sábado, 23 de outubro de 2021

 



Entrevista com Kardec sobre a origem do Espiritismo

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília-DF

             

"Vossos velhos sonharão.", afirma o profeta Joel (2:29). Pois não é isso que aconteceu comigo novamente? Desta vez, sonhei que encontrei Allan Kardec caminhando pela rua Sainte-Anne, em Paris. Foi no nº 59 dessa rua, ao lado da passagem Sainte-Anne, que ele, no final de sua vida, morou com Amélie Boudet. Cumprimentamo-nos e, após dizer-lhe que sempre sonhara com esse momento, convidei-o para uma entrevista num café da citada rua.

Entramos, sentamo-nos e, enquanto o garçon nos servia um cafezinho francês com croissant, ele colocou-se à minha disposição, após agradecer-me pela "imerecida honra", como é próprio de sua modéstia. Em seguida, perguntou-me sobre qual assunto eu desejaria saber. Respondi-lhe que gostaria de conhecer os meios de comunicação dos Espíritos observados, experimentados e anotados por ele, que deram origem à Doutrina Espírita.

— Pergunte-me o que desejar, irmão espírita, pois o Senhor autorizou-me a responder-lhe — disse-me o grande missionário gentilmente.

— Obrigado, Kardec. Agradeça ao Senhor por mim — falei-lhe, emocionado —. A primeira pergunta é a seguinte: Como se manifestaram os fenômenos espíritas em sua época?

— Aqui na França, Jó, comecei por observar a movimentação de diversos objetos que, vulgarmente, eram chamados de "dança das mesas ou mesas girantes". Na presença de um médium, a mesa erguia-se e batia com um dos pés, quando o Espírito que a movia desejava assinalar uma letra, ao lhe serem lidas as letras do alfabeto. Desse modo, eram formadas frases em resposta às questões propostas.

— Como se soube que eram Espíritos que respondiam? — perguntei novamente.

— Foram eles mesmo que o disseram, por meio de pancadas dum dos pés da mesa.

— Isso não era muito demorado, Kardec?

— Exatamente. Por isso mesmo, o Espírito indicou outro meio de comunicação: a cesta, à qual se adaptava um lápis e o médium colocava seus dedos sobre sua borda. Desse modo, a cesta movia-se rapidamente e escrevia no papel colocado sob ela com grande velocidade. As mais altas questões filosóficas, morais, metafísicas e psicológicas eram propostas e respondidas pelo lápis adaptado à cesta.

— Por que não se usam mais cestas e pranchetas na comunicação dos Espíritos, professor?

— Porque reconheceu-se que esses objetos eram apenas apêndices para as mãos, meu caro Jó. Desse modo, quando o médium escrevia diretamente com o lápis nas mãos, seu impulso era involuntário e muito mais rápido do que o texto dum escritor normal. Percebeu-se, ainda, que os Espíritos podiam comunicar-se pela palavra, pela audição, pelo tato, pela visão etc. Embora seja rara, até mesmo pela escrita direta, ou seja, sem uso da mão do médium e sem lápis, pode-se obter comunicação dum Espírito numa folha em branco dobrada e fechada numa gaveta. A isso, deu-se o nome de pneumatografia. Há ainda a pneumatofonia, que é a transmissão da voz direta do Espírito que deseja comunicar-se. Mas sobre os tipos de mediunidade poderemos falar em nova entrevista.

— Ótimo! aprenderei muito com suas novas informações. E quem eram os médiuns, mestre?

— Jó, mestre, mesmo, só Jesus... Respondendo a sua pergunta, havia médiuns de variadas idades, de diversos níveis de conhecimento e de ambos os sexos. Trabalharam comigo médiuns muito jovens e outros já idosos. Ermance Dufaux, por exemplo, era médium desde os doze anos. Conheci-a em 1857, quando tinha apenas 16 anos. A partir de então, passou a trabalhar comigo, mediunicamente, infatigável, na edificação da Doutrina Espírita. As mensagens do Espírito São Luís foram psicografadas por ela. Em 1860, quando colaborou comigo na segunda edição d'O Livro dos Espíritos, estava apenas com 19 anos.

— É preciso ter moral elevada para ser médium, Allan?

— Não, Jó, pois a mediunidade é uma faculdade orgânica. De certo modo, todos somos médiuns, mas somente os médiuns produtivos, ou seja, aqueles que veem, ouvem e transmitem, involuntariamente ou não, as mensagens dos Espíritos superiores, são úteis às finalidades destes de proporcionarem-nos consolo, certeza sobre a imortalidade da alma e os benefícios que isto proporciona à humanidade. Entretanto, relembro-lhe o que escrevi em vida física: "Diga-me o que pensa e eu lhe direi quem é sua companhia espiritual."

— As horas correram e nem me dei conta, Kardec. Quero, entretanto, ter o privilégio de voltar a encontrá-lo para nova entrevista.

— Agradeço-lhe o convite e me coloco a sua disposição, todas as vezes que Jesus de Nazaré, mentor do Espírito de Verdade, meu guia espiritual, assim o permitir. Adeus!

Com lágrimas nos olhos, acordei...

 

 

Lembrete: O suposto sonho e a entrevista são apenas estratégias literárias para a introdução do conteúdo, que se baseia na introdução, itens III a IX, d'O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, e na obra de Canuto Abreu, intitulada O Livro dos Espíritos e sua Tradição Histórica e Lendária, publicada pela Editora LFU, atual Instituto de Cultura Espírita, de São Paulo, em 1992.

 

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