Roteiro
Emmanuel
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Diante
da luta humana, o Espírito que amadureceu o raciocínio e despertou o coração,
sente-se cada vez mais só, mais desajustado e menos compreendido.
Por vagas crescentes de renovação, gerações diferentes surgem no caminho, impondo-lhe conflitos sentimentais e lutas acerbas.
Estranha
sede de harmonia invade-lhe a alma.
Habitualmente,
identifica-se por estrangeiro na esfera da própria família.
Ilhado
pela corrente escura das desilusões, a se sucederem, ininterruptas, confia-se
ao tédio infinito, guardando enrijecido o coração.
Essa,
porém, não é a hora da desistência ou do desânimo.
O
fruto amadurecido é a riqueza do futuro.
Quem
se equilibra no conhecimento é o apoio daquele que oscila na ignorância.
Que
será da escola quando o aluno, guindado à condição de mestre, fugir do
educandário, a pretexto de não suportar a insipiência e a rudeza dos novos
aprendizes? E, quem estará assim tão habilitado, perante o Infinito, ao ponto
de menoscabar a oportunidade de prosseguir na aquisição da Sabedoria?
A
Terra é a venerável instituição onde encontramos os recursos indispensáveis
para atender ao nosso próprio burilamento.
Milhões
de vidas formam o pedestal em que nos erigimos e, alcançando o grande
entendimento, cabe-nos auxiliar as vidas iniciantes, por nossa vez.
Por
isso, na plenitude do discernimento, reclamamos uma fé que nos reaqueça a alma
e nos soerga a visão, a fim de que a madureza de espírito seja reconhecida por
nós como o mais belo e o mais valioso período de nossa romagem no mundo,
ensinando-nos a agir sem apego e a servir sem recompensa.
Situados
no cimo da grande compreensão, não prescindimos da grande serenidade.
Se,
com o decurso do tempo, registamos o nosso isolamento íntimo, quando
alimentados pelo ideal superior, depressa observamos a nossa profunda ligação
com a Humanidade inteira.
Informamo-nos,
pouco a pouco, de que ninguém é tão indigente que não possa concorrer para o
progresso comum e tomamos, com firmeza, o lugar que nos compete no edifício da
harmonia geral, distribuindo fragmentos de nós mesmos, no culto da fraternidade
bem vivida.
Valendo-nos
da ressurreição de hoje para combater a morte de ontem, encontramos na luta o
esmeril que polirá o espelho de nossa consciência, a fim de nos convertermos em
fiéis refletores da beleza divina.
O
mundo, por mais áspero, representará para o nosso espírito a escola de
perfeição, cujos instrumentos corretivos bendiremos, um dia. 19 Os companheiros de jornada que o habitam,
conosco, por mais ingratos e impassíveis, são as nossas oportunidades de
materialização do bem, recursos de nossa melhoria e de nossa redenção, e que,
bem aproveitados por nosso esforço, podem transformar-nos em heróis.
Não
há medida para o homem, fora da sociedade em que ele vive. Se é indubitável que somente o nosso trabalho
coletivo pode engrandecer ou destruir o organismo social, só o organismo social
pode tornar-nos individualmente grandes ou miseráveis.
A
comunidade julgar-nos-á sempre pela nossa atitude dentro dela, conduzindo-nos
ao altar do reconhecimento, ao tribunal da justiça ou à sombra do esquecimento.
O
Espiritismo, sob a luz do Cristianismo, vem ao mundo para acordar-nos.
A
Terra é o nosso temporário domicílio.
A
Humanidade é a nossa família real.
Todos
estamos destinados por Deus a gloriosa destinação.
Em
razão disso, Jesus, o Divino Emissário do Amor para todos os séculos, proclamou
com a realidade irretorquível: — “Das ovelhas que o Pai me confiou nenhuma se
perderá”.
Nota:
O livro Roteiro, psicografado pelo médium Chico Xavier, foi publicado
inicialmente pela editora da FEB em 1952.
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