sábado, 9 de outubro de 2021

 



Um abençoado dia

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília-DF

             

Salve, leitores!

Tenho um vizinho amigo que, toda semana, vai ao mercado, em frente ao nosso bloco, compra uma cesta básica e coloca em grande caixa da portaria do bloco. Contribui, assim, com a Campanha de Doação de Alimentos, promovida, há meses, pela "prefeitura" local. Vez ou outra, vejo-o voltando do mercado com a cesta...

Dia desses, ele disse-me que, após pegar uma cesta básica de 14 quilos, enquanto caminhava para um dos caixas, lembrou-se de comparar o preço do pacote com o de um pote de manteiga de meio quilo. Preço da cesta básica: R$ 60,00 (sessenta reais), aproximadamente. Preço da manteiga mais barata: R$ 30,00 (trinta reais). Na cesta não há manteiga, nem ao menos, margarina. Que pena!

Outro mistério que meu amigo ainda não conseguiu decifrar: o preço da cesta básica, que até hoje está afixado abaixo dos pacotes, no primeiro corredor do mercado, é de aproximadamente R$ 67,00 (sessenta e sete reais), mas há um mês, semana após semana, são-lhe cobrados sete reais a menos. E não adianta "reclamar" ao caixa: — Moço (ou moça), o preço da etiqueta é maior... A resposta, após consulta ao sistema é sempre a mesma: — O preço é esse mesmo que o senhor está pagando (R$ 60,00).

— Que mais lhe aconteceu no mercado? — indaguei-lhe.

— Quando me dirigi ao caixa, havia uma senhora com um carrinho cheio de compras à minha frente. Fiquei tranquilo, porém, pois acabara de praticar exercícios e, embora já seja idoso, segurar 14 quilos por uns cinco a dez minutos é moleza, para mim. Foi o que pensei, mas a senhora cedeu-me a vez e ainda me aconselhou: — Coloque o pacote sobre o balcão, para aliviar seus braços desse peso. Agradeci-lhe, paguei ao caixa e, na saída, enquanto ela olhava para os lados, agradeci-lhe novamente. Com a maior simplicidade, a alma bondosa respondeu-me:

— Por nada, vá com Deus!

— Uma atitude assim até merece uma crônica, meu caro Dinis. Mais alguma cousa?

— Sim. Ao sair do mercado, um vigia de carros abordou-me e falou:

— Que Deus o abençoe e que o senhor tenha um excelente dia. Dei-lhe uns trocados e segui em frente. Depois disso, amigo Jó, fui à farmácia, que fica do outro lado da rua. Ali, comprei remédio e sabão líquido. Informado do valor, dirigi-me à moça do caixa para pagar os produtos. O remédio era X e o sabão, Y. Na hora de pagar, porém, verifiquei que a jovem do caixa me cobrou X + Y + z. Como sou bom em cálculo mental, percebi o erro, mas calei-me. Na entrega dos produtos, contrariamente ao que sempre ocorre ali, quando nunca me perguntam isso, a moça indagou-me:

— O senhor quer a nota?

— Não precisa — respondi-lhe... Já havia percebido que a diferença fora pouco maior do que o aporte dado ao vigia de carros da via pública.

— Quanto? — perguntei ao Dinis.

Ele, com simplicidade, respondeu-me:

— Só o suficiente para, cada um, comprar um litro de leite e dois pãezinhos. E arrematou: Que bom será quando todos agirmos como aquela gentil senhora, que pratica o bem no cotidiano de nossa existência neste maravilhoso mundo azul.

— Por quê?

— Porque cedeu-me parte do seu tempo, e isso, para muitos de nós, é mais importante do que alguns trocados...

Quanto ao rapaz, deu-me o ensejo de aliviar-lhe um pouco a carência material. Disse, por fim.

— E a moça do caixa? — Perguntei-lhe.

— Com ela aprendi o que não se deve fazer em prejuízo do próximo, ainda que seja mínimo, pois Jesus nos ensinou que da prisão não sairemos, sem sofrimento, até que paguemos o último centavo de nossas dívidas. Isso está em Mateus, 5:25,26. Essa prisão é a da consciência culpada, que nos cobra reparação do mal feito a alguém.

— Você agiu bem — falei ao amigo Dinis —. Como disse o apóstolo Pedro, devemos ter "[...] ardente amor uns para com os outros, pois o amor cobre a multidão de pecados."  (I Pedro, 4:8). Mas não seria melhor esclarecer o que houver com a moça do caixa farmacêutico? Quem sabe se não teria havido engano?... Muitas vezes, algo que nos parece prova da má-fé não passa de nosso juízo errado.

Dinis, então, concluiu com esta pérola de raciocínio:

— Jó, se houve ou não má-fé, a nota fiscal recusada poderia confirmar. Mas nada justifica que subtraiamos um centavo sequer de alguém sem seu consentimento. Se, porém, o que nos tiram é insignificante para nós, por que humilhar o nosso próximo, acusando-o, em vez de amá-lo e socorrê-lo?

Concordei com Dinis e nos despedimos fraternalmente com um abraço.

O mundo precisa do nosso auxílio material e espiritual: nos pensamentos, nas palavras, nos gestos e nos atos. Agindo assim, breve o vírus passará... o vírus do mal.

No encerramento desta crônica, lembrei-me de que, tempos atrás, eu postava um link de música para acesso de meus leitores, e esta, cantada pela bela voz do Renato Russo, vem bem a calhar aqui: Monte Castelo.

Clique, para ouvir, em: https://www.letras.mus.br/renato-russo/176305/

Paz, saúde e caridade, meus amigos!

 

Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com

 

 

 

 

 

Como consultar as matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo.

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário