quinta-feira, 15 de abril de 2021

 



O Céu e o Inferno

 

Allan Kardec

 

Parte 3

 

Continuamos o estudo metódico do livro “O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 1ª edição da tradução de João Teixeira de Paula publicada pela Lake.

Este estudo será publicado sempre às quintas-feiras.

Caso o leitor queira ter em mãos o texto consolidado dos estudos relativos à presente obra, para acompanhar, pari passu, o presente estudo, basta clicar em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN e, em seguida, no verbete "O Céu e o Inferno”.

Eis as questões de hoje:

 

17. Quando surgiu o purgatório na teologia católica e o que ele compreende exatamente? 

O purgatório foi admitido pela Igreja no ano de 593. Trata-se de um dogma mais racional e mais conforme com a justiça de Deus que o inferno, porque estabelece penas menos rigorosas e resgatáveis para as faltas de gravidade mediana. Na concepção católica, o purgatório seria um inferno menos tenebroso, visto que as almas aí também ardem, embora em fogo mais brando. As almas do purgatório não se livram dele por efeito do seu adiantamento, mas em virtude das preces que se dizem ou que se mandam dizer em sua intenção, do que se originaram muitos abusos, visto que as preces pagas transformaram o purgatório em mina mais rendosa que o inferno. Como sabemos, o purgatório deu origem ao comércio escandaloso das indulgências, por intermédio das quais se vende a entrada para o céu. Esse abuso foi a causa primária da Reforma, o que levou Lutero a rejeitá-lo. (O Céu e o Inferno, Primeira Parte, cap. V, itens 1 a 3.)

18. Qual é a causa das misérias terrenas, segundo o Espiritismo?

As misérias terrenas decorrem necessariamente das imperfeições da alma, pois se esta fosse perfeita não cometeria faltas nem teria de sofrer-lhes as consequências. O homem que na Terra fosse em absoluto sóbrio e moderado, por exemplo, não padeceria enfermidades oriundas de excessos. O mais das vezes ele é desgraçado por sua própria culpa; contudo, se é imperfeito, é porque já o era antes de vir à Terra, expiando não somente faltas atuais, mas faltas anteriores não resgatadas. Repara, então, em uma vida de provações o que a outrem fez sofrer em anterior existência. As vicissitudes que experimenta são, por sua vez, uma correção temporária e uma advertência quanto às imperfeições que lhe cumpre eliminar de si, a fim de evitar outros males e progredir para o bem. (Obra citada, Primeira Parte, cap. V, itens 3 e 4.)

19. A duração da expiação do Espírito culpado é eterna?

Não. O prazo da expiação está subordinado ao melhoramento do culpado. O Espiritismo não nega, antes confirma, a penalidade futura. O que ele destrói é o inferno localizado com suas fornalhas e penas irremissíveis. Seja qual for a duração do castigo, na vida espiritual ou na Terra, onde quer que se verifique, ela tem sempre um termo, próximo ou remoto. (Obra citada, Primeira Parte, cap. V, itens 7 e 8.)

20. O Espiritismo nega a existência do purgatório?

Não o nega, e diz mais: que nele nos achamos, pois é em um planeta como a Terra – de provas e expiações – que expiamos os equívocos, os erros e os males que cometemos. Segundo o Espiritismo, não há para o Espírito mais que duas alternativas, a saber: punição temporária e proporcional à culpa, e recompensa graduada segundo o mérito. Repele o Espiritismo a terceira alternativa: a eterna condenação. A palavra purgatório sugere a ideia de um lugar circunscrito: eis por que mais naturalmente se aplica à Terra do que ao Espaço infinito onde erram os Espíritos sofredores, e tanto mais quanto a natureza da expiação terrena tem os caracteres da verdadeira expiação.  (Obra citada, Primeira Parte, cap. V, itens 8 a 10.)

21. De onde se originou a crença na eternidade das penas futuras? 

Quanto mais próximo do estado primitivo, mais material é o homem e isso tem influência na sua concepção a respeito do Criador. Um Deus manso e cordato não poderia ser Deus, porque sem meios com que se fazer obedecer. A vingança implacável e os castigos terríveis e eternos nada tinham, pois, de incompatível com a ideia que se fazia de Deus e não lhes repugnavam à razão. Ora, como eram pessoas implacáveis nos seus ressentimentos, cruéis para com os inimigos e inexoráveis para os vencidos, Deus, que lhes era superior, deveria ser ainda mais terrível.

Para tais homens eram, pois, necessárias crenças religiosas assimiladas à sua natureza rústica, uma vez que uma religião toda espiritual, toda amor e caridade, não poderia aliar-se à brutalidade de seus costumes e paixões. Não devemos, assim, censurar Moisés e sua legislação draconiana, nem o fato de nos ter apresentado um Deus vingativo, visto que a época assim o exigia. A crença na eternidade das penas foi, em face disso, mera consequência das condições em que tal doutrina passou a ser ensinada. (Obra citada, Primeira Parte, cap. VI, itens 2, 3 e 20.)

22. Qual o principal argumento dos que defendem o dogma das penas eternas e como o Espiritismo o refuta? 

O principal argumento invocado em seu favor: "É doutrina sancionada entre os homens que a gravidade da ofensa é proporcionada à qualidade do ofendido. O crime de lesa-majestade, por exemplo, o atentado à pessoa de um soberano, sendo considerado mais grave do que o fora em relação a qualquer súdito, é, por isso mesmo, mais severamente punido. E sendo Deus muito mais que um soberano, pois é infinito, deve ser infinita a ofensa a Ele, como infinito o respectivo castigo, isto é, eterno”.

A refutação a tal argumento baseia-se nos próprios atributos de Deus: eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom, infinito em todas as perfeições. Ora, um ser infinitamente bom e justo não pode ter a menor parcela de maldade. Admitindo-se que uma ofensa temporária à Divindade pudesse ser infinita, Deus, vingando-se por um castigo infinito, seria logo infinitamente vingativo; e sendo Deus infinitamente vingativo não pode ser infinitamente bom e misericordioso, visto como um destes atributos exclui o outro. Se não for infinitamente bom não é perfeito; e não sendo perfeito deixa de ser Deus. Se Deus é inexorável para o culpado que se arrepende, não é misericordioso; e se não é misericordioso, deixa de ser infinitamente bom.

E por que daria Deus aos homens uma lei de perdão, se Ele próprio não perdoasse? Resultaria daí que o homem que perdoa aos seus inimigos e lhes retribui o mal com o bem seria melhor que Deus, surdo ao arrependimento dos que o ofendem, negando-lhes por todo o sempre o mais ligeiro carinho. (Obra citada, Primeira Parte, cap. VI, itens 10, 12, 15, 16 e 17.)

23. Se o Espírito pode progredir, o progresso é lei natural. O dogma da eternidade das penas é compatível com a lei do progresso? 

Não. O dogma da eternidade das penas é irracional e incompatível com a lei do progresso. (Obra citada, Primeira Parte, cap. VI, itens 17, 18 e 19.)

24. A carne é fraca, ou a alma é que é fraca? 

A expressão a carne é fraca diz respeito à fragilidade dos homens, isto é, aos Espíritos quando encarnados, sujeitos a todas as influências possíveis, sob as quais muitos sucumbem. A carne só é fraca porque o Espírito é fraco, o que inverte a questão, visto que deixa ao ser pensante, e não ao seu envoltório físico, a responsabilidade por todos os seus atos. A carne, destituída de pensamento e vontade, não pode prevalecer jamais sobre o Espírito, que é o ser que pensa e obra. (Obra citada, Primeira Parte, cap. VII, parte inicial.)

 

 

Observação: Para acessar a 2ª Parte deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/04/blog-post_08.html

 

 

 

 

 

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