Revista Espírita de 1864
Allan Kardec
Parte 7
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de
1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a
dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do estudo,
que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Que parte dos
Evangelhos foi escolhida por Kardec para objeto exclusivo de seu livro O
Evangelho segundo o Espiritismo?
B. Que é que
constitui a força da doutrina espírita?
C. Onde reside a
garantia da futura unidade do Espiritismo?
Texto para leitura
78. A Revista
registra o surgimento em Turim do periódico Annali dello Spiritismo in
Italia e de um novo jornal espírita na França: O Salvador dos Povos,
jornal do Espiritismo, de Bordeaux, de periodicidade semanal. Kardec observa,
quanto a este último: “Se vier trazer uma pedra útil ao edifício, se vier, como
diz, unir em vez de dividir, se a verdadeira caridade de palavras e de ação é
seu guia para seus irmãos em crença, se a sua polêmica com os adversários de
nossa doutrina não se afastar dos limites da moderação e de uma discussão leal,
será bem-vindo e seremos felizes de o encorajar e o apoiar”. (PP. 94 a 96)
79. A primeira edição
de O Evangelho segundo o Espiritismo, que apareceu com um título
diferente: “Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo”, é destacada no volume
de abril de 1864, que transcreve parte da introdução da mencionada obra, em que
Kardec explica por que o ensino moral contido nos Evangelhos foi por ele
escolhido para objeto exclusivo do livro. Como sabemos, o Codificador elegeu o
ensino moral do Cristo uma regra de conduta, o princípio de todas as relações
sociais baseadas na justiça e, acima de tudo, a rota infalível da felicidade
futura. (PP. 97 e 98)
80. Na parte final da
introdução transcrita pela Revista, Kardec é enfático: “Graças às comunicações
de ora em diante estabelecidas de maneira permanente entre os homens e o mundo
invisível, a lei evangélica, ensinada em todas as nações pelos próprios
Espíritos, não mais será letra morta, porque cada um a compreenderá e
necessariamente será solicitado a pô-la em prática, a conselho de seus guias
espirituais”. (P. 99)
81. Reafirmando que o
Espiritismo não tem nacionalidade, Kardec assevera que é a universalidade do
ensino dos Espíritos que constitui a força da doutrina espírita e a causa de
sua rápida propagação. Em face disso, adverte o Codificador que, para tudo
quanto esteja fora do ensino exclusivamente moral, as revelações que cada um
pode obter têm um caráter individual sem autenticidade e devem ser consideradas
como opinião pessoal desse ou daquele Espírito, sendo imprudente aceitá-las e
promulgá-las levianamente como verdades absolutas. (PP. 100 e 101)
82. O primeiro
controle do ensino dos Espíritos é, sem dúvida, o da razão, à qual é preciso
submeter tudo quanto venha dos Espíritos, sem qualquer exceção. “Toda teoria em
manifesta contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados
positivos que se possuem, por mais respeitável que seja a sua assinatura, deve
ser rejeitada.” (P. 101)
83. Como esse
controle é, em muitos casos, incompleto, devido à insuficiência das luzes de
certas pessoas e da tendência de muitos a tomar seu próprio julgamento por
único árbitro da verdade, a concordância no ensino dos Espíritos deve ser
verificada, mas é preciso que se dê em certas condições. (PP. 101 e 102)
84. A única garantia
séria está, então, na concordância que exista entre as revelações espontâneas,
feitas por grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em diversas
regiões. “Prova a experiência - diz Kardec - que quando um princípio novo deve
ter a sua solução, é ensinado espontaneamente em diversos pontos ao mesmo tempo
e de maneira, senão na forma, ao menos no fundo.” (P. 102)
85. Esse controle
universal, segundo o Codificador, é uma garantia para a futura unidade do
Espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias. É aí que, no futuro,
será procurado o critério da verdade e é o que fez o sucesso da doutrina
formulada no Livro dos Espíritos e no Livro dos Médiuns, visto
que por toda a parte cada um pode receber dos Espíritos, diretamente, a
confirmação do que eles encerram. (P. 102)
86. Concluindo o
artigo, Kardec afirma que não é à opinião de um homem que se aliarão os
Espíritos, nem será um homem que fundará a ortodoxia espírita, nem um Espírito,
mas sim a universalidade dos Espíritos, comunicando-se em toda a Terra, por
ordem de Deus. “Aí está - diz o Codificador - o caráter essencial da doutrina
espírita; aí está a sua força e a sua autoridade.” (P. 104)
87. Em vinte e dois
tópicos, a Revista publica uma instrução intitulada “Resumo da Lei dos
Fenômenos Espíritas”, dirigida às pessoas que não possuem qualquer noção do
Espiritismo. “Nos grupos ou reuniões espíritas onde se acham assistentes
noviços, ela pode ser útil ao preâmbulo das sessões”, afirma Kardec. (P. 105)
88. No preâmbulo do
Resumo, o Codificador afirma que um sério estudo prévio é o único meio de levar
alguém à convicção e muitas vezes isto mesmo basta para mudar inteiramente o
curso das ideias. Contudo, em falta de uma instrução completa, que não pode ser
dada em poucas palavras, um resumo sucinto da lei que rege os fenômenos bastará
para fazer encarar a coisa sob sua verdadeira luz pelas pessoas não iniciadas.
(P. 106)
89. Eis, de forma
sintética, os principais ensinamentos contidos nos vinte e dois itens da
instrução referida:
I) O Espiritismo é,
ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica.
II) Os Espíritos não
são seres à parte na criação, mas as almas dos que viveram na Terra e em outros
mundos.
III) Eles não são,
como se pensa, seres vagos e indefinidos, nem chamas, nem fantasmas. São seres
semelhantes a nós, com um corpo como o nosso, mas invisível e fluídico em seu
estado normal.
IV) Unida ao corpo, a
alma possui um duplo envoltório: um pesado, grosseiro, destrutível - o corpo;
outro fluídico, leve, indestrutível - o perispírito. O perispírito é o elo que
une a alma ao corpo e é por meio dele que a alma faz o corpo agir e percebe as
sensações experimentadas pelo corpo.
V) A união da alma,
do perispírito e do corpo material constitui o homem; a alma e o perispírito,
separados do corpo, constituem o ser chamado Espírito.
VI) O fluido que
compõe o perispírito penetra todos os corpos; nenhuma matéria lhe faz
obstáculo. É por isso que os Espíritos penetram em toda a parte, nos lugares
mais fechados.
VII) Os Espíritos têm
todas as percepções que tinham na Terra, mas em mais alto grau, porque suas faculdades
não são amortecidas pela matéria. Veem e ouvem coisas que nossos sentidos
limitados não nos permitem ver nem ouvir. Para eles não existe escuridão, salvo
para aqueles cuja punição é ficarem temporariamente nas trevas.
VIII) É com o auxílio
do perispírito que o Espírito faz os médiuns escreverem, falarem ou desenharem.
Ele serve-se assim do corpo do médium, cujos órgãos ocupa, fazendo-os agir como
se fosse seu próprio corpo, e isto pelo eflúvio fluídico que sobre ele derrama.
IX) Nas comunicações
pela escrita, pode-se ver o Espírito ao lado do médium, dirigindo-lhe a mão ou
transmitindo-lhe o pensamento por uma corrente fluídica.
X) Quando golpes são
ouvidos na mesa ou noutro lugar, o Espírito não bate com a mão, nem com um
objeto qualquer: ele dirige um jato de fluido para o ponto de onde parte o
ruído, produzindo o efeito de um choque elétrico, e modifica o ruído, como se
pode produzir o som produzido pelo ar.
XI) As descobertas
científicas foram restringindo continuamente o círculo do maravilhoso. O
conhecimento da nova lei revelada pelo Espiritismo vem reduzi-lo a nada. Assim,
os que acusam o Espiritismo de ressuscitar o maravilhoso provam, por isto
mesmo, que falam do que não conhecem.
XII) Toda reunião
espírita, para ser proveitosa, deve - como primeira condição - ser séria e
recolhida. Tudo nela deve passar-se respeitosamente, religiosamente, com
dignidade, se se quiser obter o concurso habitual dos bons Espíritos. (PP. 106
a 112)
Respostas às questões propostas
A. Que parte dos
Evangelhos foi escolhida por Kardec para objeto exclusivo de seu livro O
Evangelho segundo o Espiritismo?
Foi o ensino moral
trazido por Jesus, que Kardec conceituou como sendo uma regra de conduta, o
princípio de todas as relações sociais baseadas na justiça e, acima de tudo, o
caminho infalível da felicidade futura. (Revista Espírita de 1864, pp.
97 e 98.)
B. Que é que constitui a força da doutrina espírita?
Segundo Kardec, é a universalidade do ensino dos
Espíritos que constitui a força da doutrina espírita e a causa de sua rápida
propagação. Em
face disso, adverte o Codificador que, para tudo quanto esteja fora do ensino
exclusivamente moral, as revelações que cada um pode obter têm um caráter
individual sem autenticidade e devem ser consideradas como opinião pessoal
desse ou daquele Espírito, sendo imprudente aceitá-las e promulgá-las
levianamente como verdades absolutas. (Obra citada, pp. 100 e 101.)
C. Onde reside a
garantia da futura unidade do Espiritismo?
A única garantia
dessa unidade reside na concordância que exista entre as revelações
espontâneas, feitas por grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em
diversas regiões. “Prova a experiência - diz Kardec - que quando um princípio
novo deve ter a sua solução, é ensinado espontaneamente em diversos pontos ao
mesmo tempo e de maneira, senão na forma, ao menos no fundo.” Esse controle
universal é, segundo o Codificador, uma garantia para a futura unidade do
Espiritismo e é aí que, no futuro, será procurado o critério da verdade. (Obra
citada, pp. 102 a 104.)
Observação:
Para
acessar a Parte 6 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/09/revista-espirita-de-1864-allan-kardec_01480690635.html
Como consultar as matérias deste
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