Fatos Espíritas
William Crookes
Parte 16
Damos prosseguimento nesta edição ao estudo metódico e sequencial do clássico Fatos Espíritas, de William Crookes, obra publicada em 1874, cujo título no original inglês é Researches in the phenomena of the spiritualism.
Nosso propósito é que este estudo
sirva para o leitor como uma forma de iniciação ao estudo dos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas
encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Embora tenha sido um dos signatários do Relatório
firmado pelos sábios, a que conclusões chegou Charles Richet a respeito dos
fenômenos observados?
B. Que fatos relativos aos fenômenos de materialização
foram vistos e relatados pelo Sr. Aksakof?
C. Para evitar fraudes, que providência foi adotada na
experiência realizada em Belper (Inglaterra)?
Texto para
leitura
280. Conclusões de Charles Richet – E agora, que se pode concluir? – diz
o sábio professor, depois de ter narrado minuciosamente as principais
experiências. Pois não basta enumerar as experiências, é preciso tirar-lhes as
consequências. As palavras adiante transcritas são de autoria de Charles
Richet.
281. Se tivéssemos obtido um resultado
inteiramente decisivo, eu não hesitaria um instante em proclamar publicamente a
minha opinião, pouco me incomodando com o desfavor público, pois não seria a
primeira vez que me achasse em desacordo com a maioria, mesmo quase com a
unanimidade dos meus colegas; as dúvidas, que não temo confessar, são, pois,
dúvidas reais, não dúvidas de timidez ou de hesitação em meu pensamento.
282. Certamente, se se tratasse de
provar algum fato simples e natural, quase evidente a priori, ou não
contradizendo os dados científicos vulgares, eu estaria plenamente satisfeito:
as provas seriam largamente satisfatórias e me pareceria quase inútil
continuar, tão brilhantes e conclusivos parecem ser os fatos acumulados nessas
sessões; mas trata-se de demonstrar fenômenos verdadeiramente absurdos,
contrários a tudo o que os homens, o vulgo e os sábios têm admitido há milhares
de anos.
283. É um desmoronamento completo de
todo o pensamento humano, de todas as suas experiências; é um mundo novo que se
abre diante de nós e, por consequência, não é possível ser muito reservado na
afirmação desses estranhos e assombrosos fenômenos.
284. Por minha parte admito que, se
Eusápia engana, o faz não propositadamente, mas sim sem o saber, pois há na
produção desses fenômenos, mesmo quando não fossem sinceros, uma parte bastante
grande de inconsciência.
285. Quanto à opinião das pessoas que
acompanharam Eusápia durante muito tempo, seria de grande valor se se tratasse
de fenômenos vulgares e ordinários; mas os fatos de que se trata são
surpreendentes demais para que a crença de uma pessoa, não habituada à
experimentação, determine a minha própria crença.
286. Estou bem certo da boa-fé do Sr.
Chiaia e de outros homens distintos que têm, durante meses e anos, observado
Eusápia, mas a sua perspicácia não me está demonstrada e posso falar assim sem
os magoar, pois desconfio da minha própria.
287. É preciso, antes de tudo, afastar
a hipótese de um comparsa. E, se há fraude, é Eusápia, só, quem a executa, sem
ser ajudada por ninguém e sem que ninguém perceba. Ademais, se essa fraude
existe, é feita sem aparelho, por meios muito simples, quase infantis. Eusápia
não traz nenhum objeto consigo.
288. Resta então a única hipótese
possível, a de Eusápia enganar, remexendo os objetos com os seus pés ou com as
mãos, depois de ter desprendido as mãos e pés das mãos e pés dos seus vizinhos.
Se esta hipótese não explica, é racional crer-se na realidade dos fenômenos.
289. Pois bem, confesso, essa
explicação por movimentos dos seus pés e mãos não me satisfaz. Em algumas
experiências – por exemplo, a da cadeira que veio detrás da cortina colocar-se
sobre o braço do Sr. Fínzi, em meia escuridão – não posso conceber como a mão
de Eusápia pôde desprender-se e como, estando desprendida, pôde executar esses
movimentos. Declaro-me incapaz de compreender. Mas, por outro lado, trata-se de
fatos tão absurdos que é bom não se satisfazer rapidamente. As provas dadas
seriam bem suficientes para uma experiência de Química; para uma experiência de
Espiritismo não bastam...
290. Em definitivo: por mais absurdas
e ineptas que sejam as experiências feitas por Eusápia, parece-me bem difícil
atribuir os fenômenos produzidos à fraude consciente, ou inconsciente, ou a uma
série de fraudes. Todavia, a prova formal, irrecusável, de que não é uma fraude
de Eusápia e uma ilusão nossa, não a temos. É preciso, pois, continuar de novo
até obtermos uma prova irrecusável. (Charles
Richet) (Veja a nota aposta no final deste texto.)
291. Moldes dos pés de Espíritos materializados com o auxílio da parafina
– Eis na sequência o que nos diz a esse respeito o Sr. Aksakof, na sua já
citada obra.
292. Essas experiências podem ser
divididas em quatro categorias, segundo as condições em que se produzem:
1) O médium está isolado; o agente
oculto fica invisível.
2) O médium está em evidência, o
agente oculto está invisível.
3) O médium está isolado; o agente
oculto aparece.
4) O agente e o médium são
simultaneamente visíveis aos espectadores.
293. O agente está visível, o médium está isolado – Na experiência
realizada em Belper (Inglaterra) o Sr. W. P. Adshead empregou uma gaiola,
construída especialmente para nela ser encerrada a médium, durante as sessões
de materialização, a fim de resolver definitivamente esta questão: a figura
materializada é ou não uma pessoa distinta da médium? Essa questão foi
resolvida afirmativamente.
294. A médium, a Srta. Wood, foi
colocada em uma gaiola, cuja porta se fechou com parafusos. Foi nessas
condições que se viu aparecerem dois fantasmas: o de uma mulher conhecida pelo
nome de Meggie e o de um homem chamado Benny.
295. Ambos saíram do gabinete; em
seguida materializaram-se e desmaterializaram-se diante dos assistentes e,
enfim, procederam sucessivamente à moldagem de um dos seus pés, na parafina.
296. Foi Meggie quem primeiramente
tentou a operação. Saindo do gabinete, ela aproximou-se do Sr. Smedley e
colocou a mão nas costas da cadeira por ele ocupada. O Sr. Smedley perguntou se
o Espírito precisava da cadeira; Meggie fez com a cabeça um sinal afirmativo.
297. Ele levantou-se e colocou a
cadeira diante de dois baldes, em um dos quais havia água quente com uma camada
de parafina derretida na superfície, e no outro água fria. Meggie sentou-se,
ergueu seus longos vestidos e começou a mergulhar o pé esquerdo
alternativamente na parafina derretida e na água fria, continuando esse
movimento até que o molde ficasse concluído.
298. O fantasma estava tão bem
encoberto pelas suas vestimentas, que não nos foi mais possível reconhecer o
operador. Um dos assistentes, iludido pela vivacidade dos movimentos, exclamou:
“É Benny”. Então a aparição colocou a mão sobre a do Sr. Smedley, como para lhe
dizer: “Toque para saber quem sou”. “É Meggie, que acaba de me estender a sua
pequena mão”, proferiu o Sr. Smedley.
299. Quando a camada de parafina
adquiriu espessura desejada, Meggie descansou o pé esquerdo sobre o joelho
direito e ficou nessa posição cerca de dois minutos; depois elevou o molde,
segurou-o algum tempo no ar e deu-lhe uma pancada, de maneira que todos os
presentes pudessem vê-lo e ouvir as pancadas; depois, a meu pedido, mo entregou
e eu o depositei em um lugar seguro.
300. Meggie tentou em seguida a mesma
experiência com o pé direito, mas, depois de o ter molhado duas ou três vezes,
levantou-se, provavelmente em consequência do esgotamento das suas forças,
retirou-se para o gabinete e não mais voltou. A parafina que tinha aderido a
seu pé direito foi em seguida achada sobre o soalho do gabinete.
Respostas às
questões preliminares
A. Embora tenha sido um dos signatários do Relatório
firmado pelos sábios, a que conclusões chegou Charles Richet a respeito dos
fenômenos observados?
Se podemos chamar a isso de conclusão,
eis o que o ilustre sábio francês declarou: Por mais absurdas e ineptas que
sejam as experiências feitas por Eusápia, parece-me bem difícil atribuir os
fenômenos produzidos à fraude consciente, ou inconsciente, ou a uma série de
fraudes. Todavia, a prova formal, irrecusável, de que não é uma fraude de
Eusápia e uma ilusão nossa, não a temos. É preciso, pois, continuar de novo até
obtermos uma prova irrecusável. (Fatos
Espíritas – Conclusões de Charles Richet.)
B. Que fatos relativos aos fenômenos de materialização
foram vistos e relatados pelo Sr. Aksakof?
Em sua obra citada por William
Crookes, Aksakof dividiu tais experiências em quatro categorias, segundo as
condições em que se produzem: 1) O médium está isolado; o agente oculto fica
invisível. 2) O médium está em evidência, o agente oculto está invisível. 3) O
médium está isolado; o agente oculto aparece. 4) O agente e o médium são
simultaneamente visíveis aos espectadores. Mas ele se deteve, em especial, no
terceiro caso, em que o Espírito materializado aparece em local diferente de
onde se encontra o médium. (Obra citada - Moldes dos pés de Espíritos
materializados com o auxílio da parafina.)
C. Para evitar fraudes, que providência foi adotada na
experiência realizada em Belper (Inglaterra)?
Na aludida experiência o Sr. W. P.
Adshead empregou uma gaiola, construída especialmente para nela ser encerrada a
médium, durante as sessões de materialização, a fim de resolver definitivamente
esta questão: a figura materializada é ou não uma pessoa distinta da médium?
Essa questão foi resolvida afirmativamente. A médium, a Srta. Wood, foi
colocada em uma gaiola, cuja porta se fechou com parafusos. Foi nessas
condições que se viu aparecerem dois fantasmas: o de uma mulher conhecida pelo
nome de Meggie e o de um homem chamado Benny. Ambos saíram do gabinete; em
seguida materializaram-se e desmaterializaram-se diante dos assistentes e,
enfim, procederam sucessivamente à moldagem de um dos seus pés, na parafina.
(Obra citada - O agente está visível, o médium está isolado.)
Nota da Redação:
Esse receio ou indecisão de Charles
Richet em se pronunciar sobre a veracidade dos fatos ocorridos em sua presença dá
sentido ao conteúdo da mensagem intitulada “A passagem de Richet”, escrita no
dia 21 de janeiro de 1936 por Humberto de Campos (Espírito).
Observação:
Para acessar a Parte 15 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/09/fatos-espiritas-william-crookes-parte.html
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nos propicia. |
Richet é sem dúvida, um dos principais nomes da investigação científica sobre os fenômenos espíritas. Em seu livro "A grande esperança", depois de narrar seus sérios estudos, "titubeia" nas conclusões, o que nos deixa um pouco decepcionados. O texto do Humberto de Campos faz então, todo sentido.
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