Revista Espírita de 1868
Allan Kardec
Parte 9
Continuamos o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1868, periódico
editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por
Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de 1868 pertence a uma série iniciada em
janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando
desencarnou.
Cada parte do estudo, que é apresentado às
quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final
do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. Que sugeriu Kardec a propósito dos chamados padrinhos
espirituais?
B. Os Espíritos de nossos avós costumam visitar-nos?
C. Onde Pitágoras tomou conhecimento da ideia da
reencarnação?
Texto para leitura
108. Diversas comunicações, dadas em vários lugares, confirmaram
as ideias de Kardec sobre o tema alma da Terra. A Revista reproduziu uma dessas
comunicações, recebida em Bordeaux em abril de 1862, na qual o instrutor
espiritual diz claramente que a Terra não tem alma, porque não é um ser
organizado. Os Espíritos encarregados em cada mundo da execução das leis de
Deus são agentes de sua vontade, mas agem sob a direção de um delegado
superior. “É a coletividade de todas essas inteligências, encarnadas e
desencarnadas, inclusive o delegado superior, que constitui, a bem dizer, a
alma da Terra, da qual cada um de vós faz parte”, acrescentou o comunicante.
(Págs. 261 e 262.)
109. Os santos sob cuja invocação nos colocam ao
nascermos tornam-se nossos protetores? Respondendo a essa questão, Kardec diz
que os espíritas sabem, perfeitamente, que pensamento atrai pensamento e que a
simpatia dos Espíritos, beatificados ou não pela Igreja, depende dos nossos
sentimentos a seu respeito. Ora, existem santos que ninguém a rigor conhece, a
não ser o nome. Os espíritas deveriam, em casos assim, agir de forma diferente.
Ao nascer uma criança, os pais escolheriam, entre os Espíritos, beatificados ou
não, antigos ou modernos, parentes ou estranhos, um que tenha dado provas
irrecusáveis de sua superioridade, por sua vida exemplar, pelos atos meritórios
praticados, pelas virtudes exemplificadas. Eles então invocá-lo-iam solenemente
e com fervor, pedindo-lhe que se unisse ao anjo da guarda da criança para a
proteger na vida terrena e guiá-la com seus bons conselhos e suas boas
inspirações. Depois, à medida que a criança crescesse, ensinar-lhe-iam a
história do seu protetor, contar-lhe-iam suas boas ações, e a criança saberia,
então, por que tem o seu nome, nome que lhe lembraria um belo modelo a seguir.
Então, na festa de aniversário o protetor invisível não deixaria de associar-se
ao júbilo geral, porque teria seu lugar no coração dos assistentes. (Págs. 262
a 264.)
110. Em casa de um escritor-poeta de grande renome havia
o costume de manter sempre, à mesa da família, uma cadeira vazia. Fechada por
um cadeado, ninguém nela podia sentar-se: era o lugar reservado aos
antepassados, aos avós e aos amigos que desencarnaram. Kardec diz que a cadeira
aparentemente vazia era toda uma profissão de fé e um ensinamento, tanto para
os grandes, quanto para os pequenos. A ideia da presença, em torno de nós, de
nossos avós ou de pessoas veneradas será para todos, sobretudo para as
crianças, um freio mais poderoso que o medo do diabo. (Pág. 264.)
111. A Revista noticia o surgimento de mais uma sociedade
espírita: o Círculo da Moral Espírita, de Toulouse. A palavra círculo, observa
Kardec, indicava que ele não se limitaria a sessões ordinárias, mas que seria,
além disso, um local de reuniões, onde os membros poderiam vir entreter-se com
o objetivo especial de seus estudos. (Pág. 265.)
112. Os traços do Espiritismo, que se encontram por toda
a parte, são como as inscrições e as medalhas antigas, que atestam através dos
séculos o movimento do espírito humano. Essa observação foi feita por Kardec a
propósito da obra As Memórias de um Marido, editada em 1849 por Eugène
Sue, que relata a vida do Sr. Fernand Duplessis. Algumas passagens da obra são
transcritas pela Revista e mostram que tanto a Sra. Raymond como seu filho Jean
tinham profundas convicções imortalistas. A morte, diz o livro, “não é senão a
hora de um renascimento completo, que uma outra vida espera com suas novidades
misteriosas”. No texto da obra há referência ao dogma druídico segundo o qual a
alma se aperfeiçoa numa série de existências até atingir a perfeição. (Págs.
265 a 268.)
113. Na seção de livros, o destaque do número de setembro
é o livro O Regimento Fantástico, de Victor Dazur, publicado em Lyon. A Revista
reproduz uma resenha da obra publicada a 22 de junho de 1868 pelo jornal Le
Siècle. O livro relata um sonho que conduz o cabo François Pamphile a
Marte, aliás Soraï-Kanor, nome que os marcianos lhe deram. Lá, o cabo mantém
contato com um suboficial que na Terra foi rei e se chamou Francisco I. Este
pertencia naquele planeta ao regimento fantástico, um regimento composto da
maioria dos soberanos que haviam reinado na Terra, cujo coronel é Alexandre, o
Grande, assessorado pelo tenente-coronel Júlio César e pelo major Péricles. O
regimento conta com três batalhões e cada batalhão possui oito companhias.
Sesostris, Carlos Magno e Aníbal são os comandantes dos batalhões. Cada
companhia é composta de soberanos de uma mesma nação. A companhia francesa é a
primeira do segundo batalhão e tem como capitão Luís XIV. As cantineiras do
regimento são Semíramis, Cleópatra, Elisabeth e Catarina II. Assim como os
oficiais e soldados do regimento são antigos soberanos ou homens que exerceram
a soberania na Terra, as cantineiras e as servas da cantina são antigas
soberanas. (Págs. 268 a 271.)
114. Depois de informar que há soberanos que jamais
figuraram no regimento fantástico, o suboficial explicou que o regimento nunca
muda de guarnição e jamais faz guerra. Trata-se, na verdade, de uma espécie de
regimento penitenciário no qual as pessoas expiam as maldades cometidas em seus
reinados. O suplício habitual dos militares e das cantineiras é o suplício de
Tântalo, porque o poder divino interditou a guerra em Marte. Os voluptuosos
sofrem um suplício semelhante: conservam a beleza de que gozaram na Terra, mas
são submetidos a uma causa fisiológica que os condena a uma castidade absoluta.
Outro castigo, que os desola ainda mais, é o suplício das lembranças. A cada
instante são eles condenados à sala de lembranças onde recordam os crimes que
cometeram e veem os sofrimentos e os morticínios que ordenaram. Quando Luís XI
está na sala de lembranças, é posto numa gaiola de ferro, em uso no seu
reinado, bem em frente ao cadafalso de Nemours, do qual o sangue goteja sobre a
cabeça de seus filhos. (Págs. 271 e 272.)
115. Comentando o livro, Kardec afirma que seu autor se
inspirou largamente nas obras espíritas para escrevê-lo. Sua teoria a respeito
das penas futuras, da pluralidade das existências e do estado dos Espíritos
desprendidos dos corpos foi evidentemente colhida na doutrina espírita, da qual
reproduz a ideia e até mesmo a forma. (Pág. 273.)
116. As passagens da obra reproduzidas pela Revista não
deixam, com efeito, dúvidas sobre este ponto, sobretudo no tocante à
necessidade de reparação, focalizada pelo autor, a que o Codificador juntou uma
nota explicativa dizendo que a necessidade de reparação será individual quando
o efeito do mal praticado se detém na pessoa lesada. Se, ao contrário, esse mal
prejudica a centenas de indivíduos, a dívida será centuplicada, porque serão centenas
de reparações a realizar. Essa é a situação dos monarcas fracassados que não
cumpriram corretamente os seus deveres. (Págs. 275 e 276.)
117. Kardec elogia o livro Conferências sobre a alma,
do Sr. Alexandre Chaseray, em que o princípio da pluralidade das existências é
tratado de maneira completa. Nela, seu autor procura demonstrar que a ideia da
reencarnação cresce e se impõe cada dia mais aos Espíritos esclarecidos. Eis
alguns trechos extraídos da obra: I – A transmigração das almas é uma ideia filosófica
ao mesmo tempo das mais antigas e das mais modernas. II – A metempsicose
constitui o fundo da religião dos indianos, que é muito anterior ao judaísmo.
III – Segundo Heródoto, os sacerdotes egípcios foram os primeiros a anunciar
que a alma é imortal e passa sucessivamente por todas as espécies animais antes
de entrar num corpo humano. É provável que, tendo vivido muito tempo no Egito,
foi dali que Pitágoras trouxe para a Grécia essa crença. IV – Os gregos jamais
abandonaram completamente a ideia da metempsicose. Os que dentre eles não
admitiam por inteiro a doutrina de Pitágoras acreditavam vagamente com Platão
que a alma tinha existido algures, antes de se manifestar sob a forma humana. V
– Pierre Leroux, embora não creia que o homem haja passado pelos tipos
inferiores da criação, não deixa de ser um ardoroso defensor da ideia de que a
vida atual se liga a uma série de existências que a precederam. (Págs. 276 a
282.)
118. Diz o Codificador que as numerosas citações feitas
pelo Sr. Alexandre Chaseray, embora longe de serem completas, provam quanto é
geral a ideia da pluralidade das existências, que em pouco tempo será, sem
dúvida, admitida como verdade incontestável. “Salvo alguns pontos muito
controvertidos, observa Kardec, a obra contém vistas muito profundas e muito
justas, às quais o Espiritismo não deixa de associar-se.” (Pág. 283.)
Respostas às
questões propostas
A. Que sugeriu Kardec a propósito dos chamados padrinhos
espirituais?
Diz Kardec que, ao nascer uma criança, os pais deveriam
escolher, entre os Espíritos, beatificados ou não, antigos ou modernos,
parentes ou estranhos, um que tenha dado provas irrecusáveis de sua
superioridade, por sua vida exemplar, pelos atos meritórios praticados, pelas
virtudes exemplificadas. Eles então invocá-lo-iam solenemente e com fervor,
pedindo-lhe que se unisse ao anjo da guarda da criança para a proteger na vida
terrena e guiá-la com seus bons conselhos e suas boas inspirações. Depois, à
medida que a criança crescesse, ensinar-lhe-iam a história do seu protetor,
contar-lhe-iam suas boas ações, e a criança saberia, então, por que tem o seu
nome, nome que lhe lembraria um belo modelo a seguir. Então, na festa de
aniversário o protetor invisível não deixaria de associar-se ao júbilo geral,
porque teria seu lugar no coração dos assistentes. (Revista Espírita de 1868,
pp. 262 a 264.)
B. Os Espíritos de nossos avós
costumam visitar-nos?
Sim. Em face
disso, afirmou Kardec que a ideia da presença, em torno de nós, de nossos avós
ou de pessoas veneradas será para todos, sobretudo para as crianças, um freio
mais poderoso que o medo do diabo. (Obra
citada, pág. 264.)
C. Onde Pitágoras tomou conhecimento da ideia da
reencarnação?
Conforme exposto no livro Conferências sobre a alma,
do Sr. Alexandre Chaseray, em que o princípio da pluralidade das existências é
tratado de maneira completa, tudo indica que, tendo vivido muito tempo no
Egito, foi dali que Pitágoras trouxe para a Grécia essa crença. (Obra citada,
pp. 276 a 282.)
Observação:
Para acessar a Parte 8 deste estudo,
publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/04/revista-espirita-de-1868-allan-kardec_16.html
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