Que significa o título Filho do homem, usado tantas vezes
por Jesus?
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
Um
dileto amigo fez-nos a seguinte pergunta:
- Jesus ora se
intitulava Filho de Deus, ora se designava Filho do homem. Que
significam esses títulos?
As explicações
seguintes podem ser encontradas no livro Obras Póstumas, de Allan
Kardec, obra publicada bem depois de seu falecimento, composta de textos
esparsos que o Codificador do Espiritismo havia escrito, muitos deles até então
inéditos.
O título Filho
de Deus, longe de implicar igualdade, é, em verdade, indício de uma
submissão. Jesus é Filho de Deus como todas as criaturas o somos. Ele o chama
de Pai como nós aprendemos a chamar o Criador de nosso Pai.
A expressão “Filho
bem-amado de Deus”, que aparece no Evangelho, deriva do fato de que, tendo
Jesus chegado à perfeição que o aproxima de Deus, possui ele toda a sua confiança
e todo o seu afeto.
A expressão Filho
do homem, que Jesus utilizou em inúmeras oportunidades, tem outro
significado e, para compreendê-lo, é-nos necessário remontar à Bíblia, em que
ela aparece no livro de Ezequiel.
Eis o que está
registrado em Ezequiel:
Tal foi a imagem
da glória do Senhor que me foi apresentada. Tendo, pois, visto essas coisas,
lancei meu rosto por terra: e ouvi uma voz que me falava e disse: Filho do
homem, tende-vos sobre os vossos pés e eu falarei convosco. E o Espírito,
tendo-me falado da sorte, entrou em mim, e me firmou sobre os meus pés e eu o
ouvi que me falava e me dizia: Filho do homem, eu vos envio aos filhos de
Israel, para um povo apóstata que se retirou de mim. Violaram até este dia,
eles e seus pais, a aliança que fiz com eles. (Ezequiel, cap.
II, v. 1 a 3.)
A mesma
qualificação de Filho do homem aparece outras vezes em Ezequiel e parece
evidente que significa: o que nasceu do homem, por oposição àquilo que está
fora da Humanidade. O Senhor designou Ezequiel sob esse nome para lembrar-lhe
que, apesar do dom da profecia que lhe fora concedido, ele pertencia à
Humanidade e não devia considerar-se dotado de uma natureza excepcional.
Jesus deu a si
mesmo essa qualificação com uma persistência notável, porque não é senão em
pouquíssimas circunstâncias que ele se diz Filho de Deus, com o objetivo
evidente de lembrar que ele também, como criatura de Deus, pertence à
Humanidade.
Segundo observa
Kardec, é bem provável que sua insistência em se designar Filho do homem fosse
um protesto antecipado contra a qualidade que no futuro lhe seria atribuída,
porquanto – segundo o dogma aprovado no Concílio de Niceia em 325 – a Igreja
considera Jesus um dos integrantes da Santíssima Trindade, conferindo-lhe assim
status de Deus.
Só para relembrar,
a sentença do Concílio de Niceia diz o seguinte:
A Igreja de Deus,
católica e apostólica, anatematiza os que dizem que houve um tempo em que o Filho
não existia, ou que não existia antes de haver sido gerado. [Negritamos]
As discussões e
perturbações que suscitou essa questão agitaram os espíritos durante três
séculos e só vieram a cessar com a proscrição dos bispos arianos, ordenada pelo
imperador Constantino, e o banimento do papa Líbero, que não quis sancionar a
decisão do Concílio.
Para saber mais
sobre o assunto, sugerimos ao leitor que leia o Especial intitulado Como o
Espiritismo vê Jesus e a moral cristã, que escrevemos e publicamos na
revista O Consolador. Para acessá-lo, clique aqui: http://www.oconsolador.com.br/36/especial.html
Nota do Autor:
Para ler o texto
publicado no domingo anterior, clique em: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/03/que-dizer-aos-que-negam-o-umbral-e-as.html
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