quarta-feira, 25 de outubro de 2023

 



Revista Espírita de 1864

 

Allan Kardec

 

Parte 10

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1864, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1864 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Por que o Espiritismo se serviu do vocábulo Espírito em vez de alma?

B. Que distinção podemos fazer entre alma e Espírito?

C. Que diferença havia, à época de Kardec, entre o Espiritismo na América e o Espiritismo na Europa?

 

Texto para leitura

 

114. Kardec faz ligeira alusão à obra A Vida de Jesus, escrita pelo Sr. Renan, cuja dedicatória posta no topo do livro à sua irmã Henriette revela mais que um vago pensamento espiritualista. As palavras dedicadas a Henriette - observa o Codificador do Espiritismo - mostram que o Sr. Renan imagina que sua irmã esteja a seu lado, que o pode ver e inspirar e se interessa por seu trabalho. Há entre ele e a falecida uma troca de pensamentos, uma comunicação espiritual e, sem o suspeitar, ele faz, como tantos outros, uma verdadeira evocação. (PP. 134 a 136)

115. Por que então o Sr. Renan inclui a doutrina espírita entre as crenças supersticiosas? A causa é conhecida: o Sr. Renan não admite o sobrenatural nem o maravilhoso. Ora, se ele conhecesse o estado real da alma após a morte e as propriedades de seu envoltório perispiritual, compreenderia que o fenômeno das manifestações espíritas não foge às leis naturais e que para isto não é necessário recorrer ao maravilhoso. (P. 136)

116. No final do artigo, Kardec explica por que razão o Espiritismo se serviu do vocábulo Espírito, em vez de alma. Três foram os motivos. Primeiro porque, desde as primeiras manifestações, o vocábulo era usado, antes da criação da filosofia espírita. Em segundo lugar, porque se o vocábulo Espírito era repulsivo para algumas pessoas, constituía um atrativo para as massas e deveria contribuir mais que o outro para popularizar a doutrina. O terceiro motivo é mais sério que os dois outros. As palavras alma e Espírito, embora sejam sinônimos e empregados indiferentemente, não exprimem exatamente a mesma ideia. (P. 138)

117. A alma é, a bem dizer, o princípio inteligente, imperceptível e indefinido como o pensamento. Não podemos concebê-lo isolado da matéria de maneira absoluta. Embora formado de matéria sutil, o perispírito dela faz um ser definido, limitado e circunscrito à sua individualidade espiritual. Assim, podemos dizer: A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o HOMEM; a alma e o perispírito separados do corpo constituem o ESPÍRITO. Nas manifestações não é, pois, a alma que se apresenta só. Ela está sempre revestida de seu envoltório fluídico. Portanto, nas aparições não é a alma que se vê, mas o perispírito, do mesmo modo que, quando se vê um homem, vê-se o seu corpo, mas não o pensamento ou o princípio que o faz agir. (PP. 138 e 139)

118. Em resumo, a alma é o ser simples, primitivo; o Espírito é o ser duplo; o homem é o ser triplo. (P. 139)

119. A Revista publica o discurso que Kardec fez no dia 1º de abril de 1864 na Sociedade Espírita de Paris, que completava então seis anos de existência. (P. 140)

120. Eis alguns dos tópicos mais relevantes extraídos do referido discurso:

I) O sinal de prosperidade da Sociedade de Paris estava inteiramente na progressão de seus estudos, na consideração que conquistou, no ascendente moral que exerce lá fora e no número de adeptos que se ligam aos princípios por ela professados.

II) Sendo a primeira sociedade espírita regularmente constituída, a Sociedade de Paris foi a primeira a alargar o círculo de seus estudos e abraçou todas as partes da ciência espírita.

III) Quando o Espiritismo mal saía do período da curiosidade e das mesas girantes, ela entrou resolutamente no período filosófico, que, de certo modo, inaugurou.

IV) A força do Espiritismo não reside na opinião de um homem ou de um Espírito, mas na universalidade do ensino dado por estes últimos. O controle universal, como o sufrágio universal, resolverá no futuro todas as questões litigiosas e fundará a unidade da doutrina muito melhor que um concílio de homens.

V) A Sociedade de Paris é estimada e considerada, não só pela natureza de seus trabalhos, mas pelo bom conceito conquistado por suas sessões entre numerosos estrangeiros que a visitaram.

VI) A Sociedade de Paris tem, contudo, sobre as demais apenas autoridade moral, devida à sua posição e aos seus estudos. Ela dá os conselhos que lhe pedem à sua experiência, mas não se impõe a nenhuma. A única palavra de ordem que dá como sinal de reconhecimento entre os verdadeiros espíritas é: Caridade para com todos, mesmo para com os inimigos.

VII) A posição da Sociedade de Paris é, pois, exclusivamente moral e ela jamais ambicionou outra. Nossos antagonistas que dizem que todos os espíritas são seus tributários e que ela se enriquece à sua custa, ou dão provas de má-fé ou da mais absoluta ignorância daquilo de que falam.

VIII) Um incrédulo que conheceu a doutrina espírita dizia que, com tais princípios, o espírita necessariamente deveria ser um homem de bem. Estas palavras são verdadeiras, mas, para serem completas, é preciso acrescentar que um verdadeiro espírita deve ser, necessariamente, bom e benevolente para com os seus semelhantes, isto é, praticar a caridade evangélica na sua mais larga acepção. (PP. 140 a 145)

121. Kardec esclarece, no número de maio, por que a doutrina espírita não é a mesma na Europa e na América do Norte e diz onde se encontram as diferenças. (P. 146)

122. Como se sabe, os fenômenos espíritas ocorreram em todos os tempos, tanto na Europa como na América, mas foi a extrema liberdade que existe nos Estados Unidos que favoreceu a eclosão das ideias novas, e essa a razão pela qual os Espíritos escolheram esse país para o primeiro teatro de seus ensinos. (P. 146)

123. Muitas vezes uma ideia surge num país e se desenvolve em outro, como se vê nas ciências e na indústria. A esse respeito o gênio americano deu suas provas e nada tem a invejar à Europa. Contudo, se supera em tudo no que concerne ao comércio e às artes mecânicas, não se pode recusar à Europa a primazia no campo das ciências morais e filosóficas. Devido a essa diferença no caráter normal dos povos, o Espiritismo experimental estava em seu terreno na América, ao passo que a parte teórica e filosófica encontrava na Europa elementos mais propícios ao seu desenvolvimento. Assim, foi lá, na América, que ele nasceu, mas foi na Europa que cresceu e fez suas humanidades. (P. 146)

124. O que particularmente distingue a escola espírita americana da escola europeia é a predominância, na primeira, da parte fenomênica, e na segunda, da parte filosófica. A filosofia espírita da Europa espalhou-se prontamente, porque ofereceu, desde o começo, um conjunto completo e alargou o horizonte das ideias. (P. 147)

125. De todos os princípios da doutrina espírita o que encontrou mais oposição nos Estados Unidos é o da reencarnação. Aliás, essa é a única divergência capital, pois as outras dizem mais com a forma do que com o fundo. As razões disto é que os Espíritos procedem em toda a parte com sabedoria e prudência e, para se fazerem aceitar, evitam chocar muito bruscamente as ideias estabelecidas. Desse modo, não irão dizer inconsideradamente a um muçulmano que Maomé é um impostor. (P. 147)

 

Respostas às questões propostas

 

A. Por que o Espiritismo se serviu do vocábulo Espírito em vez de alma?

Três foram os motivos. Primeiro porque, desde as primeiras manifestações, o vocábulo era usado, antes da criação da filosofia espírita. Em segundo lugar, porque se o vocábulo Espírito era repulsivo para algumas pessoas, constituía um atrativo para as massas e deveria contribuir mais que o outro para popularizar a doutrina. O terceiro motivo é mais sério que os dois outros. Os vocábulos alma e Espírito, embora sejam sinônimos e empregados indiferentemente, não exprimem exatamente a mesma ideia. (Revista Espírita de 1864, pág. 138.)

B. Que distinção podemos fazer entre alma e Espírito?

A alma é o princípio inteligente, imperceptível e indefinido como o pensamento. Não podemos concebê-lo isolado da matéria de maneira absoluta. Formado de matéria sutil, o perispírito faz dela um ser definido, limitado e circunscrito à sua individualidade espiritual. Assim, pode-se dizer que a união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o HOMEM; a alma e o perispírito separados do corpo constituem o ESPÍRITO. Nas manifestações não é, pois, a alma que se apresenta só. Ela está sempre revestida do seu envoltório fluídico. Em face disso, nas aparições espirituais não é a alma que se vê, mas o perispírito, do mesmo modo que, quando se vê um homem, vê-se o seu corpo, mas não o pensamento ou o princípio que o faz agir. Em resumo, a alma é o ser simples, primitivo; o Espírito é o ser duplo; o homem é o ser triplo. (Obra citada, pp. 138 e 139.)

C. Que diferença havia, à época de Kardec, entre o Espiritismo na América e o Espiritismo na Europa?

Diz Kardec que os fenômenos espíritas ocorreram em todos os tempos, tanto na Europa como na América, mas foi a extrema liberdade que existe nos Estados Unidos que favoreceu a eclosão das ideias novas, e foi essa a razão pela qual os Espíritos escolheram esse país para o primeiro teatro de seus ensinos. O Espiritismo experimental estava em seu terreno na América, ao passo que a parte teórica e filosófica encontraria na Europa elementos mais propícios ao seu desenvolvimento. Assim, foi lá, na América, que ele nasceu, mas foi na Europa que cresceu e fez suas humanidades. O que particularmente distingue a escola espírita americana da escola europeia é a predominância, na primeira, da parte fenomênica, e, na segunda, da parte filosófica. (Obra citada, pp. 146 e 147.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 9 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/10/revista-espirita-de-1864-allan-kardec_01390981316.html

 

 

 

 

 

 

 

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