quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

 



O Evangelho segundo o Espiritismo

 

Allan Kardec

 

Parte 13

 

Prosseguimos o estudo metódico de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, terceira das obras que compõem o Pentateuco Kardequiano, cuja primeira edição foi publicada em abril de 1864.

Este estudo é publicado sempre às quintas-feiras.

Caso o leitor queira ter em mãos o texto consolidado dos estudos relativos à presente obra, para acompanhar, pari passu, o presente estudo, basta clicar em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN e, em seguida, no verbete "O Evangelho segundo o Espiritismo”.

Eis as questões de hoje:


97. A perfeição moral consiste na maceração de nosso corpo?

Não. A perfeição moral não consiste em macerar o corpo; está toda nas reformas por que fizermos passar o nosso Espírito. Dobrá-lo, submetê-lo, humilhá-lo, mortificá-lo, eis o meio de tornarmos nosso Espírito mais dócil à vontade de Deus e o único que nos poderá levar à perfeição. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 11.)

98. Qual é o significado da parábola do festim de núpcias? 

Nessa parábola Jesus compara o reino dos céus, onde tudo é alegria e ventura, a um festim. Falando dos primeiros convidados, alude aos hebreus, que foram os primeiros chamados por Deus ao conhecimento da sua Lei. Os enviados do rei são os profetas que os vinham exortar a seguir a trilha da verdadeira felicidade; suas palavras, porém, quase não eram escutadas; suas advertências eram desprezadas; muitos foram mesmo massacrados, como os servos da parábola. Os convidados que se escusam, pretextando terem de ir cuidar de seus campos e de seus negócios, simbolizam as pessoas mundanas que, absorvidas pelas coisas terrenas, se conservam indiferentes às coisas celestes.

Os hebreus foram os primeiros a praticar publicamente o monoteísmo; é a eles que Deus transmite sua lei, primeiramente por via de Moisés, depois por intermédio de Jesus. Foi daquele pequenino foco que partiu a luz destinada a espargir-se pelo mundo inteiro, a triunfar do paganismo e a dar a Abraão uma posteridade espiritual tão numerosa quanto as estrelas do firmamento. Entretanto, abandonando de todo a idolatria, os judeus desprezaram a lei moral, para se aferrarem ao mais fácil: a prática do culto exterior. O mal chegara ao cúmulo; a nação, além de escravizada, era esfacelada pelas facções e dividida pelas seitas; a incredulidade atingira mesmo o santuário.

Foi então que apareceu Jesus, enviado para os chamar à observância da Lei e para lhes rasgar os horizontes novos da vida futura. Dos primeiros a serem convidados para o grande banquete da fé universal, eles repeliram a palavra do Messias celeste e o imolaram. Perderam assim o fruto que teriam colhido da iniciativa que lhes coubera. Fora, contudo, injusto acusar-se o povo inteiro de tal estado de coisas. A responsabilidade tocava principalmente aos fariseus e saduceus, que sacrificaram a nação por efeito do orgulho e do fanatismo de uns e pela incredulidade dos outros. São, pois, eles, sobretudo, que Jesus identifica nos convidados que recusam comparecer ao festim das bodas. Depois, acrescenta: "Vendo isso, o Senhor mandou convidar a todos os que fossem encontrados nas encruzilhadas, bons e maus". Queria dizer desse modo que a palavra ia ser pregada a todos os outros povos, pagãos e idólatras, e estes, acolhendo-a, seriam admitidos ao festim, em lugar dos primeiros convidados. Mas não basta a ninguém ser convidado; não basta dizer-se cristão, nem sentar-se à mesa para tomar parte no banquete celestial. É preciso, antes de tudo e sob condição expressa, estar revestido da túnica nupcial, isto é, ter puro o coração e cumprir a lei segundo o espírito. Ora, a lei toda se contém nestas palavras: Fora da caridade não há salvação. Entre todos, porém, que ouvem a palavra divina, quão poucos são os que a guardam e a aplicam proveitosamente! Quão poucos se tornam dignos de entrar no reino dos céus! Eis por que disse Jesus: Chamados haverá muitos; poucos, no entanto, serão os escolhidos. (Obra citada, cap. XVIII, itens 1 e 2.)

99. Podemos considerar discípulos de Jesus as pessoas que passam os dias em prece, mas não são com isso nem melhores, nem mais caridosos, nem mais tolerantes? 

Não, porquanto, do mesmo modo que os fariseus, tais pessoas têm a prece nos lábios e não no coração. Pela forma poderão impor-se aos homens; não, porém, a Deus. Em vão dirão eles a Jesus: "Senhor! não profetizamos, isto é, não ensinamos em teu nome; não expulsamos em teu nome os demônios; não comemos e bebemos contigo?" Ele lhes responderá: "Não sei quem sois; afastai-vos de mim, vós que cometeis iniquidades, vós que desmentis com os atos o que dizeis com os lábios, que caluniais o vosso próximo, que espoliais as viúvas e cometeis adultério. Afastai-vos de mim, vós cujo coração destila ódio e fel, que derramais o sangue dos vossos irmãos em meu nome, que fazeis corram lágrimas, em vez de secá-las. Para vós, haverá prantos e ranger de dentes, porquanto o reino de Deus é para os que são brandos, humildes e caridosos. Não espereis dobrar a justiça do Senhor pela multiplicidade das vossas palavras e das vossas genuflexões. O caminho único que vos está aberto, para achardes graça perante ele, é o da prática sincera da lei de amor e de caridade". (Obra citada, cap. XVIII, itens 6, 7 e 9.)

100. Qual o significado do ensinamento: "Muito se pedirá a quem muito foi dado"? 

Essas palavras indicam que aquele que muito sabe tem maior responsabilidade, comparado aos que nada ou pouco sabem. Nesse sentido, quem quer que conheça os preceitos do Cristo e não os pratica torna-se, certamente, culpado, porque nada poderá alegar em seu favor no tribunal da própria consciência. Aos espíritas, pois, muito será pedido, porque muito hão recebido; mas, em compensação, aos que houverem aproveitado, muito será dado. (Obra citada, cap. XVIII, itens 10 a 12.)

101. Como se reconhecem os verdadeiros cristãos? 

É pelas suas obras que se reconhecem os verdadeiros cristãos. (Obra citada, cap. XVIII, item 16.)

102. Quais são as montanhas que a fé pode transportar? 

As montanhas que a fé transporta são as dificuldades, as resistências e a má vontade. Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas são outras tantas montanhas que barram o caminho a quem trabalha pelo progresso da Humanidade. A fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas como nas grandes. (Obra citada, cap. XIX, itens 1 e 2.)

103. A fé pode auxiliar o processo da cura das enfermidades?

Sim. O poder da fé se demonstra, de modo direto e especial, na ação magnética; por seu intermédio, o homem atua sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma impulsão por assim dizer irresistível, podendo operar esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente por prodígios, mas que não passam de efeito de uma lei natural. (Obra citada, cap. XIX, item 5.)

104. Como Kardec define fé inabalável? 

Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Em assentando no erro, cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana.

A fé necessita de uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega já não é deste século. Não admitindo provas, ela deixa no espírito alguma coisa de vago, que dá nascimento à dúvida.

A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra.

Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade. (Obra citada, cap. XIX, itens 6, 7 e 12.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 12 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/02/o-evangelho-segundo-o-espiritismo-allan.html

 

 

 

 

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