Revista Espírita de 1868
Allan Kardec
Parte 11
Continuamos o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1868, periódico editado e dirigido por Allan Kardec.
O estudo baseia-se na tradução feita por
Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de 1868 pertence a uma série iniciada em
janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando
desencarnou.
Cada parte do estudo, que é apresentado às
quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final
do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. Como Kardec via a disseminação do materialismo no
Velho Mundo?
B. A transformação da Terra e sua elevação na hierarquia
dos mundos fazem parte das leis da Natureza?
C. Como entender os chamados flagelos naturais?
Texto para leitura
130. A Revista reproduz carta publicada no Fígaro na qual
o Sr. A. Regnard faz uma autêntica profissão de fé no materialismo, uma
corrente de ideias que crescia e revelava uma intolerância inimaginável típica
da Igreja de tempos atrás. Os excessos que eles cometiam tinham, contudo, a sua
utilidade e sua razão de ser: amedrontavam a sociedade, e o bem sempre sai do
mal. É preciso, diz Kardec, o excesso do mal para se sentir a necessidade de
coisa melhor, sem o que o homem não sairia de sua inércia. (Págs. 306 e 307.)
131. A causa primeira do desenvolvimento da incredulidade
estava, diz Kardec, na insuficiência das crenças religiosas e na sua
imobilidade. Se, em lugar de ficar para trás, as religiões tivessem seguido o
movimento progressivo do espírito humano, mantendo-se sempre no nível da
ciência, a fé, em vez de se extinguir, teria crescido com a razão, porque é uma
necessidade para a humanidade. Não se teria, então, aberto a porta à
incredulidade que vinha sapar o que delas restava. As religiões colhiam, desse
modo, o que haviam semeado. (Pág. 307.)
132. O materialismo era, segundo Kardec, uma consequência
da época de transição por que o planeta passava. Não era bem um progresso, mas
um instrumento de progresso, e desapareceria, provando a sua insuficiência para
a manutenção da ordem social e para a satisfação dos espíritos sérios. A
humanidade, que necessita crer no futuro, jamais se contentaria com o vazio que
o materialismo deixa após si e procuraria algo de melhor para o combater. (Pág.
307.)
133. Em carta publicada pela Petite Presse, a 20
de setembro de 1868, o Sr. Ponson du Terrail, que tempos atrás havia criticado
o Espiritismo, declarou publicamente sua convicção de ter vivido anteriormente,
ao tempo da Liga, sob o governo de Henrique III e Henrique IV. Kardec,
comentando o caso, disse que o conhecido escritor talvez não soubesse que a
reencarnação é um dos princípios fundamentais da doutrina que outrora ele
ridicularizara. (Págs. 308 e 309.)
134. Duas comunicações recebidas na Sociedade Espírita de
Paris, assinadas pelos Espíritos de Arago e do doutor Barry, em resposta a uma
consulta feita pelo Dr. Ignácio Pereira, médico e fundador do Instituto
Homeopático dos Estados Unidos da Colômbia, examinam a questão da influência
dos planetas nas perturbações físicas que se verificam em nosso globo. Eis, de
forma resumida, os ensinamentos contidos nas referidas mensagens: I – Não há na
natureza um único fenômeno que não seja regulado pelas leis universais que
regem a criação. Os fenômenos estão, desse modo, sujeitos a uma lei de
periodicidade, que provoca o seu retorno em certas épocas, nas mesmas
condições, ou seguindo, quanto à intensidade, uma lei de progressão geométrica
crescente ou decrescente, porém contínua. II – Nenhum cataclismo pode nascer
espontaneamente e, se seus efeitos parecem tal, as causas que o provocam são
postas em ação desde um tempo mais ou menos longo. III – Cada corpo celeste,
além dos movimentos conhecidos que definem o dia, a noite e as estações, sofre
revoluções que demandam milhares de séculos para a sua perfeita realização. IV
– Num mesmo sistema planetário, todos os corpos que dele dependem reagem uns
sobre os outros; as influências físicas são aí solidárias, e não há um só dos
efeitos que não seja a consequência das influências de todo esse sistema. V –
Os sistemas planetários reagem também uns sobre os outros, como as nebulosas
reagem sobre as nebulosas e os planetas reagem sobre os planetas. VI – A
efervescência que por vezes se manifesta numa população, entre os homens de uma
mesma raça, não é uma coisa fortuita, nem resultado de um capricho. Ela tem sua
causa nas leis da natureza. VII – Assim, quando se diz que a humanidade chegou
a um período de transformação e que a Terra deve elevar-se na hierarquia dos
mundos, não se deve ver nessas palavras nada de místico, mas, ao contrário, a
realização de uma das grandes leis fatais do Universo, contra as quais é
impotente toda a má vontade humana. VIII – A humanidade já se transformou em
outras épocas, e cada transformação é marcada por uma crise que é, para o
gênero humano, o que são as crises do crescimento para os indivíduos. IX – Uma
coisa que parecerá estranho, mas que é rigorosamente verdadeiro, é que o mundo
dos Espíritos sofre o contragolpe de todas as comoções que agitam o mundo dos
encarnados, ou melhor, ele toma aí uma parte ativa. Quando uma revolução social
se realiza na Terra, ela abala igualmente o mundo invisível. X – O período da
transformação anunciada se iniciou. É nesse período que se verá florescer o
Espiritismo, que dará então os frutos que dele se esperam. É, pois, para o
futuro, mais que para o presente, que trabalhamos; mas era preciso que esses
trabalhos fossem elaborados previamente, porque preparam as vias da regeneração
pela unificação e a racionalidade das crenças. (Págs. 309 a 314.)
135. A Revista reproduz notícia divulgada pelo Écho de
Fourvière, a respeito do exemplo de verdadeira caridade praticada por um
pobre homem, o Sr. Ginet, que recolheu na própria casa uma mendiga coberta de
chagas infectas que, tomada de um enfraquecimento súbito, teria sucumbido na
rua, não fosse a ajuda recebida. Se o Sr. Ginet era espírita, não se sabe, mas
seu ato, sim, foi um ato genuinamente espírita, visto que a caridade é a
suprema lei do Espiritismo, que, segundo palavras textuais de Kardec, “não
reivindica em seu proveito a ação desse homem, mas se glorifica de professar os
princípios que o levaram a praticá-la”. Encerrando a nota, o Codificador do
Espiritismo lamenta que os jornais tenham menos interesse em divulgar as boas
ações do que os crimes e os escândalos. Como o exemplo é contagioso, por que
não pôr antes aos olhos das massas o exemplo do bem que o do mal? (Págs. 314 a
316.)
136. Ch. Pereyra, de São Petersburgo, relata um curioso
fato que se passou com um velho general húngaro, muito conhecido por sua
coragem e que, no entanto, tremeu de medo ao verificar que o castelo por ele
adquirido era, efetivamente, assombrado por Espíritos, como o seu intendente
avisara. Sozinho na biblioteca do castelo, o general ouve um ruído no salão. Em
seguida, o ruído redobra e é acompanhado do movimento de uma gaveta de uma
cômoda, que se abriu. Convencido de que eram ladrões que estavam na casa, ele
chamou o enorme cão que o acompanhava. O cachorro se aproximou, mas pôs-se a
tremer, voltando para o canapé onde dormia. O general também começou a tremer e
se ocultou na biblioteca. Mais tarde, confessou: “Eu não tive medo senão duas
vezes: há dezoito anos, quando, no campo de batalha, uma bomba estourou aos meus
pés; a segunda, quando vi o medo apoderar-se de meu cão”. (Págs. 316 e 317.)
137. Na seção de livros, a Revista noticia a publicação
da Correspondência de Lavater com a Imperatriz Maria da Rússia, uma iniciativa
da Livraria Internacional, tendo em vista o interesse que a divulgação das
cartas pela Revista havia despertado na França. (Pág. 318.)
138. O número de novembro da Revista transcreve duas
cartas enviadas por confrades residentes na Ilha Maurícia (antiga Ilha de
França), onde nos últimos dois anos ocorrera uma epidemia tão séria que
devastou a região e vitimou sessenta mil pessoas. A maior parte dos membros do
grupo espírita de Port-Louis, que funcionava tão bem, foram atingidos pela
moléstia e, por causa disso, as reuniões foram suspensas. (Págs. 319 e 320.)
139. A moléstia que se abateu sobre a população da Ilha
tomou múltiplas formas, o que fez com que os médicos jamais chegassem a um
acordo. Somente o jovem Dr. Labonté conseguiu de certo modo definir a moléstia,
que, depois de tantos estragos, parecia estar chegando ao seu término, quase
dois anos depois que os habitantes da Ilha assistiram a uma impressionante
chuva de estrelas cadentes caída na noite de 13 para 14 de novembro de 1866. As
estrelas cadentes foram tão numerosas que fizeram tremer e impressionaram os
que as observaram. O espetáculo ficará para sempre gravado na memória daquele
povo, porque foi precisamente depois do fato que a moléstia tomou um caráter
aflitivo, tornando-se geral e mortal. (Págs. 320 e 321.)
140. Depois de breves comentários de Kardec, a Revista
reproduz duas comunicações recebidas na Sociedade Espírita de Paris, onde as
cartas foram lidas. Firmadas pelos Espíritos de Clélie Duplantier e do doutor
Demeure, as mensagens esclarecem pontos importantes relacionados com a epidemia
que acometeu a Ilha Maurícia e os flagelos em geral. Eis, de forma resumida, o
que dizem as mencionadas comunicações: I – As crises e os flagelos que dizimam
passo a passo as diferentes regiões do globo não ocorrem por acaso; são eles a
consequência das influências dos mundos e dos elementos. Preparadas de longa
data, sua causa é, por conseguinte, perfeitamente normal. II – A saúde é o
resultado do equilíbrio das forças naturais. Se uma doença epidêmica devasta
qualquer parte, não pode ser senão a consequência de uma ruptura desse
equilíbrio. III – Os meteoros conhecidos pelo nome de estrelas cadentes são
compostos de elementos materiais, como tudo o que cai sob os nossos sentidos;
não aparecem senão graças à fosforescência desses elementos em combustão e cuja
natureza especial por vezes desenvolve no ar respirável influências deletérias
e morbíficas. IV – As estrelas cadentes eram, para a Ilha Maurícia, não o
presságio, mas a causa secundária do flagelo. V – Os que sobreviveram, em
contacto forçado com os doentes e os agonizantes, foram testemunhas de cenas
que a princípio não perceberam, mas cuja lembrança lhes voltará mais tarde. VI
– Os casos de aparição, de comunicação com os mortos e as previsões têm sido
ali muito comuns. Apaziguado o desastre, a memória desses fatos surgirá e
provocará reflexões que, pouco a pouco, levarão muitos a aceitar nossas
crenças. VII – Maurícia vai renascer! O ano novo verá extinguir-se o flagelo de
que foi vítima, não por efeito dos remédios, mas porque a causa terá produzido
o seu efeito, enquanto outras regiões sofrerão, por sua vez, o ataque de um mal
da mesma ou de qualquer outra natureza, determinando os mesmos desastres e
conduzindo aos mesmos resultados. VIII – Uma epidemia universal teria semeado o
espanto da humanidade inteira e detido por muito tempo a marcha do progresso.
Uma epidemia restrita, atacando passo a passo e sob múltiplas formas cada
centro de civilização, produz os mesmos efeitos salutares e regeneradores. IX –
Os que morrem são feridos de impotência, mas os que veem a morte à sua porta
buscam novos meios de a combater. Quando todos os meios materiais estiverem
esgotados, cada um será constrangido a pedir a salvação aos meios espirituais.
X – Esses flagelos, para o materialista, trazem apenas a morte horrível e o
nada em consequência; para o espiritualista e, em particular, para o espírita,
pouco importa o que pode acontecer, porquanto, se escapar do perigo, a prova o
encontrará inabalável, e se morrer, o que conhece da outra vida fá-lo-á encarar
a passagem sem medo. XI – É preciso que, sejam quais forem a hora e a natureza
do perigo, nos compenetremos desta verdade: a morte não é senão uma palavra vã
e não há nenhum sofrimento que as forças humanas não possam dominar. XII – Cada
dia entramos no período transitório que deve trazer a transformação orgânica da
Terra e a regeneração de seus habitantes. Os flagelos são instrumentos de que
se serve o grande cirurgião do Universo, para extirpar do mundo, destinado a
marchar para a frente, os elementos gangrenados que nele provocam desordens
incompatíveis com o seu novo estado. XIII – Cada órgão desse corpo doente,
melhor dizendo, cada região do planeta será, passo a passo, batida por flagelos
diversos. Aqui, a epidemia; ali, a guerra: acolá, a fome. Algumas regiões já
foram provadas, mas seus habitantes estariam em completo erro se se fiassem na
era de calma que sucede à tempestade, para recair nos seus antigos erros. Há um
período de mora, que lhes é concedido, para entrarem num caminho melhor. Se não
o aproveitarem, novas vicissitudes virão para trazê-los ao arrependimento.
(Págs. 322 a 325.)
Respostas às
questões propostas
A. Como Kardec via a disseminação do materialismo no
Velho Mundo?
Segundo Kardec, o materialismo era uma consequência da
época de transição por que o planeta passava. Não era bem um progresso, mas um
instrumento de progresso, e desapareceria, provando a sua insuficiência para a
manutenção da ordem social e para a satisfação dos espíritos sérios. A
humanidade, que necessita crer no futuro, jamais se contentaria com o vazio que
o materialismo deixa após si e procuraria algo de melhor para o combater. (Revista
Espírita de 1868, pág. 307.)
B. A transformação da Terra e sua
elevação na hierarquia dos mundos fazem parte das leis da Natureza?
Sim. Em face
disso, quando se diz que a humanidade chegou a um período de transformação e
que a Terra deve elevar-se na hierarquia dos mundos, não se deve ver nessas
palavras nada de místico, mas, ao contrário, a realização de uma das grandes
leis fatais do Universo, contra as quais
é impotente toda a má vontade humana. A humanidade já se transformou em outras
épocas, e cada transformação é marcada por uma crise que é, para o gênero
humano, o que são as crises do crescimento para os indivíduos. (Obra citada,
pág. 309 a 314.)
C. Como entender os chamados flagelos naturais?
Diz Kardec que a cada dia entramos no período transitório
que deve trazer a transformação orgânica da Terra e a regeneração de seus
habitantes. Os flagelos são instrumentos de que se serve o grande cirurgião do
Universo, para extirpar do mundo, destinado a marchar para a frente, os
elementos gangrenados que nele provocam desordens incompatíveis com o seu novo
estado. Cada órgão desse corpo doente, melhor dizendo, cada região do planeta
será, passo a passo, batida por flagelos diversos. Aqui, a epidemia; ali, a
guerra: acolá, a fome. Algumas regiões já foram provadas, mas seus habitantes
estariam em completo erro se se fiassem na era de calma que sucede à
tempestade, para recair nos seus antigos erros. (Obra citada, pp. 322 a 325.)
Observação:
Para acessar a Parte 10 deste estudo, publicada na semana
passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/04/revista-espirita-de-1868-allan-kardec_0850756969.html
|
To read in English, click here: ENGLISH |


Nenhum comentário:
Postar um comentário