A Gênese
Allan Kardec
Parte 10
Continuamos o estudo metódico do livro “A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 36ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira, conforme tradução feita por Guillon Ribeiro.
Este estudo é publicado sempre às
quintas-feiras.
Eis as questões de hoje:
73. As espécies animais
saíram de um casal primitivo ou de muitos casais germinados em diversos
lugares?
A segunda hipótese é a mais provável. Pode-se mesmo dizer que ressalta da
observação. Com efeito, o estudo das camadas geológicas atesta, nos terrenos de
idêntica formação, e em proporções enormes, a presença das mesmas espécies em
pontos do globo muito afastados uns dos outros. Essa multiplicação tão
generalizada e, de certo modo, contemporânea, fora impossível com um único tipo
primitivo. Tudo, pois, concorre a provar que houve criação simultânea e
múltipla dos primeiros casais de cada espécie animal e vegetal. (A Gênese, cap. X, itens 1 e 2.)
74. Como se compõem os
corpos materiais?
A Química considera elementares umas tantas substâncias, como o oxigênio,
o hidrogênio, o nitrogênio, o carbono, o cloro, o iodo, o flúor, o enxofre, o
fósforo e todos os metais. Combinando-se, essas substâncias formam os corpos
compostos: os óxidos, os ácidos, os álcalis, os sais e as inúmeras variedades
que resultam da combinação destes. A combinação de dois corpos para formar um
terceiro exige especial concurso de circunstâncias: seja um determinado grau de
calor, de sequidão, ou de umidade; seja o movimento ou o repouso; seja uma
corrente elétrica etc. Se essas circunstâncias não se verificarem, a combinação
não se operará. Quando há combinação, os corpos componentes perdem suas
propriedades características, enquanto o composto que deles resulta adquire
outras, diferentes das primeiras. É assim, por exemplo, que o oxigênio e o
hidrogênio, que são gases invisíveis, quimicamente combinados formam a água,
que é líquida, sólida, ou vaporosa, conforme a temperatura. Na água, a bem
dizer, já não há oxigênio nem hidrogênio, mas um corpo novo. Decomposta essa
água, os dois gases, tornados livres, recobram suas propriedades: já não há
água.
A composição e decomposição dos corpos se dão em virtude do grau de
afinidade que os princípios elementares guardam entre si. A formação da água,
por exemplo, resulta da afinidade recíproca que existe entre o oxigênio e o
hidrogênio; mas, se se puser em contacto com a água um corpo que tenha com o
oxigênio mais afinidade do que a que este tem com o hidrogênio, a água se
decompõe: o oxigênio é absorvido e o hidrogênio se liberta. Já não haverá água.
Os corpos compostos se formam sempre em proporções definidas, isto é,
pela combinação de uma certa quantidade dos princípios constituintes. Assim,
para formar a água, são necessárias uma parte de oxigênio e duas de hidrogênio.
Se duas partes de oxigênio forem combinadas com duas de hidrogênio, em vez de
água ter-se-á o deutóxido de hidrogênio, líquido corrosivo, formado, no
entanto, dos mesmos elementos que entram na composição da água, porém noutra
proporção.
Tal, em poucas palavras, a lei que preside à formação de todos os corpos
da Natureza. A inumerável variedade deles resulta de um número pequeno de
princípios elementares combinados em proporções diferentes. Por exemplo: o
oxigênio, combinado em certas proporções, com o carbono, o enxofre, o fósforo,
forma os ácidos carbônico, sulfúrico, fosfórico; o oxigênio e o ferro formam o
óxido de ferro ou ferrugem; o oxigênio e o chumbo, ambos inofensivos, dão
origem aos óxidos de chumbo, tais como o litargírio, o alvaiade e o mínio, que
são venenosos. (Obra citada, cap. X, itens 3 a 8.)
75. A Química é
importante para compreendermos a Gênese do globo?
Sim. As experiências mostram-nos quanto a Química é necessária para a
inteligência da Gênese. Antes de se conhecerem as leis da afinidade molecular,
não era possível compreender-se a formação da Terra. A análise química mostra
que todas as substâncias vegetais e animais são compostas dos mesmos elementos
que os corpos inorgânicos. Desses elementos, são o oxigênio, o hidrogênio, o
nitrogênio e o carbono os que desempenham papel principal. Os outros entram
acessoriamente. (Obra citada, cap. X,
itens 9, 10 e 12.)
76. Como foram formados
os corpos dos primeiros seres vivos?
A lei que preside à formação dos minerais conduz naturalmente à formação
dos corpos orgânicos. Como vimos, a Química mostra que todas as substâncias
vegetais e animais são compostas dos mesmos elementos que os corpos
inorgânicos. Alguns exemplos comuns darão a compreender as transformações que
se operam no reino orgânico, pela só modificação dos elementos constitutivos.
No suco da uva, não há vinho, nem álcool, mas apenas água e açúcar. Quando o
suco fica maduro e são propícias as condições, produz-se nele um trabalho
íntimo a que se dá o nome de fermentação. Por esse trabalho, uma parte do
açúcar se decompõe; o oxigênio, o hidrogênio e o carbono se separam e combinam
nas proporções necessárias a produzir o álcool, de sorte que, em se bebendo
suco de uva, não se bebe realmente álcool, pois que este ainda não existe. Ele
se forma das partes constituintes da água e do açúcar, sem que haja, em suma,
uma molécula a mais ou a menos.
No pão e nos legumes que se comem, não há certamente carne, nem sangue,
nem osso, nem bílis, nem matéria cerebral; entretanto, esses mesmos alimentos,
decompondo-se e recompondo-se pelo trabalho da digestão, produzem aquelas
diferentes substâncias tão só pela transmutação de seus elementos
constitutivos.
O que diariamente se passa às nossas vistas pode colocar-nos na pista do
que se passou na origem dos tempos, porquanto as leis da Natureza não variam.
Visto que são os mesmos os elementos constitutivos dos seres orgânicos e
inorgânicos; que os sabemos a formar incessantemente, em dadas circunstâncias,
as pedras, as plantas e os frutos, podemos concluir daí que os corpos dos
primeiros seres vivos se formaram, como as primeiras pedras, pela reunião das
moléculas elementares, em virtude da lei de afinidade, à medida que as
condições da vitalidade do globo foram propícias a essa ou àquela espécie. (Obra
citada, cap. X, itens 12 a 15.)
77. Que é princípio
vital?
Há na matéria orgânica um princípio especial, inapreensível e que ainda
não pode ser definido: o princípio vital. Ativo no ser vivente, esse princípio
se acha extinto no ser morto; mas nem por isso deixa de dar à substância
propriedades que a distinguem das substâncias inorgânicas. Será o princípio
vital alguma coisa particular, que tenha existência própria? Ou, integrado no
sistema da unidade do elemento gerador, apenas será um estado especial, uma das
modificações do fluido cósmico, pela qual este se torne princípio de vida?
É neste último sentido que as comunicações espíritas resolvem a questão.
Seja, porém, qual for a opinião que se tenha sobre a natureza do princípio
vital, o certo é que ele existe, pois que se lhe apreciam os efeitos. (Obra
citada, cap. X, itens 16 a 18.)
78. Do ponto de vista
corpóreo, que é o homem?
Do ponto de vista corpóreo e puramente anatômico, o homem pertence à
classe dos mamíferos, dos quais unicamente difere por alguns matizes na forma
exterior. Quanto ao mais, a mesma composição de todos os animais, os mesmos
órgãos, as mesmas funções e os mesmos modos de nutrição, de respiração, de
secreção, de reprodução. Ele nasce, vive e morre nas mesmas condições e, quando
morre, seu corpo se decompõe, como tudo o que vive. Não há, em seu sangue, na
sua carne, em seus ossos, um átomo diferente dos que se encontram no corpo dos
animais. Como estes, ao morrer, restitui à terra o oxigênio, o hidrogênio, o
nitrogênio e o carbono que se haviam combinado para formá-lo; e esses
elementos, por meio de novas combinações, vão formar outros corpos minerais,
vegetais e animais. (Obra citada, cap. X, itens 26 e 27; cap. XI, itens 10 e
14.)
79. Existe um elo na
escala dos seres vivos? o que distingue o homem dos animais é seu corpo ou sua
alma?
Por pouco que se observe a escala dos seres vivos, do ponto de vista do
organismo, é-se forçado a reconhecer que, desde o líquen até a árvore e desde o
zoófito até o homem, há uma cadeia que se eleva gradativamente, sem solução de
continuidade e cujos anéis todos têm um ponto de contacto com o anel
precedente. Acompanhando-se passo a passo a série dos seres, dir-se-ia que cada
espécie é um aperfeiçoamento, uma transformação da espécie imediatamente
inferior. Visto que são idênticas às dos outros corpos as condições do corpo do
homem, química e constitucionalmente; visto que ele nasce, vive e morre da
mesma maneira, também nas mesmas condições que os outros se há de ele ter
formado.
Ainda que isso lhe fira o orgulho, tem o homem que se resignar a não ver
no seu corpo material mais do que o último anel da animalidade na Terra. Aí
está o inexorável argumento dos fatos, contra o qual seria inútil protestar.
Todavia, quanto mais o corpo diminui de valor aos seus olhos, tanto mais cresce
de importância o princípio espiritual. Se o primeiro o nivela ao bruto, o
segundo o eleva a incomensurável altura. Vemos o limite extremo no animal: não
vemos o limite a que chegará o Espírito do homem. Considerando-se, portanto,
apenas a matéria, abstraindo do Espírito, o homem nada tem que o distinga do
animal. Tudo, porém, muda de aspecto, logo que se estabelece distinção entre a
habitação e o habitante. O mesmo se dá com o homem: não é a sua vestidura de
carne que o coloca acima do bruto e faz dele um ser à parte; é o seu ser
espiritual, seu Espírito. (Obra citada, cap. X, itens 28 e 29; cap. XI, item
14.)
80. No que diz respeito
à revelação das leis naturais, qual a diferença entre o Espiritismo e o
materialismo?
O Espiritismo marcha ao lado do materialismo, no campo da matéria; admite
tudo o que o segundo admite; mas avança para além do ponto onde este último
para. O Espiritismo e o materialismo são como dois viajantes que caminham
juntos, partindo de um mesmo ponto; chegados a certa distância, diz um: «Não
posso ir mais longe». O outro prossegue e descobre um novo mundo. Por que,
então, há de o primeiro dizer que o segundo é louco, somente porque, entrevendo
novos horizontes, se decide a transpor os limites onde ao outro convém
deter-se? (Obra citada, cap. X, item 30.)
Observação: Para acessar
a Parte 9 deste estudo, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/09/a-genese-allan-kardec-parte-9.html
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