Depois da festa
Álvaro Teixeira de
Macedo
Não te entregues na
Terra à vil mentira,
Desfaze a teia da
filáucia (1) humana,
Que a Morte, em
breve, humilha e desengana
A demência da carne
que delira...
O gozo desfalece à
própria gana,
Toda vaidade ao
báratro (2) se atira,
Sob a ilusão mendaz (3)
chameja a pira (4)
Da verdade, celeste,
soberana.
Finda a festa de
baldo (5) riso infando (6),
A alma transpõe o
túmulo chorando,
Qual folha solta ao
furacão violento.
E quem da luz não fez
templo e guarida,
Desce gemendo, de
alma consumida,
Ao turbilhão de cinza
e esquecimento.
(1) Filáucia: amor-próprio; egoísmo; vaidade,
presunção, jactância, bazófia.
(2) Báratro: abismo, precipício, voragem.
(3) Mendaz: mentiroso, hipócrita, falso; traiçoeiro,
desleal, pérfido.
(4) Pira: qualquer fogueira; lugar onde alguma
coisa é submetida a prova; crisol.
(5) Baldo: baldado, falto, falho, carecido;
frustrado, malogrado, inútil, vão.
(6) Infando: nefando;
indigno de se nomear; abominável, execrável, execrando, aborrecível; sacrílego,
ímpio; perverso, malvado, nefário.
O poeta Álvaro Teixeira de Macedo
nasceu no Recife em 13 de janeiro de 1807 e desencarnou em 7 de dezembro de
1849 na Bélgica, onde era encarregado dos negócios do Governo Imperial do Brasil.
O soneto acima, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, integra o
livro Parnaso de Além-Túmulo.
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