Para onde vão, ao morrerem, as crianças não batizadas?
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
Um
amigo nos pede informações sobre o limbo, qual seu significado teológico e como
o Espiritismo vê a questão.
Originária do latim, a palavra limbo – limbu,
'orla' – tem vários significados, mas, no âmbito da religião, é o nome que se
dava ao lugar onde, segundo a teologia católica, se encontrariam as almas das
crianças que, embora não tivessem alguma culpa pessoal, morreram sem o batismo que as livrasse do
pecado original.
Considerado um
espaço circunscrito fora das cercanias do Céu, o limbo foi idealizado pelos religiosos da época com a
finalidade de abrigar crianças que não haviam sido batizadas e também os que
haviam morrido antes do advento da chegada do Cristo. Essa ideia foi
incorporada aos ensinamentos católicos como sendo um local destituído de
sofrimento, uma vez que as crianças nada fizeram para merecer o castigo, mas
também não seria um paraíso, em face da ausência do batismo, um dos sete
sacramentos adotados pela Igreja.
Allan Kardec
tratou do assunto em seu livro O Céu e o Inferno, em que lemos:
“É verdade que a
Igreja admite uma posição especial em casos particulares. As crianças falecidas
em tenra idade, sem fazer mal algum, não podem ser condenadas ao fogo eterno.
Mas, também, não tendo feito bem, não lhes assiste direito à felicidade
suprema. Ficam nos limbos, diz-nos a Igreja, nessa situação jamais definida, na
qual, se não sofrem, também não gozam da bem-aventurança. Esta, sendo tal sorte
irrevogavelmente fixada, fica-lhes defesa para sempre. Tal privação importa,
assim, um suplício eterno e tanto mais imerecido, quanto é certo não ter
dependido dessas almas que as coisas assim sucedessem. O mesmo se dá quanto ao
selvagem que, não tendo recebido a graça do batismo e as luzes da religião,
peca por ignorância, entregue aos instintos naturais. Certo, este não tem a
responsabilidade e o mérito cabíveis ao que procede com conhecimento de causa.”
(O Céu e o Inferno, Primeira Parte, cap. IV, itens 7 e 8.)
O entendimento da
Igreja Católica sofreu, no entanto, radical mudança em abril de 2007, quando
foi publicado o documento "A esperança de salvação para bebês que morrem
sem serem batizados", no qual a Comissão Teológica Internacional da Igreja
Católica considerou inadequado o conceito de limbo.
O texto aprovado
pelo Vaticano “diz que a graça tem preferência sobre o pecado, e a exclusão de
bebês inocentes do céu não parecia refletir o amor especial que Cristo tinha
pelas crianças". O documento considera que o conceito de limbo refletia
uma "visão excessivamente restritiva da salvação".
Segundo seus
autores, "Deus é piedoso e quer que todos os seres humanos sejam
salvos". E aduziram: "Nossa conclusão é que os vários fatores que
analisamos fornecem uma base teológica e litúrgica séria para esperar que os
bebês não batizados que morrerem sejam salvos".
Em face deste novo
entendimento da Igreja, os bebês que morrem sem batismo são considerados
inocentes e sua destinação, portanto, passa a ser o céu, verificando-se o mesmo
com os chamados infiéis, ou não batizados, desde que tenham levado uma vida
justa.
Quanto ao
entendimento espírita acerca do limbo e sua finalidade, tal como fora ensinado
antes de 2007, Kardec é objetivo e muito claro:
“A simples lógica
repele uma tal doutrina em nome da justiça de Deus, que se contém integralmente
nestas palavras do Cristo: ‘A cada um, segundo as suas obras’. Obras, sim, boas
ou más, porém praticadas voluntária e livremente, únicas que comportam
responsabilidade. Neste caso não podem estar a criança, o selvagem e tampouco
aquele que não foi esclarecido.” (O Céu e o Inferno, Primeira Parte, cap. IV,
itens 7 e 8.)
Nota do Autor:
Para ler o texto
publicado no domingo anterior, clique em: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/10/por-que-ha-ambientes-e-reunioes-que-nos.html
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