Hilário Silva
Logo
após o início da sessão, Cacique de Barros, distinto baiano que foi valoroso
missionário dos princípios espíritas no Rio Grande do Sul, falava,
despretensioso, quanto à necessidade de se coibirem as mistificações nos
fenômenos mediúnicos.
Recomendava
o estudo constante.
Encarecia
a meditação.
Era
preciso tudo fiscalizar, pelo crivo da análise.
A
palavra dele conquistava simpatia crescente…
Como,
porém, solucionar o problema?
O
círculo de confrades entrou em oração, e ele rogou parecer ao mentor da Casa.
Através
do médium, o Amigo Espiritual compareceu bem-humorado e, depois de saudação
fraterna, falou conciso:
—
Meus irmãos, há uma lenda hindu que nos esclarece. Um homem necessitado era
dono de um burro que lhe prestava grandes serviços. Mas, porque não tivesse
recursos, enfraqueceu-se o animal por falta de forragem. Passeando, porém, a
distância de casa, o homem achou um tigre morto. E teve uma ideia. Cobriria o
humilde cooperador com a pele do tigre e soltá-lo-ia cada noite nas terras dos
fazendeiros vizinhos. Visto disfarçado em tigre, o burrico seria respeitado, e
assim aconteceu. O muar fartava-se de cevada e, manhãzinha, era recolhido pelo
dono à pequena estrebaria. O burro, nesse regime, fez-se nédio, contente da
vida. Mas, surgiu uma noite em que jumentas vararam a paisagem, zurrando,
zurrando… E o burro, acordado nas afinidades do instinto, zurrou e zurrou
também… Os fazendeiros, com isso, descobriram a farsa e mataram-no a cacetadas,
rasgando-lhe toda a pele…
O
orientador fez uma pausa e continuou:
—
Nome, forma, gesto, fama e autoridade são aspectos na pessoa, sem serem, de
modo algum, a pessoa em si.
Em
seguida, concluiu:
—
Se vocês quiserem realmente conhecer benfeitores e malfeitores, sábios e
ignorantes, sãos e doentes, encarnados e desencarnados, escutem, com atenção, a
fala de cada um.
Do
livro A Vida Escreve, de Hilário Silva, obra psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e Francisco Cândido Xavier.
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