sábado, 16 de outubro de 2021

 



Nova aventura de Dinis

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília-DF

             

Novamente, da janela, vi meu vizinho dirigir-se ao mercado levando consigo a vontade de contribuir com sua doação semanal. Então, resolvi observar de perto o que ele faria. Dinis seria apenas um desses fanfarrões que incentiva os outros a fazer o bem que ele mesmo não faz? Ou não?... É o que eu iria descobrir.

Para que o vizinho não me identificasse, antes de descer, pus máscara nova e, para não ser traído pelo olhar, coloquei uns óculos pretos da marca Ray Ban, que ainda não usara. Além disso, usei um boné, camisa e short do Flamengo, embora ele saiba que sou torcedor do Fluminense. Devidamente disfarçado, fui à empresa...

Dinis adentrou o mercado, foi direto ao corredor das cestas básicas, pegou um pacote e encaminhou-se para a fila do caixa destinado ao atendimento a idosos, grávidas etc., pois, como eu disse na crônica anterior, somos idosos. Ali chegando, viu que havia três pessoas na fila, mas apenas a terceira era idosa. As duas primeiras, quando muito, estavam na casa dos cinquenta anos de idade, não eram grávidas, portadoras de necessidades especiais e nem levavam ao colo crianças. Uma delas já estava sendo atendida pelo caixa, que nem se deu ao trabalho de conferir a idade das clientes. O idoso, à frente de Dinis, bengala na mão, conduzia um carrinho cheio de compras, e a jovem, antes daquele, carregava dois ou três pequenos volumes.

Uma senhora idosa postou-se atrás de Dinis e, vendo-o com a cesta básica nos braços, perguntou-lhe qual era o preço do pacote. Após ser informada, disse-lhe que gostava de, por vezes, comprar uma cesta básica e doá-la. Dinis, discretamente, respondeu-lhe que fazer o bem é sempre bom. E nada mais disse.

Ao sair do mercado, meu vizinho foi abordado por uma jovem que trazia um bebê no colo e lhe pediu dinheiro. Dinis parou, ajeitou sua cesta básica, e respondeu-lhe:

— Vou ver se tenho algum... — Puxou sua carteira do bolso e, antes de abri-la, a jovem estipulou a quantia que desejava. Demonstrando certa contrariedade, meu amigo deu-lhe o valor solicitado e o seguinte conselho:

— Senhora, quando pedir auxílio financeiro, nunca diga o valor que deseja receber...

Tão logo a jovem mãe afastara-se com a espórtula, aproximei-me de Dinis, identifiquei-me e cumprimentei-o por tudo que o vi fazer. Meu amigo agradeceu-me, mas reconheceu não ter agido bem com a jovem mãe.

— Por que não? Vi quando você lhe deu exatamente o que ela lhe pedira — protestei.

Dinis baixou os olhos tristes e, como se monologasse, concluiu:

— Não devemos, mesmo a título de orientação, repreender quem se humilha nos pedindo ajuda material. Aquela jovem mãe pode ter ouvido meu conselho como uma crítica. Por outro lado, não basta que tiremos do bolso um pequeno valor e o entreguemos a quem nos pede auxílio. É também muito importante que ouçamos essa pessoa, que nos interessemos por sua situação e lhe sejamos solidários até mesmo para tentarmos auxiliá-la com uma ocupação digna, caso isso seja possível.

Agradeci ao meu vizinho amigo e também passei a refletir...

 

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