Revista Espírita de 1868
Allan Kardec
Parte 10
Continuamos o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1868, periódico editado e dirigido por Allan Kardec.
O estudo baseia-se na tradução feita por
Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de 1868 pertence a uma série iniciada em
janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando
desencarnou.
Cada parte do estudo, que é apresentado às
quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final
do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. Em que época viveu Lao-Tseu?
B. Que recado formulou Victor Hugo a propósito do
falecimento de sua esposa?
C. A máxima “A gente é sempre punido por onde pecou” pode
ser considerada uma ideia espírita?
Texto para leitura
119. Após transcrever uma comunicação mediúnica publicada
no jornal espírita Le Salut, de New Orléans, de junho de 1868, Kardec
fez o seguinte comentário: “Pode ver-se que as instruções dadas na América
sobre a caridade e a fraternidade não cedem em nada às que são dadas na
Europa”. Esse é o elo que, segundo o Codificador, “unirá os habitantes dos dois
mundos”. (Págs. 283 a 285.)
120. O número de setembro traz, fechando a edição, duas
notas. A primeira refere-se à Liga Internacional da Paz, uma associação que
tinha por objetivo eliminar da Terra o flagelo da guerra. A Revista fornece os
endereços dos locais onde os interessados poderiam aderir à Liga. A nota
seguinte anuncia a obra O Espiritismo na Bíblia, ensaio sobre as ideias
psicológicas entre os antigos hebreus, de autoria de Henri Stecki, de São
Petersburgo. (Pág. 285.)
121. Um artigo assinado por W. Foelkner, de São
Petersburgo, analisa o livro Horas de Piedade, escrito por C. Tschokke,
distinto escritor suíço e autor de várias obras literárias muito apreciadas na
Alemanha. O livro objeto do artigo havia tido desde 1815 mais de quarenta
edições e, embora escrito cinquenta e três anos atrás, apresenta ideias
nitidamente espíritas sobre vários assuntos, como a reencarnação e o corpo
espiritual ou perispírito. Na Revista são transcritas do livro citado a 141a.
Meditação – que fala do nascimento e da morte – e a 143a. Meditação – que
explica o que ocorre com as pessoas depois da morte corporal. (Págs. 287 a
290.)
122. Eis, de forma resumida, alguns trechos da 143a.
Meditação: I – A doutrina da ressurreição dos corpos era uma das mais antigas da
religião judaica. Mas eles interpretavam tal ideia de forma errônea imaginando
que os corpos materiais já sepultados é que um dia deveriam ressuscitar. II –
Paulo corrigiu esse equívoco, que era partilhado também pelos discípulos de
Jesus, esclarecendo que, da mesma maneira que há um corpo animal, há também um
corpo espiritual e é este que brilha e brilhará sempre. III – Diz-se muitas
vezes que o sono é o irmão da morte, e assim o é. O sono é a retirada do
Espírito ou alma, o abandono provisório feito por ela das partes mais
grosseiras do corpo. A mesma coisa ocorre no momento da morte. IV – No sono, a
vida vegetativa, abandonada a si mesma e deixada em repouso pelo Espírito, pode
continuar a trabalhar sem entraves na sua restauração, conforme as leis de sua
natureza. Eis por que, depois de um sono em estado de saúde, sentimos nosso
corpo repousado, com que se alegra o nosso Espírito. V – O sono é o alimento da
força vital. O estado de vigília é um consumo de força vital. VI – O sono
compõe-se sempre de visões, de desejos e de sentimentos, que se formam de uma
maneira independente dos sentidos exteriores do homem, que naquele momento se
encontram inativos. É por isso que raramente deixam uma impressão viva e
durável na memória. VII – Os sonhos são outras tantas provas da continuação da
atividade do Espírito. Um outro estado que nos dá a prova dessa atividade é o
estado de sonambulismo. VIII – Como explicar esse fenômeno? Como é que um homem
que dorme pode ver e ouvir, mais perfeitamente do que em vigília? A resposta é
simples: o corpo não é senão o envoltório da alma e sem ela nada pode
experimentar, porque é a alma que sente, vê e ouve o que se passa ao seu redor.
IX – Ao perder o corpo material com o fenômeno da morte, é fácil compreender
que o Espírito imortal conserva a consciência e o sentimento de sua existência e
– por meio do corpo espiritual de que fala o apóstolo Paulo – pode continuar a agir. (Págs. 290 a 297.)
123. Um dos correspondentes da Revista em Saigon, na
Cochinchina (hoje Vietnã), enviou a Kardec um longo artigo sobre o pensamento
de Lao-Tseu, um dos maiores filósofos da Antiguidade, que nasceu no ano 604
a.C., mais ou menos na época em que viveu Pitágoras e dois séculos antes de
Sócrates e Platão. De origem humilde, Lao-Tseu não teve outros meios de se
instruir senão a reflexão e numerosas viagens. Com a idade de cinquenta anos,
escreveu o livro A razão suprema e virtude, obra considerada autêntica pelos
historiadores chineses de todas as seitas. (Págs. 297 e 298.)
124. Eis, extraídos do artigo citado, algumas reflexões
atribuídas ao grande filósofo: I – A natureza espiritual é a natureza perfeita;
dela é que emanou o homem, e é a ela que ele deve voltar, desprendendo-se dos
laços materiais do corpo. O aniquilamento de todas as paixões materiais e o
afastamento dos prazeres mundanos são meios eficazes de se tornar digno de a
ela retornar. II – Todos os seres aparecem na vida e realizam os seus destinos;
contemplamos as suas renovações sucessivas. Esses seres materiais se mostram
incessantemente com novas formas exteriores. III – Aquele que conhece os homens
é instruído; aquele que conhece a si mesmo é verdadeiramente esclarecido. IV –
Aquele que subjuga os homens é poderoso; aquele que domina a si mesmo é
verdadeiramente forte. V – É preciso esforçar-se para chegar ao último degrau
da incorporeidade, a fim de poder conservar a maior imutabilidade possível. VI
– O homem virtuoso devemos tratá-lo como um homem virtuoso; o homem vicioso
devemos igualmente tratá-lo como um homem virtuoso. Eis a sabedoria e a
virtude. VII – Aquele que realiza obras difíceis e meritórias deixa uma
lembrança durável na memória dos homens. VIII – Aquele que não dissipa a sua
vida é imperecível; aquele que morre e não é esquecido tem uma vida eterna.
(Págs. 298 a 300.)
125. Como observa o eminente tradutor da obra de
Lao-Tseu, não encontramos na Grécia, antes de Aristóteles, uma série de
sorites, isto é, silogismos tão logicamente encadeados. Quanto ao seu conteúdo,
é fácil verificar que aí se enfileiram princípios semelhantes aos que servem de
base ao Espiritismo, salvo um único ponto de inspiração panteísta em que
Lao-Tseu parece identificar a criatura santificada com o Criador. (Págs. 301 e
302.)
126. A Revista noticia o sepultamento em Villèquiers,
Seine-Inferieur, da esposa de Victor Hugo, morta em Bruxelas. Impedido de
entrar em seu país, Victor Hugo acompanhou o corpo até a fronteira, onde pediu
a seu amigo Paul Meurice: “Dizei a minha filha que, esperando, sempre lhe envio
sua mãe”. Paul recordou esse pedido ao pronunciar, à beira do túmulo, palavras
de adeus à falecida. O recado do grande escritor é comentado por Kardec em nota
posta em seguida à notícia, na qual informa que a mulher de Victor Hugo foi
sepultada ao lado do túmulo onde haviam sido enterrados 25 anos antes sua filha
e seu genro, vítimas de um naufrágio. Ao dizer aquelas palavras, Victor Hugo
demonstrava mais uma vez sua convicção imortalista e a certeza de que a filha,
falecida em 1943, receberia sua mãe no seu retorno à pátria espiritual. (Págs.
302 a 304.)
127. Evocando as palavras do romancista e amigo, afirmou
Allan Kardec: “Quem quer que tenha chegado a isto é espírita; porque, se quiser
refletir seriamente, não pode escapar a todas as consequências lógicas do
Espiritismo. Os que repelem essa classificação é que, não conhecendo do
Espiritismo senão os quadros ridículos da crítica trocista, dele fazem uma
ideia falsa. Se se dessem ao trabalho de o estudar, de o analisar, de sondar o
seu alcance, ao contrário sentir-se-iam felizes por encontrar nas ideias que
constituem a sua felicidade uma sanção capaz de firmar a sua fé”. (Pág. 304.)
128. O jornal Figaro de 5 de abril de 1868
publicou um artigo em que seu autor revelou que o compositor E... acreditava
firmemente na doutrina da reencarnação e até mesmo dizia que em séculos
anteriores tinha sido escravo na Grécia, depois um histrião e, mais tarde, um
célebre compositor italiano que, invejoso, impedia seus confrades de produzir.
“Hoje sou punido por isto”, reconhecia ele; “é a minha vez de ser sacrificado
aos outros e me ver barrados os caminhos.” (Págs. 304 e 305.)
129. Tal ideia, observa Kardec, é puro Espiritismo
porque, não só é o princípio da pluralidade das existências, mas o da expiação
do passado, pela pena de Talião, nas existências sucessivas, segundo a máxima:
“A gente é sempre punido por onde pecou”. Essa crença é, portanto, uma causa
poderosa e muito natural de moralização. Não há ninguém que não compreenda que
se pode já ter vivido, e que, se já se viveu, pode-se reviver ainda. Ora, desde
que não é o corpo que pode reviver, esse pensamento é a sanção mais patente da
existência da alma, de sua individualidade e de sua imortalidade.
Respostas às
questões propostas
A. Em que época viveu Lao-Tseu?
Lao-Tseu, um dos maiores filósofos da Antiguidade, nasceu
no ano 604 a.C., mais ou menos na época em que viveu Pitágoras e dois séculos
antes de Sócrates e Platão. De origem humilde, Lao-Tseu não teve outros meios
de se instruir senão a reflexão e numerosas viagens. Com a idade de cinquenta
anos, escreveu o livro A razão suprema e virtude, obra considerada
autêntica pelos historiadores chineses de todas as seitas. (Revista Espírita
de 1868, pp. 297 e 298.)
B. Que recado formulou Victor Hugo a propósito do
falecimento de sua esposa?
Impedido de entrar em seu país, Victor Hugo pediu a seu
amigo Paul Meurice: “Dizei a minha filha que, esperando, sempre lhe envio sua
mãe”. Paul recordou esse pedido ao pronunciar, à beira do túmulo, palavras de
adeus à falecida. O recado do grande escritor é comentado por Kardec em nota
posta em seguida à notícia, na qual informa que a mulher de Victor Hugo foi
sepultada ao lado do túmulo onde haviam sido enterrados 25 anos antes sua filha
e seu genro, vítimas de um naufrágio. (Obra citada, pág. 302 a 304.)
C. A máxima “A gente é sempre
punido por onde pecou” pode ser considerada uma ideia espírita?
Evidentemente.
Essa ideia, observa Kardec, é puro Espiritismo porque não só é o princípio da
pluralidade das existências, mas igualmente da expiação do passado, pela pena
de Talião, nas existências sucessivas. (Obra
citada, pág. 305.)
Observação:
Para acessar a Parte 9 deste estudo, publicada na semana
passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/04/revista-espirita-de-1868-allan-kardec_23.html
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