Nos modos e na forma de se exprimirem há diferenças notáveis”.

635. Esses, os fatos relatados pelo grande sábio, cuja boa-fé não pode ser posta em dúvida. Poderia ter sido ele joguete de uma ilusão, de uma alucinação, tomando fantasias como verdades? Tal ideia, que agradaria a Jules Soury, não pode, porém, ser invocada, porque a carta seguinte vai dizer-nos que foi possível também fotografar o Espírito de Katie. Ora, se é possível conceber um homem de gênio alucinado, é inteiramente ridículo pretender que se possam fotografar alucinações.

636. Eis o relato feito por Crookes: “Tendo tomado parte muito ativa nas últimas sessões de Miss Cook, e tendo conseguido obter numerosas fotografias de Katie King, à luz elétrica, pensei que a publicação de alguns pormenores seria interessante para os espiritistas. Durante a semana que precedeu a partida de Katie, ela deu sessões em minha casa, quase todas as noites, a fim de que a pudesse fotografar à luz artificial. Cinco aparelhos completos de fotografia foram preparados para esse efeito. Eles consistiam em cinco câmaras escuras, uma do tamanho de uma placa inteira, uma de meia placa, uma de um quarto e duas câmaras binoculares estereoscópicas, que deviam ser dirigidas todas sobre Katie ao mesmo tempo, cada vez que ela posasse para obter o seu retrato. Cinco banhos sensibilizadores e fixadores foram empregados, e numerosas placas de vidro foram limpas previamente, prontas para servir a fim de que não houvesse hesitações nem atrasos durante as operações fotográficas, que eu próprio executava assistido por um auxiliar. Minha biblioteca serviu de câmara escura; ela tinha uma porta de dois batentes que se abria sobre o laboratório; um desses batentes foi retirado de seus gonzos, uma cortina foi suspensa em seu lugar para permitir a Katie entrar e sair facilmente. Os nossos amigos que estavam presentes achavam-se sentados no laboratório diante da cortina, e as máquinas fotográficas estavam colocadas um pouco atrás deles, prontas para fotografar Katie quando ela saísse, e a tomar fotografias igualmente do interior do gabinete, toda vez que a cortina fosse afastada com essa finalidade. Cada noite havia quatro ou cinco exposições de chapas, o que dava, pelo menos, quinze provas por sessão. Algumas se estragaram no desenvolvimento, outras, ao graduar a luz. Apesar de tudo, tenho 44 negativos, alguns medíocres, outros nem bons nem maus, e outros excelentes. Eis aqui dois certificados sob juramento, de que estas experiências foram realizadas nas melhores condições; eles foram publicados em 1875, numa brochura intitulada Procès des Spirites”.

637. Ao relato se acrescentou, de fato, uma declaração assinada por William Henry Harisson, atestando a realidade dos fenômenos espíritas descritos, bem como outro depoimento, firmado pelo jornalista Edwards Dawson Rogers, da cidade de Londres, que certificou ter visto frequentemente o fenômeno do espiritualismo chamado materialização e o aparecimento de uma segunda forma humana, que não a do médium, sair de uma pequena câmara ou gabinete, na qual o médium havia sido preso. “Vi isto mais de uma vez em condições rigorosas de experimentação impostas pelo professor Crookes, o ilustre químico e membro da Sociedade Real da Grã-Bretanha, em que era impossível praticar qualquer engano. A aparição passeava no meio dos experimentadores sentados diante do gabinete, com eles e sendo tocada por eles. Certa vez, estando desse modo ocupada a aparição, o professor Crookes entrou no gabinete e afastou a cortina que mantinha o médium (culto da assistência); vimos, então, ao mesmo tempo, o médium e a aparição materializada.”

638. Na sequência de seu relato, Crookes diz que Katie pediu aos assistentes que ficassem sentados; só ele não foi incluído nesta medida, porque, já havia algum tempo, ela lhe havia dado a permissão de fazer o que quisesse, tocá-la, entrar e sair do gabinete, quando entendesse. “Segui-a ao gabinete e vi, em algumas ocasiões, a ela e à médium, ao mesmo tempo, porém, as mais das vezes, só encontrava a médium, em letargia, repousando no chão; Katie e seu costume branco haviam instantaneamente desaparecido.”

639. Sobre a médium Florence Cook, o sábio disse o seguinte: “Durante os últimos meses, a Srta. Cook fez-me numerosas visitas em casa, e aí ficava semanas inteiras. Ela só trazia consigo uma pequena bolsa, que não fechava à chave; durante o dia estava constantemente em companhia da Sra. Crookes e de mim, ou de qualquer outro membro de minha família; não dormia só; faltava-lhe, absolutamente, a oportunidade de preparar, mesmo em caráter ligeiro, algo que se prestasse a representar o papel de Katie King. Preparei e dispus, eu mesmo, a minha biblioteca e o gabinete escuro, e, de hábito, depois que a Srta. Cook jantava e conversava conosco um pouco, dirigia-se diretamente para o gabinete; a seu pedido, eu fechava à chave a segunda porta e guardava a chave comigo durante toda a sessão: abaixava-se, então, o gás e deixava Miss Cook na obscuridade. Entrando no gabinete, Miss Cook estendia-se no chão, com a cabeça numa almofada, e caía logo em letargia”.

640. Falando sobre as sessões fotográficas, Crookes revelou que durante essas sessões Katie envolvia a cabeça da médium em um xale, para impedir que a luz lhe caísse no rosto. “Eu levantava, frequentemente, uma ponta da cortina, quando Katie estava perto e em pé. As sete ou oito pessoas que se achavam no laboratório podiam ver, ao mesmo tempo, Miss Cook e Katie, ao clarão da luz elétrica. Nós, no momento, não divisávamos o rosto da médium, por causa do chalé, mas lhe percebíamos as mãos e os pés, notávamos que ela se agitava, penosamente, sob a influência dessa luz intensa e, por instantes, ouvíamos-lhe os gemidos. Tenho uma chapa em que Katie e a médium estão fotografadas juntas, mas Katie está colocada diante da cabeça de Miss Cook. Enquanto eu tomava parte ativa nessas sessões, a confiança que Katie tinha em mim aumentava gradualmente, a ponto de só querer dar sessões quando eu me encarregava dos dispositivos a tomar, dizendo que me desejava sempre perto dela e do gabinete. Estabelecida a confiança e estando ela convencida de que eu cumpriria minhas promessas, os fenômenos aumentaram de intensidade e tive provas, impossíveis de obter se me houvesse aproximado da sensitiva de modo diferente. Ela me interrogava frequentemente a respeito das pessoas presentes às sessões e sabia a maneira como elas seriam colocadas, porque nos últimos tempos se tornara muito nervosa em consequência de certas sugestões mal-avisadas que aconselhavam empregar a força para proceder com maneiras mais científicas de pesquisar.”

641. Uma das fotografias mais interessantes é aquela em que Crookes está em pé, ao lado de Katie, tendo ela o pé nu em determinado ponto do assoalho. Ele fez que Miss Cook se vestisse como Katie; ela e ele se colocaram então na mesma posição e foram fotografados pelas mesmas objetivas, colocadas absolutamente como na outra experiência, e clareadas pela mesma luz. Colocando uma sobre outra as duas fotografias, vê-se que os retratos coincidem perfeitamente quanto à estatura, etc., mas Katie é mais alta meia cabeça que Miss Cook, e perto desta parece uma mulher corpulenta.

642. Escreveu Crookes: “Em muitas provas, a largura do seu rosto e o tamanho de seu corpo diferem essencialmente da médium e as fotografias fazem ver muitos outros pontos de diferença. Mas a fotografia é tão impotente para pintar a beleza perfeita do rosto de Katie, como são as palavras para descrever-lhe o encanto das maneiras. A fotografia pode, é verdade, desenhar-lhe a atitude, mas como poderia reproduzir-lhe a pureza brilhante da cor, a expressão, sem cessar variável, dos traços, ora velados de tristeza, ao narrar algum acontecimento de sua vida passada, ora risonhos, cheios da inocência de uma jovem, divertindo meus filhos, ao contar-lhes os episódios de suas aventuras na Índia? Eu vi Katie tão bem, quando iluminada pela luz elétrica, que me é fácil acrescentar alguns traços às diferenças já estabelecidas num precedente artigo, entre ela e a médium”.

 

Respostas às questões preliminares

 

A. No caso das aparições de Katie King, o fato não poderia ser atribuído simplesmente à ação do duplo fluídico da médium Cook?

Pelos conhecimentos que temos das propriedades do perispírito, essa suposição seria válida, mas as experiências e os fatos registrados por Crookes mostraram que o duplo fluídico não exerceu ali nenhum papel e que a ação era devida, sem dúvida nenhuma, a um ser espiritual, momentaneamente materializado. (O Espiritismo perante a Ciência, Quarta Parte, Cap. III – O perispírito durante a desencarnação – Sua composição.)

B. Crookes apurou diferenças entre a forma materializada e a médium?

Sim. Ele notou que havia entre a médium e Katie King várias diferenças. A estatura era desigual, pois Katie tinha seis polegadas a mais que a Srta. Cook. A pele de Katie era perfeitamente suave ao tato e à vista, enquanto Miss Cook possuía uma cicatriz no pescoço e a pele áspera. As orelhas de Katie não eram furadas, ao passo que as da senhorita Cook traziam brincos. A cor de Katie era muito branca e a da Srta. Cook, muito morena. Os dedos de Katie eram também muito mais compridos que os da Srta. Cook e seu rosto maior. Havia também, nos modos e na forma de se exprimirem, diferenças notáveis. (Obra citada, Quarta Parte, Cap. III – O perispírito durante a desencarnação – Sua composição.)

C. Apesar de tantas minúcias, não poderia Crookes ter sido joguete de uma ilusão, de uma alucinação, admitindo fantasias como verdades?

Tal ideia, que agradaria a Jules Soury, não pode ser nem ao menos cogitada, porque o grande sábio conseguiu também fotografar o Espírito de Katie. Ora, se é possível conceber um gênio alucinado, é inteiramente ridículo pretender que se possam fotografar alucinações. (Obra citada, Quarta Parte, Cap. III – O perispírito durante a desencarnação – Sua composição.)

 

 

Observação:

Para acessar a parte 26 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/09/o-espiritismo-perante-ciencia-gabriel_11.html

 

 

 

 

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