CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
É assim: quase não valorizamos as mais simples coisas da
vida.
Numa conversa entre dois bons amigos já de mais idade, no
entanto, ainda se sentindo “guris”, o mais alto, Nicola, comentou com o menor,
Heitor:
– A vida é simplesmente encantadora.
– Desde que se lhe dê o verdadeiro valor – completou com
objetividade o “guri” Heitor. – É sua vez, jogue! – ainda falou com bem pouca
paciência, como era do seu jeito.
– Eu sei... já estou indo. Viu... ganhei mais uma pedra. –
Nicola falou meio que gargalhando. Era mais bonachão.
– Ah... muito obrigado! – Heitor, ainda mais ranzinza,
agradece.
Depois de uns segundinhos silenciosos...
– Como é bom o cheiro de café coado de manhãzinha ou pela
tarde... – Nicola falou suspirando.
– Olhar para o entardecer e se encantar com o rosa e o
alaranjado misturados no céu... – Heitor, agora com tom mais suave, falou.
– E nesse céu, no mesmo horário, apreciar o retorno das
andorinhas... e ainda confirmar que uma andorinha só não faz verão. É sua vez
de jogar – orientou o amigo.
– Quantos anos já viemos aqui... nesta mesma mesinha de
dama, no mesmo parque, sempre nós dois... grande amizade – rememorou Heitor. –
Joga logo! – falou com tom ranzinza de novo.
– Está bem... sim, quantas vezes. Quantos encontros...
conversas, risadas e outras até às lágrimas.
E continuaram, cada um citava alguma simplicidade
maravilhosa:
– O cheiro do início da chuva... o perfume do bolo
assando...
– Uma tigela de pipocas para assistir a um filme...
– A leitura da última frase de um livro...
– Ouvir, de surpresa, a música preferida...
– Receber o telefonema de quem tanto se ama...
– Abraçar aqueles dos quais não podemos ficar longe...
– Ver uma borboleta, de pertinho, assentar-se com
delicadeza...
– Colocar água com açúcar no bebedouro só para ver,
ampliado, um beija-flor, com toda sua beleza...
– Deixar por último a cobertura do bolo...
– Rir das fotos antigas... roupas “old fashion”, cabelos
totalmente engraçados...
– Dormir com o barulhinho da chuva...
– Poder dormir um pouco mais no sábado de manhã...
– Receber o certificado da conclusão de um curso...
– Tomar sorvete no domingo à tarde...
– Ver uma plantinha florescer...
– Aprender um conteúdo novo...
– Comer um “éclair” bem recheado...
– Chegar ao lar e avistar, mais uma vez, os nossos caros
companheiros...
– E também o cachorrinho, nosso fiel amigo...
– Andar descalço na grama... ai, quanta energia...
– Abraçar quem se quer bem...
– Tomar um “cappuccino” num dia de inverno ou também num de
verão...
– Olhar para cima e apreciar a dimensão do céu...
– Sorrir só por presenciar um sorriso de criança...
– Quantas coisas maravilhosas! – falou, com felicidade,
Heitor.
– Há sempre que celebrar este presente: a vida – concluiu
Nicola.
Os últimos raios de sol eram vistos entre as árvores. Os
apreciadores da vida recolheram as peças do jogo e continuaram valorizando
todos os detalhes de cada experiência, pois já haviam compreendido que as
coisas mais simples é que dão a graça de viver.
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