Revista Espírita de 1866
Allan Kardec
Parte 10
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1866, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1866 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. A
qualificação Espírito de Verdade diz respeito a um Espírito ou a uma
coletividade, uma plêiade de Espíritos?
B. Os Espíritos
podem ver seu passado?
C. Quando Maomé
teve a primeira visão do anjo Gabriel?
Texto para leitura
117. Poucos
dias após seu falecimento, o Sr. Méry comunicou-se na Sociedade Espírita de
Paris, quando revelou que a morte foi para ele de uma doçura inefável e
confirmou ter sido, sim, espírita de coração e de espírito, embora não houvesse
se engajado na tarefa espírita. (Págs. 214 a 216.)
118. Tratando
do tema identidade dos Espíritos, Kardec reitera que a identidade não pode ser
constatada com certeza senão para os Espíritos partidos recentemente. Quanto
aos que deixaram a Terra há mais tempo, ela não pode ser atestada de maneira
absoluta. (Págs. 216 e 217.)
119. Além
disso, há na faculdade mediúnica uma infinita variedade de nuanças que tornam o
médium apto ou impróprio à obtenção de determinados efeitos que, à primeira
vista, parecem idênticos e, no entanto, dependem de influências fluídicas
diferentes. “O médium é como um instrumento de cordas múltiplas: não pode dar
pelas cordas que faltam”, explica Kardec, que menciona a respeito um fato muito
interessante. (Págs. 217 e 218.)
120. As provas
de identidade quase sempre vêm espontaneamente, quando menos se espera, ao
passo que são dadas raramente quando pedidas. Capricho da parte do Espírito?
Não. Ocorre aí como na fotografia, onde uma simples variação na intensidade ou
na direção da luz basta para impedir a reprodução da imagem. (Págs. 218 e 219.)
121. As
relações fluídicas que devem existir entre o Espírito e o médium jamais se
estabelecem completamente no primeiro contato; a assimilação só se faz com o
tempo e gradualmente. Quando seus fluidos estão identificados, as comunicações
se dão naturalmente. (Pág. 219.)
122. Um
Espírito, mesmo canonizado em vida, pode dar-se a qualificação de santo, sem
faltar à humildade? Kardec explica: “A canonização não implica a santidade, no
sentido absoluto, mas simplesmente um certo grau de perfeição. Para alguns a
qualificação de santo tornou-se uma espécie de título banal, fazendo parte
integrante do nome, para distinguir de seus homônimos, ou se lhes dá por
hábito”. Dito isto, o codificador não
via nada de mais em Santo Agostinho e São Luís assinarem dessa forma suas
comunicações. (Págs. 220 e 221.)
123.
Referindo-se no mesmo comentário ao Espírito de Verdade, Kardec diz que essa
qualificação pertence a um único Espírito e pode ser considerada como um nome
próprio. Está especificada no Evangelho. Aliás, acrescenta o codificador, esse
Espírito se comunica raramente e apenas em circunstâncias especiais. (Pág.
221.)
124. Um leitor
questiona o fato de ter sido o Espírito do Dr. Cailleux posto em estado
magnético para ver desenrolar-se à sua frente o quadro de suas existências
passadas. O fato não parece contradizer o item 243 d’ O Livro dos Espíritos?
Kardec diz que não, pois, ao contrário, vem confirmar a possibilidade, para o
Espírito, de conhecer suas existências passadas. “O Livro dos Espíritos
não é um tratado completo do Espiritismo; apenas apresenta as bases e os pontos
fundamentais, que se devem desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela
observação”, asseverou Kardec. Ele ensina que a alma vê suas migrações
passadas, mas não diz quando nem como isto se dá. Nos Espíritos atrasados, a
visão é limitada ao presente e se desenvolve com a inteligência e à medida que
adquirem consciência de sua situação. (Págs. 221 e 222.)
125. O número
de julho de 1866 se encerra com uma poesia – “A prece pelos Espíritos” – de
Casimir Delavigne. (Pág. 223.)
126. Maomé e o
Islamismo constituem o tema do artigo de abertura do número de agosto, no qual
Kardec apresenta um conjunto de informações que nos permitem conhecer em sua
essência a vida e a obra do autor do Alcorão. Ei-las, de forma sintética: I)
Desde muito tempo a Arábia era povoada por várias tribos, quase todas nômades e
perpetuamente em guerra umas contra as outras. II) Os rebanhos eram sua
principal fonte, mas algumas se davam ao comércio, realizado por caravanas que
partiam anualmente do Sul com destino à Síria ou à Mesopotâmia. III) As
caravanas pouco se afastavam das bordas do mar e as principais seguiam o
Hidjaz, região que forma, às margens do Mar Vermelho, uma faixa estreita, numa
extensão de quinhentas léguas (o vocábulo Hidjaz significa barreira e se dizia
da cadeia de montanhas que borda essa região e a separa do resto da Arábia).
IV) Os pontos de estação das caravanas, que paravam nos lugares onde havia água
e árvores, tornaram-se centros onde, pouco a pouco, se formaram cidades, das
quais as principais, no Hidjaz, são Meca e Medina. V) A maior parte dessas
tribos pretendia descender de Abraão, que era tido, por isso, em grande honra
entre eles. VI) Entre eles havia uma crença de que a famosa fonte de Zemzem, no
vale de Meca, era a que Gabriel tinha feito jorrar quando Agar, perdida no
deserto, ia morrer de sede com seu filho Ismael. VII) A tradição dizia ainda
que Abraão, tendo vindo ver seu filho exilado, havia construído com as próprias
mãos, perto dessa fonte, a Caaba, uma casa de nove côvados de altura por 32 de
comprimento e 22 de largura, a qual, religiosamente conservada, tornou-se um
lugar de grande devoção, sendo um dever visitá-la. VIII) As caravanas paravam
ali naturalmente e os peregrinos aproveitavam sua companhia para viajar com
mais segurança. IX) A peregrinação a Meca existia desde tempos imemoriais.
Maomé apenas conservou e tornou obrigatório o costume. A Caaba é hoje rodeada
por uma mesquita. X) No princípio a religião dos árabes consistia na adoração
de um Deus único, a cuja vontade o homem deve ser completamente submisso. XI)
Essa religião, que era a de Abraão, chamava-se Islam e os que a professavam
diziam-se Muçulmanos, isto é, submetidos à vontade de Deus; mas, pouco a pouco,
o puro Islam degenerou em grosseira idolatria. Cada tribo tinha seus deuses e
seus ídolos e isso foi a causa de muitas e longas guerras entre elas. XII)
Havia, porém, em certas tribos homens piedosos que adoravam a Deus único e
repeliam o culto dos ídolos. Chamados Hanyfas, eram eles os verdadeiros
muçulmanos, que conservavam a fé pura do Islam, embora fossem pouco numerosos e
com escassa influência sobre as massas. XIII) Maomé nasceu em Meca a 27 de
agosto de 570 da Era Cristã. Pertencia a uma família poderosa e considerada, da
tribo dos Coraychitas, uma das mais importantes da Arábia e supostamente
descendente em linha reta de Ismael. XIV) Seu pai morreu dois meses antes de
seu nascimento, e sua mãe o deixou órfão com a idade de seis anos. Seu avô
Abd-el-Mutalib, que o estimava muito, morreu também dois anos depois, de tal
forma que, apesar da posição que sua família havia ocupado, Maomé passou a
infância e a juventude num estado próximo ao da miséria. XV) Com a morte do
avô, ele foi recolhido pelos tios, cujos rebanhos pastoreou até a idade de
vinte anos. (Págs. 225 a 230.)
127. Maomé
tinha o espírito meditativo e sonhador e um caráter de uma solidez e maturidade
tão precoces, que seus companheiros o designavam pelo sobrenome de El-Amin, “o
homem seguro, o homem fiel”. Mesmo quando jovem e pobre, convocavam-no às
assembleias da tribo para os negócios mais importantes. Fazia parte, então, de
uma associação formada entre as principais famílias coraychitas, cujo objetivo
era prevenir as desordens da guerra, proteger os fracos e lhes fazer justiça.
(Págs. 230.)
128. Aos vinte
e cinco anos casou-se com sua prima Khadidja, viúva e rica, quinze anos mais
velha do que ele. Essa união, que foi sempre feliz, durou 24 anos e só terminou
com a morte da esposa, aos 64 anos. (Pág. 231.)
129. Depois da
morte de Khadidja seus costumes mudaram e Maomé desposou várias mulheres: teve
doze ou treze em casamentos legítimos e deixou, ao morrer, nove viúvas. (Pág.
231.)
130. Até os
quarenta e nove anos, quando morreu Khadidja, sua vida pacífica nada
apresentara de saliente. Apenas um fato o tirou um instante da obscuridade. Foi
quando, estando Maomé com 35 anos, os coraychitas resolveram reconstruir a
Caaba, que ameaçava ruína. Sua intervenção numa polêmica suscitada na época
satisfez a todos. Aos 40 anos, no monte Hira, teve ele uma visão durante o
sono: o anjo Gabriel lhe apareceu
mostrando-lhe um livro que o aconselhou a ler. Três vezes resistiu a essa ordem
e só para escapar ao constrangimento sobre ele exercido é que consentiu em o
ler. Ao despertar, disse ter sentido “que um livro tinha sido escrito em seu
coração”, frase posteriormente tomada ao pé da letra por seus seguidores.
(Págs. 231 e 232.)
Respostas às questões propostas
A. A
qualificação Espírito de Verdade diz respeito a um Espírito ou a uma
coletividade, uma plêiade de Espíritos?
Segundo Allan
Kardec, essa qualificação pertence a um único Espírito e pode ser considerada
como um nome próprio. Está especificada no Evangelho. Aliás, acrescenta o
codificador, esse Espírito se comunica raramente e apenas em circunstâncias
especiais. {N.R.: Em seu livro Instruções Práticas sobre as Manifestações
Espíritas, pág. 91 da 2ª edição publicada pela Editora O Clarim, Kardec nos
deu a seguinte informação sobre o Espírito de Verdade: “Tendo eu interrogado
esse Espírito, ele se deu a conhecer sob um nome alegórico (eu soube, depois,
por outros Espíritos, que fora o de um ilustre filósofo da Antiguidade)”.} (Revista
Espírita de 1866, pp. 221.)
B. Os Espíritos podem ver seu passado?
Sim. Mas um
leitor questionou o fato de ter sido o Espírito do Dr. Cailleux posto em estado
magnético para ver desenrolar-se à sua frente o quadro de suas existências
passadas. O fato, segundo o leitor, parecia contradizer o item 243 d’ O
Livro dos Espíritos. Kardec disse-lhe que não, pois, ao contrário,
vem confirmar a possibilidade, para o Espírito, de conhecer suas existências
passadas. “O Livro dos Espíritos não é um tratado completo do
Espiritismo; apenas apresenta as bases e os pontos fundamentais, que se devem
desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação”, asseverou Kardec. Ele ensina que a alma vê suas migrações passadas, mas não
diz quando nem como isto se dá. (Obra citada, pp. 221 e 222.)
C. Quando Maomé
teve a primeira visão do anjo Gabriel?
Foi aos 40 anos
de idade que teve ele a primeira visão durante o sono: o anjo Gabriel lhe
apareceu mostrando-lhe um livro que o aconselhou a ler. Três vezes resistiu a
essa ordem e só para escapar ao constrangimento sobre ele exercido é que
consentiu em o ler. Ao despertar, disse ter sentido “que um livro tinha sido
escrito em seu coração”, frase posteriormente tomada ao pé da letra por seus
seguidores. (Obra citada, pp. 231 e 232.)
Observação:
Para
acessar a Parte 9 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/09/revista-espirita-de-1866-allan-kardec_0849236401.html
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