A doutrina das penas eternas é um
equívoco
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
A tese da eternidade das penas reservadas àqueles
que infringem as leis do bem e do amor, tanto quanto a existência do inferno,
não resistem a uma análise objetiva.
O raciocínio lógico conduz-nos à seguinte premissa:
Se o Espírito sofre em função do mal que praticou, sua infelicidade deve ser
proporcional à falta cometida.
Devemos considerar também que a condenação perpétua
não se coaduna com a ideia cristã da sublimidade da justiça e da misericórdia
divinas. Jesus deu testemunho da bondade e do amor de Deus, ao afirmar que o
Pai celeste não quer que pereça um só de seus filhos.
O Criador é, como ensinado no Espiritismo, um ser
infinito em suas perfeições, pois é filosoficamente impossível conceber Deus de
outra maneira, uma vez que, se Ele não apresentasse infinita perfeição,
poderíamos conceber outro ser que lhe fosse superior.
Sendo, pois, infinitamente sábio, justo e
misericordioso, não podemos crer que o Pai celeste tenha criado pessoas para
serem eternamente desgraçadas em virtude de uma falta ou de um erro passageiro,
derivados evidentemente de sua própria imperfeição.
Alguém, no entanto, certamente questionará: - Se as
penas eternas são uma ficção, por que tal doutrina se encontra consubstanciada
na teologia católica?
A doutrina da eternidade das penas surgiu das
ideias primitivas que conceberam a existência de um Deus irado e vingativo, a
quem o homem atribuiu características puramente humanas. O fogo eterno é uma
figura de que se utilizou para materializar a ideia do inferno, com vistas a
ressaltar a crueldade da pena, no pressuposto de que o fogo é o suplício mais
atroz e que produz o tormento mais efetivo.
É provável que em certo período da história da
Humanidade a doutrina das penas eternas tenha sido eficaz para controlar as
paixões de criaturas ainda imperfeitas, mas é evidente que ela não mais serve
ao homem da atualidade, que nela não consegue vislumbrar sentido lógico.
Jesus valeu-se, é verdade, das figuras do inferno e
do fogo eterno para pôr-se ao alcance da compreensão dos homens de sua época.
As imagens fortes que utilizou eram, então, necessárias para impressionar a
imaginação de indivíduos que pouco entendiam das coisas do Espírito e cuja
realidade estava mais próxima da matéria e dos fenômenos que lhes
impressionavam os sentidos físicos.
Mas não podemos ignorar que foi ele quem enfatizou
a ideia de que Deus é Pai misericordioso e bom e declarou, de forma peremptória,
que das ovelhas que o Pai lhe confiou nenhuma se perderia.
Além disso, as manifestações espíritas mostraram –
e continuam a mostrar – que a vida prossegue além-túmulo e que todos, mesmo os
maiores criminosos, recebem de Deus seguidas oportunidades de se redimirem e
assim voltarem ao caminho que nos levará à perfeição, que é a meta que o Deus
estabeleceu para todos nós.
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