A Gênese
Allan Kardec
Parte 4
Continuamos o estudo metódico do livro “A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 36ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira, conforme tradução feita por Guillon Ribeiro.
Este estudo é publicado sempre às
quintas-feiras.
Eis as questões de hoje:
25. Se Deus está em toda
parte, por que não o vemos? Vê-lo-emos quando deixarmos a Terra?
Não vemos Deus por serem limitadas as percepções dos nossos órgãos
visuais, inaptos à visão de certas coisas, mesmo materiais. Unicamente com a
visão espiritual é que podemos ver os Espíritos e as coisas do mundo imaterial.
Somente a nossa alma, portanto, pode ter a percepção de Deus, mas unicamente os
Espíritos que atingiram o mais alto grau de desmaterialização o podem perceber
e, por conseguinte, o verão. (A Gênese,
cap. II, itens 31 a 36.)
26. Por que existe a
dor?
A dor existe na vida porque é ela o aguilhão que impele o Espírito para a
frente, para a senda do progresso. Mas é preciso compreender que muitos males
e, portanto, muitas dores são decorrentes dos nossos vícios, provêm do nosso
orgulho, do egoísmo, da ambição, da cupidez e dos excessos. Aí se radica a
causa das guerras e das calamidades que estas acarretam, bem como das
dissensões, das injustiças, da opressão do fraco pelo forte e da maior parte
das enfermidades. Se o homem se conformasse rigorosamente com as leis divinas,
não há duvidar de que se pouparia aos mais agudos males e viveria ditoso na
Terra. Se assim não procede, em virtude do seu livre-arbítrio, sofre então as
consequências do seu proceder e surge, então, a dor como medida necessária
decorrente dos seus próprios atos. (Obra citada, cap. III, itens 5 a 7.)
27. Que definição se
pode dar do mal e de que ele decorre?
O mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência do calor. Onde não
existe o bem, forçosamente existe o mal. Não praticar o mal já é um princípio
do bem. Deus somente quer o bem; só do homem procede o mal. Se na criação
houvesse um ser preposto ao mal, ninguém o poderia evitar; mas, tendo o homem a
causa do mal em si mesmo, tendo simultaneamente o livre-arbítrio e por guia as
leis divinas, evitá-lo-á sempre que o queira e, para isso, basta-lhe cumprir as
leis divinas. (Obra citada, cap. III, itens 8 e 9.)
28. Qual a origem das
paixões?
As raízes de todas as paixões e de todos os vícios acham-se no instinto
de conservação, instinto que se encontra em toda a pujança nos animais e nos
seres primitivos mais próximos da animalidade, nos quais ele exclusivamente
domina, sem o contrapeso do senso moral, por não ter ainda o ser nascido para a
vida intelectual. Todas as paixões têm uma utilidade providencial, visto que, a
não ser assim, Deus teria feito coisas inúteis e até nocivas. No abuso é que
reside o mal, e o homem abusa em virtude do seu livre-arbítrio. Mais tarde,
esclarecido pelo seu próprio interesse, livremente escolherá entre o bem e o
mal. (Obra citada, cap. III, itens 10, 18 e 19.)
29. Que diferença existe
entre instinto e inteligência?
Nos atos instintivos não há reflexão, nem combinação, nem premeditação. É
assim que a planta procura o ar, se volta para a luz, dirige suas raízes para a
água e para a terra nutriente; que a flor se abre e fecha alternativamente,
conforme se lhe faz necessário; que as plantas trepadeiras se enroscam em torno
daquilo que lhes serve de apoio, ou se lhe agarram com as gavinhas. A
inteligência se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados,
combinados, de acordo com a oportunidade das circunstâncias. É
incontestavelmente um atributo exclusivo da alma.
Todo ato maquinal é instintivo; o ato que denota reflexão, combinação,
deliberação é inteligente. Um é livre, o outro não o é. O instinto é guia
seguro, que nunca se engana; a inteligência, pelo simples fato de ser livre,
está, por vezes, sujeita a errar. Ao ato instintivo falta o caráter do ato
inteligente; revela, entretanto, uma causa inteligente, essencialmente apta a
prever. (Obra citada, cap. III, itens 11 e 12.)
30. É sábia a lei
natural que determina a destruição recíproca dos seres vivos?
Sim, é sábia, como todas as leis divinas o são. Para quem apenas vê a
matéria e restringe à vida presente a sua visão, há de tal coisa, com efeito,
parecer uma imperfeição na obra divina. É que, em geral, os homens apreciam a
perfeição de Deus do ponto de vista humano. Medindo-lhe a sabedoria pelo juízo
que dela formam, pensam que Deus não poderia fazer coisa melhor do que eles
próprios fariam. Não lhes permitindo sua curta visão apreciar o conjunto, não
compreendem que um bem real possa decorrer de um mal aparente. Só o
conhecimento do princípio espiritual, considerado em sua verdadeira essência, e
o da grande lei de unidade, que constitui a harmonia da criação, pode dar ao
homem a chave desse mistério e mostrar-lhe a sabedoria providencial e a
harmonia, exatamente onde apenas vê uma anomalia e uma contradição. (Obra
citada, cap. III, item 20.)
31. Quais são o motivo e
a utilidade da lei de destruição?
Duas utilidades se destacam na lei de destruição. A primeira utilidade,
puramente física, é esta: os corpos orgânicos só se conservam com o auxílio das
matérias orgânicas, que contêm os elementos nutritivos necessários à
transformação deles. Como instrumentos de ação para o princípio inteligente,
precisando os corpos ser constantemente renovados, a Providência faz que sirvam
ao seu mútuo entretenimento. Eis por que os seres se nutrem uns dos outros.
Mas, então, é o corpo que se nutre do corpo, sem que o Espírito se aniquile ou
altere.
Uma segunda utilidade advém da necessidade da luta para o desenvolvimento
do Espírito. É na luta que ele exercita suas faculdades. O ser que ataca em
busca do alimento e o que se defende para conservar a vida usam de habilidade e
inteligência, aumentando, em consequência, suas forças intelectuais. Um dos
dois sucumbe; mas que foi o que um tirou do outro? O corpo de carne, nada mais.
Posteriormente, a alma daquele ser – que jamais morre – tomará outra veste
carnal, ou seja, reencarnará. (Obra citada, cap. III, itens 21 a 24.)
32. Por que os primeiros
livros dos povos antigos foram religiosos?
O motivo disso está no fato de que a história da origem de quase todos os
povos antigos se confunde com a da religião deles, donde o terem sido
religiosos seus primeiros livros. Ora, como todas as religiões se ligam ao
princípio das coisas, que é também o da Humanidade, elas deram, sobre a
formação e o arranjo do Universo, explicações em concordância com o estado dos
conhecimentos da época e de seus fundadores. Daí resultou que os primeiros
livros sagrados foram ao mesmo tempo os primeiros livros de ciência, como
foram, durante largo período, o código único das leis civis. (Obra citada, cap.
IV, item 1.)
Observação: Para acessar
a Parte 3 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/07/blog-post_29.html
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