Revista Espírita de 1869
Allan Kardec
Parte 5
Damos sequência ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1869, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de 1869 pertence a uma série iniciada em
janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando
desencarnou.
Cada parte do estudo, que é apresentado às
quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final
do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. A roupa usada pelos Espíritos em suas aparições é uma
projeção da roupa que eles usavam quando encarnados?
B. Existem realmente lugares assombrados?
C. Que recomendação fez Kardec aos oradores espíritas?
Texto para leitura
42. O caso da senhorita Artus, sobrinha do sr. de Chilly,
simpático diretor do Odéon, tão cruelmente provado pela morte repentina de sua
filha única, foi objeto de reportagem pela Petite Presse de 11-2-1869,
reproduzida em março pela Revista. O jornal Fígaro também noticiou os
fatos, informando que a filha do sr. Chilly, no momento em que agonizava, deu
um pequeno anel à prima, dizendo-lhe: “Toma-o; tu mo trarás!” Pouco depois, a
pobre moça, momentos antes de expirar, gritava, dirigindo-se à prima a seu
lado: “Não! eu não quero morrer! não quero ir só! virás comigo! eu te espero!
eu te espero! não te casarás!” (Págs. 72 e 73)
43. Dias depois dos funerais, a prima da falecida caiu
doente e, segundo os jornais, estava à beira da morte, o que aumentava ainda
mais o sofrimento do sr. de Chilly. As palavras da enferma feriram a imaginação
da senhorita Artus? O que a agonizante disse foi resultado de uma espécie de
dupla vista suscitada pelo fenômeno da morte? Kardec disse sim a esta última
indagação, lembrando que exemplos de fatos semelhantes não são raros. (Págs. 72
e 73)
44. Um caso de aparição de um jovem ainda encarnado à sua
mãe, originalmente relatado por um jornal de Medicina de Londres, foi descrito
também pelo Journal de Rouen, de 22-12-1868, e reproduzido pela Revista.
Kardec, além de considerar o fato possível, explica que ele se deve à faculdade
que tem a alma de desprender-se do corpo físico e aparecer a distância. Foi o
que ocorreu. A dúvida que fica é pertinente à roupa usada na aparição pelo
filho. A vestimenta também se desprende? Kardec é claro: tanto as roupas,
quanto o corpo material, ficaram em seu lugar. O Espírito do jovem
apresentou-se diante de sua mãe com o corpo perispiritual e bastou-lhe pensar
em sua roupa habitual para que esse pensamento desse ao seu perispírito as
aparências dessa roupa. “As formas exteriores que revestem os Espíritos que se
tornam visíveis – diz Kardec – são, pois, verdadeiras criações fluídicas,
muitas vezes inconscientes. A roupa, os sinais particulares, os ferimentos, os
defeitos físicos, os objetos que usa, são o reflexo de seu próprio pensamento
no envoltório perispiritual.” (Págs. 73 a 75)
45. No Estado do Maine, Estados Unidos, uma senhora
pleiteou a nulidade de um testamento feito por sua mãe, alegando que esta o
tinha escrito orientada pelo ditado de uma mesa girante. O juiz declarou que a
lei não proibia as consultas às mesas girantes e, por isso, as cláusulas do
testamento foram mantidas. (Pág. 76)
46. Carta procedente de Yankton, cidade de Dakota,
Estados Unidos, informa que a legislação desse território acabara de conceder
às mulheres o direito de votar e ser votada. O jornal Siècle de
15-1-1869 deu destaque à notícia. No ano anterior, em julho, a sra. Alexandrine
Bris havia prestado, perante a Faculdade de Ciências de Paris, um exame de
bacharelado em ciências, tendo sido recebida com quatro bolas brancas, sucesso
raro, que lhe valeu as felicitações por parte do presidente. Os dois fatos, que
hoje não constituiriam nenhuma novidade, mostram que a mulher começava a ser
reconhecida e a emancipar-se, tanto na América quanto na Europa. (Pág. 76)
47. Reportando-se às faculdades da célebre médium sra.
Nichol, radicada em Londres, que se apresentara recentemente no hotel dos
Deux-Mondes, da rua d’Atin, o jornal Paris de 15-1-1869 informa que a
médium inglesa iria a Roma mostrar ao papa a sua faculdade, que consistia em
fazer cair chuvas de flores. A sra. Nichol era o que se chama médium de
transportes. Comentando a notícia, Kardec diz que assistira a algumas das
experiências realizadas pela Sra. Nichol, as quais não o satisfizeram
inteiramente. Ele lhe desejava, porém, boa sorte nas apresentações em Roma,
advertindo que a capital italiana era uma terra malsã para os médiuns que não
fazem milagres segundo a Igreja. O próprio sr. Home, lembra o Codificador, foi
obrigado a deixar a cidade quando ali esteve em 1864. (Pág. 77)
48. Diversas notícias recebidas da Ilha Maurícia
indicavam que o estado dessa infeliz região seguia exatamente as fases
anunciadas nas Revista de julho de 1867 e novembro de 1868. Surgira agora um
novo fato na ilha: o correspondente da Revista disse que precisou cortar em seu
jardim várias árvores muito grandes provenientes da Índia e chamadas
multiplicantes. Essas árvores gozavam de reputação muito má na região, porque
dizem serem elas assombradas por maus Espíritos. A partir do corte, então,
tornou-se quase impossível um dia de repouso na casa. Batidas por todos os
lados, portas que se abrem e fecham, suspiros, palavras confusas, móveis
mexendo-se – tudo isto passou a ocorrer, o que fez com que o correspondente
passasse a orar muito e a evocar os Espíritos perturbadores, que, no entanto,
só respondiam por injúrias e ameaças aos apelos da doutrinação. A reunião
espírita realizava-se nessa época uma vez por semana, mas era praticamente
impossível fazê-la, tais as traquinagens e perturbações dos Espíritos, que, à
exceção de um deles, não puderam ser moralizados, dada a sua maldade e dureza.
Em face disso, as sessões espíritas tiveram que ser suspensas e, mais tarde,
transferidas para o jardim, onde a perturbação era menor do que dentro de casa.
(Págs. 77 a 79)
49. A questão dos lugares assombrados, diz Kardec, é um
fato comprovado. Barulhos e perturbações causados pelos Espíritos são coisas
conhecidas. Mas teriam certas árvores, como as multiplicantes, um poder
atrativo particular? Levada a questão à Sociedade Espírita de Paris, o Espírito
de Clélie Duplantier transmitiu a 19-2-1869 as explicações que se seguem: I –
Todas as lendas, por mais ridículas que pareçam, repousam numa base real, numa
verdade incontestável. II – As multiplicantes foram, sobretudo na Ilha
Maurícia, e ainda eram, pontos indicados para as reuniões noturnas, porque,
acomodadas junto a seu tronco, as pessoas podem abrigar-se sob sua folhagem.
III – Os homens conservam, ao desencarnar, seus hábitos terrenos e muitos, portanto,
continuam a reunir-se debaixo dessas árvores. Eis por que há lugares mais
particularmente assombrados: os Espíritos que ali se reúnem já os frequentavam
em vida. IV – As multiplicantes não são, pois, mais propícias à habitação dos
Espíritos inferiores do que outros lugares. A natureza do abrigo, seu aspecto
lúgubre, nada tem que ver com isso; trata-se simplesmente de uma questão de
bem-estar. Desalojam-se dali os Espíritos e eles se vingam. V – Como são ainda
muito atrasados e materializados, vingam-se materialmente, batendo nas paredes,
movendo objetos e coisas desse tipo. (Págs. 79 e 80)
50. Sob o título de: O Espiritismo ante a Ciência,
o sr. Chevillard pronunciou em janeiro último uma conferência pública muito
aguardada. O orador limitou-se, no entanto, ao exame de alguns fenômenos
materiais, ignorando por completo o que, em essência, constitui o Espiritismo –
a parte filosófica e moral – sem a qual o Espiritismo não estaria implantado em
todas as partes do mundo. Adversário do Espiritismo, o sr. Chevillard não nega
os fatos; ao contrário, ele os admite. Apenas os explica a seu modo, negando,
evidentemente, a intervenção dos Espíritos. (Págs. 80 a 83)
51. Comentando o caso, Kardec diz que falar do
Espiritismo, não importa em que sentido, “é fazer propaganda em seu proveito”.
A experiência prova a verdade dessa assertiva. Por isso, não há o que lamentar
por causa das palavras proferidas pelo sr. Chevillard. “Mais tarde, sem a menor
dúvida, vindo o momento oportuno, o Espiritismo também terá os seus oradores
simpáticos”, asseverou o Codificador. “Apenas lhes recomendaremos que não caiam
no erro dos adversários, isto é, que estudem a questão a fundo, a fim de falar
com perfeito conhecimento de causa.” (Págs. 83 e 84)
Respostas às
questões propostas
A. A roupa usada pelos Espíritos em suas aparições é uma
projeção da roupa que eles usavam quando encarnados?
Não. As formas exteriores que revestem os Espíritos que
se tornam visíveis – diz Kardec – são verdadeiras criações fluídicas, muitas
vezes inconscientes. A roupa, os sinais particulares, os ferimentos, os
defeitos físicos, os objetos que usam são o reflexo de seu próprio pensamento
no envoltório perispiritual. (Revista Espírita de 1869, pp. 73 a
75.)
B. Existem realmente lugares assombrados?
Sim. A questão dos lugares assombrados é, segundo Kardec,
um fato comprovado. (Obra citada, pp. 79 e 80.)
C. Que recomendação fez Kardec aos oradores espíritas?
Ao prever que no momento oportuno o Espiritismo também
teria os seus oradores simpáticos, Kardec recomendou que eles não caíssem no
erro dos adversários do Espiritismo, isto é, que estudassem a questão a fundo,
a fim de falar sempre com perfeito conhecimento de causa. (Obra citada, pp. 83
e 84.)
Observação:
Para acessar a parte 4 deste estudo,
publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/06/revista-espirita-de-1869-allan-kardec_01139718232.html
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