O Evangelho segundo o Espiritismo
Allan Kardec
Parte 12
Prosseguimos o estudo metódico de “O
Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, terceira das obras que
compõem o Pentateuco Kardequiano, cuja primeira edição foi publicada em abril
de 1864.
Este estudo é publicado sempre às
quintas-feiras.
Caso o leitor queira ter em mãos o
texto consolidado dos estudos relativos à presente obra, para acompanhar, pari
passu, o presente estudo, basta clicar em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN
e, em seguida, no verbete "O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Eis as questões de hoje:
89. A riqueza constitui um prêmio para os homens ou uma prova muito difícil?
A riqueza parece ser um prêmio, mas
é, em verdade, uma prova muito arriscada e mais perigosa do que a miséria, em
face dos arrastamentos a que dá causa, das tentações que gera e da fascinação
que exerce. A riqueza é, como sabemos, o supremo excitante do orgulho, do
egoísmo e da vida sensual. E é o laço mais forte que prende o homem à Terra e
lhe desvia do céu os pensamentos.
Em oportuna mensagem transmitida no
ano de 1863, Lacordaire diz que, quer a fortuna nos tenha vindo por herança de
família, quer a tenhamos ganho com o nosso trabalho, há uma coisa que não
devemos esquecer nunca: é que tudo promana de Deus e tudo retorna a Deus. Nada
nos pertence na Terra, nem sequer o nosso pobre corpo: a morte nos despoja
dele, como de todos os bens materiais. Somos, assim, depositários e não
proprietários, não nos iludamos. Deus no-los emprestou e teremos de lhos
restituir; e ele empresta sob a condição de que o supérfluo, pelo menos, caiba
aos que carecem do necessário. Não nos julguemos com o direito de dispor em
nosso exclusivo proveito daquilo que recebemos, não por doação, mas
simplesmente como empréstimo. (O
Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVI, itens 7 e 14.)
90. Como explicar a desigualdade das riquezas na Terra?
A desigualdade das riquezas é um
dos problemas que inutilmente se procurará resolver, desde que se considere
apenas a vida atual. A primeira questão que se apresenta é esta: Por que não
são igualmente ricos todos os homens? Não o são por uma razão muito simples: por
não serem igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem
sóbrios e previdentes para conservar. É um ponto matematicamente demonstrado
que a riqueza, repartida com igualdade, a cada um daria uma parcela mínima e
insuficiente; que, supondo efetuada essa repartição, o equilíbrio em pouco
tempo estaria desfeito, pela diversidade dos caracteres e das aptidões; que,
supondo-a possível e durável, tendo cada um somente com que viver, o resultado
seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o
progresso e para o bem-estar da Humanidade; que, admitido desse ela a cada um o
necessário, já não haveria o aguilhão que impele os homens às grandes
descobertas e aos empreendimentos úteis.
Se Deus a concentra em certos
pontos, é para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as
necessidades. Sendo materialmente impossível que todos a possuam ao mesmo
tempo, e acontecendo, além disso, que, se todos a possuíssem, ninguém
trabalharia, com o que o melhoramento do planeta ficaria comprometido, cada um
a possui por sua vez. Assim, um que não a tem hoje, já a teve ou terá noutra
existência; outro, que agora a tem, talvez não a tenha amanhã. Há ricos e
pobres, porque sendo Deus justo, a cada um prescreve trabalhar a seu turno. A
pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a
riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação. (Obra citada,
capítulo XVI, item 8.)
91. Que é que o Espiritismo considera seja a nossa verdadeira
propriedade?
O homem só possui em plena
propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar
e deixa ao partir, goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a
abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a propriedade real, mas,
simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do
corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as
qualidades morais. Isso é o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode
arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste.
Depende dele, portanto, ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como do
que tiver adquirido em bem resultará sua posição futura. (Obra citada, capítulo
XVI, itens 9 e 10.)
92. Diversas aplicações pode o homem dar à fortuna. Qual é
delas a melhor?
A respeito da questão proposta, a
obra em estudo apresenta-nos duas ordens de ideias.
A primeira, assinada pelo Espírito
de Cheverus (Bordéus, 1861), pode ser assim resumida:
"Amai-vos uns aos
outros", eis a solução do problema. Essa frase guarda o segredo do bom
emprego das riquezas. Aquele que se acha animado do amor do próximo tem aí toda
traçada a sua linha de proceder. Na caridade está, para as riquezas, o emprego
que mais apraz a Deus. Não nos referimos, é claro, a essa caridade fria e
egoísta, que consiste em a criatura espalhar ao seu derredor o supérfluo de uma
existência dourada. Referimo-nos à caridade plena de amor, que procura a
desgraça e a ergue, sem a humilhar.
Eis a segunda proposta, assinada
pelo Espírito de Fénelon (Argel, 1860):
A beneficência é apenas um modo de
empregar-se a riqueza; ela dá alívio à miséria presente; aplaca a fome,
preserva do frio e proporciona abrigo ao que não o tem. Dever, porém,
igualmente imperioso e meritório é o de prevenir a miséria. Essa é, sobretudo,
a missão das grandes fortunas, missão a ser cumprida mediante os trabalhos de
todo gênero que com elas se podem executar. O trabalho desenvolve a
inteligência e exalça a dignidade do homem, facultando-lhe dizer, altivo, que
ganha com seu trabalho o pão que come, enquanto a esmola humilha e degrada. A
riqueza concentrada em uma mão deve ser qual fonte de água viva que espalha a
fecundidade e o bem-estar ao seu derredor. A todos os que podem dar, pouco ou
muito, direi, pois: dai esmola quando for preciso; mas, tanto quanto possível,
convertei-a em salário, a fim de que aquele que a receba não se envergonhe
dela. (Obra citada, capítulo XVI, itens 11 e 13.)
93. Quais são as qualidades do homem de bem?
Enumerar todas as qualidades do
homem de bem é muito difícil. Aqui estão algumas delas, conforme as relacionou
Allan Kardec. O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de
amor e de caridade, na sua maior pureza. Tem fé em Deus e no futuro. Possuído
do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar
paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e
sacrifica sempre seus interesses à justiça. Seu primeiro impulso é pensar nos
outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do
seu próprio interesse. É bom, humano e benevolente para com todos, sem
distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus.
Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que
como ele não pensam. Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade. Não
alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e
esquece as ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe
será conforme houver perdoado. É indulgente para as fraquezas alheias, porque
sabe que também necessita de indulgência. Nunca se compraz em rebuscar os
defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Estuda suas próprias
imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Não se envaidece da sua
riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi dado
pode ser-lhe tirado. Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque
sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial
emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões. Se a
ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e
benevolência, porque são seus iguais perante Deus. (Obra citada, cap. XVII,
item 3.)
94. Por que muitos espiritistas não aplicam a si mesmos o
alcance moral das manifestações espíritas?
O motivo disso é que em muitos
deles ainda são muito tenazes os laços da matéria para permitirem que o
Espírito se desprenda das coisas da Terra. A névoa que os envolve tira-lhes,
portanto, a visão do infinito, donde resulta não romperem facilmente com seus
pendores nem com seus hábitos, não percebendo que haja qualquer coisa melhor do
que aquilo de que são dotados. Têm eles a crença nos Espíritos como um simples
fato, mas que nada ou bem pouco lhes modifica as tendências instintivas. Numa
palavra: não divisam mais do que um raio de luz, insuficiente a guiá-los e a
lhes facultar uma vigorosa aspiração, capaz de lhes sobrepujar as inclinações.
Espíritas ainda imperfeitos, alguns deles ficam a meio caminho ou se afastam de
seus irmãos em crença, porque recuam ante a obrigação de se reformarem, ou
então guardam suas simpatias para os que lhes compartilham das fraquezas ou
prevenções. (Obra citada, cap. XVII, item 4.)
95. Como reconhecer o verdadeiro espírita?
Reconhece-se o verdadeiro espírita
pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas
inclinações más. Enquanto alguns se contentam com seu horizonte limitado,
outro, que apreende alguma coisa de melhor, se esforça por desligar-se dele e
sempre o consegue, se tem firme a vontade. Esse, o verdadeiro espírita. (Obra
citada, cap. XVII, item 4.)
96. Como devemos viver no mundo em que estamos?
Um sentimento de piedade deve
sempre animar o coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor e imploram a
assistência dos bons Espíritos. Não julguemos, todavia, que os benfeitores
espirituais pretendam que vivamos uma vida mística que nos conserve fora das
leis da sociedade. Não. Eles nos pedem que vivamos com os homens de nossa
época, como devem viver os homens. Que nos sacrifiquemos às necessidades, mesmo
às frivolidades do dia, mas que o façamos com um sentimento de pureza que as
possa santificar. Sejamos joviais, sejamos ditosos, mas que nossa jovialidade
seja a que provém de uma consciência limpa e seja a nossa ventura a do herdeiro
do Céu que conta os dias que faltam para entrar na posse da sua herança.
Não imaginemos, portanto, que, para
vivermos em comunicação com os Bons Espíritos, para vivermos sob as vistas do
Senhor, seja preciso cilício e cinzas. (Obra citada, capítulo XVII, item
10.)
Observação:
Para acessar a Parte 11 deste estudo, publicada na semana
passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/01/o-evangelho-segundo-o-espiritismo-allan_28.html
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