Revista Espírita de 1868
Allan Kardec
Parte 8
Continuamos o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1868, periódico
editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseia-se na tradução feita por
Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de 1868 pertence a uma série iniciada em
janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando
desencarnou.
Cada parte do estudo, que é apresentado às
quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final
do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. Existe mediunidade ao abrigo dos maus Espíritos?
B. São Francisco Xavier alguma vez se referiu à reencarnação?
C. Que significa a expressão alma da Terra?
Texto para leitura
98. Segundo o Duque de Saint-Simon, na casa do Duque de
Orléans a mediunidade de vidência pelo copo d’água já era conhecida em 1706. Um
homem – provavelmente o sensitivo – dizia algo baixinho sobre o copo cheio
d’água e logo as pessoas ali viam imagens. Para certificar-se da veracidade da
vidência, o Duque ordenou a um de seus servidores que fosse imediatamente à
casa da Sra. Nancré e ali examinasse quem estava, o que faziam, a posição e o
mobiliário da sala e a situação de tudo quanto lá se passava e depois, sem
perder um instante, vir dizer-lhe ao ouvido. Em seguida, viu-se no copo a
reprodução exata do que o servidor descrevera. (Págs. 244 a 246.)
99. Comentando o assunto, Kardec menciona outro fato,
ocorrido 15 anos antes, numa época e numa região da Espanha onde o Espiritismo
era desconhecido. Nesse caso, algumas pessoas podiam ver imagens numa garrafa
de cristal cheia d’água. Em Palermo (Sicília), a filha de um dos assinantes da Revista
que estivera recentemente em Paris, ao ler no número de junho o artigo sobre a
vidência pelo copo d’água, quis experimentar ver seu pai. Não o viu, mas pôde
ver várias ruas que, pela descrição feita a seu pai, este facilmente reconheceu
como sendo as ruas por onde ele andara na capital francesa. Por que ela viu as
ruas e não o pai? Os Espíritos disseram a Kardec que as coisas se passaram
assim para lhe dar uma prova irrecusável de que em nada a imaginação havia
entrado no caso. (Págs. 247 e 248.)
100. Com ou sem água, observa Kardec, tanto o copo quanto
a garrafa de cristal evidentemente representam, nesse fenômeno, o papel de
agentes hipnóticos. A concentração da visão e do pensamento em um ponto
provocam um maior ou menor desprendimento da alma e, por conseguinte, o desenvolvimento
da visão psíquica. (Consulte-se a respeito a Revista de janeiro de 1860, págs.
6 a 11: relações entre o magnetismo e o hipnotismo.) (Págs. 248 e 249.)
101. Concluindo, lembra o Codificador que o copo d’água
não é uma garantia contra a imisção dos maus Espíritos, pois a experiência já
provou que os Espíritos mal-intencionados se servem desse meio como de outros
para induzir as pessoas em erro e abusar de sua credulidade. “Não há – explica
Kardec – mediunidade ao abrigo dos maus Espíritos, e não existe nenhum processo
material para os afastar. O melhor, o único preservativo está em si próprio; é
por sua própria depuração que se pode afastá-los, como pela limpeza do corpo se
preserva contra os insetos nocivos.” (Pág. 249.)
102. Na história de São Francisco Xavier, contada pelo
Padre Bouhours, existe uma curiosa passagem que reproduz um diálogo travado por
Francisco Xavier, então missionário no Japão, e um bonzo japonês chamado
Tucarondono. O bonzo, que recordava com clareza suas existências passadas, perguntou
a Francisco Xavier se ele o reconhecia. Este disse que jamais o havia visto.
Rindo muito, o bonzo explicou-lhe então que 15 séculos atrás eram ambos
negociantes em Frénasona, dando-lhe, em seguida, uma lição sobre as vidas
sucessivas. Como é improvável que São Francisco Xavier tivesse inventado essa
história, o fato mostra que a doutrina da reencarnação era conhecida no Japão
naquela época, em condições parecidas às que são hoje ensinadas pelos
Espíritos. (Págs. 249 a 251.)
103. O jornal La Mahouna, de Guelma (Argélia),
publicou no dia 26 de junho carta enviada pelo Sr. Jules Monico em que este
protesta contra crítica aos espíritas veiculada no Indépendant, de
Constantina. Na carta, diz o missivista que o Espiritismo sucede aos
feiticeiros como a astronomia sucedeu aos astrólogos, ou seja, ele vem destruir
os erros dos feiticeiros e revelar uma ciência nova à humanidade. Afirmando que
o Espiritismo tem por inimigos apenas os que não o estudaram, o Sr. Monico diz
que a opinião espírita na França era representada por cinco revistas ou
jornais, assim como na Inglaterra, na Alemanha, na Itália, na Rússia e até nos
Estados Unidos da América, por numerosos jornais ou revistas, e os adeptos do
Espiritismo ali se contavam por milhões de pessoas. (Págs. 251 a 253.)
104. Nascido a 15 de fevereiro, continuava com sucesso o
curso de sua publicação o jornal O Espiritismo em Lyon, que podia agora
ser vendido na via pública, graças à autorização que lhe fora concedida pelo
Sr. senador prefeito do Ródano. (Págs. 253 e 254.)
105. Tendo Kardec escrito em seu livro A Gênese
que o globo terrestre, em sua origem, não continha um átomo a mais nem a menos
do que hoje, um correspondente da Revista em Sens suscitou uma dúvida sobre
essa assertiva, o que obrigou o Codificador a escrever o artigo intitulado
Aumento e diminuição do volume da Terra, que abre o número de setembro da Revista.
No artigo, Kardec admite que possam ocorrer modificações no volume da Terra,
mas não em sua massa, ou seja, a massa do globo – a soma das moléculas que
compõem o conjunto de suas partes sólidas, líquidas e gasosas – é
incontestavelmente a mesma desde a sua origem. (Págs. 255 e 256.)
106. O artigo é complementado por uma comunicação
assinada pelo Espírito de Galileu, transmitida na Sociedade Espírita de Paris
em julho de 1868, na qual o eminente Espírito trata do assunto e afirma que, em
sua opinião, a existência dos mundos pode dividir-se em três períodos. No
primeiro, verifica-se a condensação da matéria; o volume do globo diminui, mas
a massa continua a mesma; é o período da infância. No segundo período, há a
contração, a solidificação da crosta, o surgimento dos germes e o
desenvolvimento da vida até o aparecimento do tipo mais perfectível. É a idade
da virilidade; o globo está em toda a sua plenitude e perde, mas muito pouco,
seus elementos constitutivos. À medida que seus habitantes progridem
espiritualmente, o planeta passa ao período de diminuição material. Essa perda
se dá não apenas por causa do atrito, mas também pela desagregação das moléculas,
como uma pedra dura que, consumida pelo tempo, acaba por virar poeira. Em seu
duplo movimento de rotação e de translação, o globo deixa no espaço parcelas
fluidificadas de sua substância, até o momento em que sua destruição for
completa. Dessa forma, nascimento, vida e morte; infância, virilidade e
decrepitude, tais são as fases pelas quais passa toda aglomeração de matéria
orgânica ou inorgânica. “Só o espírito, que não é matéria, é indestrutível.” (Págs.
257 e 258.)
107. A Terra não tem, como os homens, uma alma, de modo
que a expressão alma da Terra não é exata. Esse assunto é comentado por Kardec
em um artigo em que o Codificador faz várias observações importantes: I –
Admitido que o princípio da vida tenha sua fonte no movimento molecular, não se
poderá contestar que seja ainda mais rudimentar no mineral do que na planta. II
– O desenvolvimento orgânico está sempre em relação com o desenvolvimento do
princípio inteligente. O organismo se completa à medida que se multiplicam as
faculdades da alma. III – A escala orgânica segue sempre, em todos os seres, a
progressão da inteligência, desde o pólipo até o homem; e não poderia ser
diferente, desde que à alma é necessário um instrumento apropriado à
importância das funções que deve desempenhar. De que serviria à ostra ter a
inteligência do macaco, sem os órgãos necessários à sua manifestação? IV – Por
alma da Terra pode entender-se, mais racionalmente, a coletividade dos
Espíritos encarregados da elaboração e da direção de seus elementos
constitutivos, ou, melhor ainda, o Espírito ao qual é confiada a alta direção
dos destinos morais e do progresso de seus habitantes. V – Esse Espírito não
está nela encarnado; ele é o chefe, preposto à sua direção, como um general é
preposto à condução de um exército. (Págs. 259 e 260.)
Respostas às
questões propostas
A. Existe mediunidade ao abrigo dos maus Espíritos?
Segundo Kardec, não existe. E inexiste também um processo
material capaz de os afastar. O melhor meio, o único preservativo está no
indivíduo mesmo, pois é por sua depuração que se pode afastar os maus
Espíritos, do mesmo modo que pela limpeza do corpo a pessoa se preserva contra
os insetos nocivos. (Revista Espírita de 1868, pág.
249.)
B. São Francisco Xavier alguma vez se referiu à
reencarnação?
Conforme uma história contada pelo Padre Bouhours, sim.
Segundo ele, Francisco Xavier, então missionário no Japão, manteve certa vez
contato com um bonzo japonês chamado Tucarondono. O bonzo, que recordava com
clareza suas existências passadas, perguntou a Francisco se ele o reconhecia.
Ele disse que jamais o havia visto. Rindo muito, o bonzo explicou-lhe então que
15 séculos atrás eram ambos negociantes em Frénasona, dando-lhe, em seguida,
uma lição sobre as vidas sucessivas. (Obra citada, pp. 249 a 251.)
C. Que significa a expressão alma da Terra?
Como a Terra não tem, como os homens, uma alma, a
expressão alma da Terra não é exata, embora usada por alguns Espíritos. Por
alma da Terra, diz Kardec, deve-se entender a coletividade dos Espíritos
encarregados da elaboração e da direção de seus elementos constitutivos, ou,
melhor ainda, o Espírito ao qual é confiada a alta direção dos destinos morais
e do progresso de seus habitantes. Esse Espírito não está nela encarnado; ele é
o chefe, preposto à sua direção, como um general é preposto à condução de um
exército. (Obra citada, pp. 259 e 260.)
Observação:
Para acessar a Parte 7 deste estudo,
publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/04/revista-espirita-de-1868-allan-kardec_01969058715.html
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