O
aborto perante as leis
JORGE
LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De
Brasília, DF
Recentemente, menina de 11 anos, grávida, foi autorizada a
ser submetida a aborto, por alegar a justiça ter sido a criança estuprada.
Segundo foi apurado, isso ocorreu em sua relação sexual consensual com um
menino de 13 anos, quando a garota estava com dez. Por sua gravidez já estar com
22 semanas, o hospital havia negado o aborto pois, com esse tempo de gestação,
o feto já está completamente formado, segundo a medicina. O Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) justifica o aborto quando ocorrem relações
sexuais com menores de 14 anos de idade. Nesse caso, não se leva em conta a
relação consensual, que, legalmente, é considerada inexistente.
N’O Livro dos Espíritos, Allan Kardec é esclarecido,
na questão 358, de que o aborto, em qualquer período da gestação é crime
perante a lei divina. “Uma mãe ou quem quer que seja cometerá crime, sempre que
tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, pois isso impede uma alma
de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava
formando”. Na questão 359, entretanto, ele é esclarecido de que se o nascimento
da criança causar risco de vida para a mãe, seu aborto não será criminoso.
O artigo 128 do Código Penal estipula que o aborto praticado
por médico não será punido quando: a) não houver “outro meio de salvar a vida
da gestante”; b) se o aborto resultar de gravidez causada por estupro e houver
consentimento da gestante ou seu representante legal para a prática daquele, no
caso de incapaz. No caso de anencéfalo, por jurisprudência decorrente de
decisão do STF, a partir de 2012.
Segundo a Doutrina Espírita, a lei divina sobrepõe-se à humana.
Uma daquelas leis é a de conservação, à qual não se sobrepõe à de liberdade,
como lemos n’O livro dos espíritos (questões 703 e 704; 825, 838 e 872).[1]
Desse modo, salvo salvaguarda da vida da gestante, qualquer outra situação de
aborto provocado viola a lei do Eterno, que nos recomenda não matar.
A vida é o mais precioso bem, concedido a nós por Deus.
Então, vejamos o que consta na Constituição Federal do Brasil, que
resguarda esse bem: o artigo 5º de nossa
Carta Magna, promulgada “sob a proteção de Deus” prevê “[...] a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes: [...] III – ninguém será submetido a
tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. Em complemento ao primeiro
de todos os direitos, que é o da vida, o inciso XLVII, a) de nossa
Constituição proíbe a pena de morte, salvo em caso de guerra declarada [...]
(grifos meus). Abortar um ser já formado no ventre materno, cuja alma já se
encontra vinculada àquele corpo e, pelos relatos espirituais, interage
mentalmente com a gestante, é um verdadeiro assassinato, perante a lei divina
de “não matar”.
As religiões, de modo geral, consideram que o momento da
fecundação é o do surgimento da vida, com o que o Espiritismo concorda. Para
alguns cientistas, segundo artigo publicado por José Francisco Botelho[2],
a partir da terceira semana de gestação, já se pode considerar o feto como ser
vivo. Segundo esse articulista, diz o biólogo José Roberto Goldim, professor de
bioética da UFRGS, que “O feto é obviamente humano”. E complementa: “A questão
é decidir quando ele se torna uma pessoa com direitos, e isso não pode nem deve
ser estabelecido pela ciência”, como também não deveria ser da alçada da lei
humana.
O Brasil é um país de tradição cristã e, por isso mesmo,
inseriu no preâmbulo de sua Constituição a “proteção de Deus”. Ora, como lemos
na Bíblia e nos Evangelhos, Deus é Amor e, nessa condição, nos ordena não
matar. Desse modo, o direito constitucional à liberdade, em nosso país, não
está acima do direito à vida.
O Espiritismo é uma filosofia baseada nos ensinamentos de
Jesus Cristo e, portanto, segue os preceitos cristãos de moral, sob sua
inspiração, que também são manifestados por meio dos espíritos libertos do
corpo físico. São eles que nos alertam sobre as consequências dolorosas para o
espírito expulso do corpo, bem como para a gestante e terceiros que praticam o
aborto, a não ser para se preservar a vida da gestante.
Para nossa reflexão, concluo com este poema do espírito
Maria Dolores, psicografado por Chico Xavier:
Esperança dos Céus[3]
Há choro dentro da noite...
É o doloroso gemido
De pobre recém-nascido
Que não encontra lugar...
Mãos insensíveis sufocam
Pequenina flor humana...
É o aborto, em lide insana,
Ferindo a Lei sem pensar.
Ah! Quantas almas formosas,
Nos planos em que me movo,
Sonhando nascer de novo,
No entanto, rogam em vão...
Agasalham-se no amor,
Mas, em lágrimas convulsas,
Ei-las batidas e expulsas
A golpes de ingratidão.
Irmãos da Terra, escutai!...
Detende a marcha do aborto,
Estendei vosso conforto
Aos companheiros do Além!...
Cada criança que surge,
Mesmo entre rudes labéus,
É uma esperança dos Céus
Para a vitória do Bem.
[1] KARDEC, Allan. O livro dos
espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 4. imp. Brasília:
FEB, 2017.
[2] BOTELHO, José Francisco. Em que
momento o feto vira ser humano? Disponível em
https://super.abril.com.br>ciencia, 1 dez. 2016. Acesso em 27 jun. 2022.
[3] XAVIER, Francisco Cândido. Caridade.
Espíritos Diversos. Araras, SP: IDE, 1978, cap. 13.
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