quarta-feira, 17 de abril de 2013

O gatinho do telhado


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR

As estrelas já apareciam. A noite enluarada trazia beleza, mas para o gato filhote da casa ao lado, também aflição, pois sua mãe não estava por perto, no entanto, a fome e o perigo, sim.
A mãe felina tivera três filhotes em uma mangueira frondosa; contudo, o homem, dono da casa, cortou a árvore para construir algo a mais no quintal.
Dessa forma, tornou-se necessária a migração para outro reduto, e o local escolhido foi o alto do telhado. Os filhotes, de lá, não podiam descer; seus corpinhos ainda estavam frágeis para saltarem daquela altura, mesmo já sendo gatos pré-adolescentes; era preciso mais tempo.
Num dia, em que a gata mãe demorou um pouco mais para voltar com a comida, uma senhora vizinha, que tivera compaixão pelo gatinho ou intolerância com o miado, subiu e pegou o filhote mais franzino, que tanto miava e chorava, e o adotou. Os outros dois eram mais independentes e calmos.
O animalzinho adotado recebia todo amparo e mimo. Estava bem alimentado e até, com alguns brinquedinhos, havia sido presenteado. Vida feliz e cheia de fartura.
Mas a gata mãe... ah, pobrezinha, há muitas noites, só o que fazia era soltar o miado de tristeza, vazio, saudade, pois sabia que um dos seus filhinhos não estava mais presente.
– Onde está meu filhote com pintas caramelo? – quanta dor, ela demonstrava, intensamente, em seu desabafo.
A mãe trazia, todos os dias, comida para os três; sempre uma porção ficava sem ser tocada, mas ela imaginava que um dia ele poderia retornar.
O tempo passou. Os outros dois meninos cresceram e foram à caça da vida e da sobrevivência. E esse é o caminho. No entanto, a mãe, embora mais cansada e velhinha, toda noite ainda voltava para aquele mesmo telhado e levava um pouco de comida.
– Meu filho pode voltar com fome.
E assim ocorreu até o fim de sua encarnação como essa mamãe felina.
O amor materno é infinito e iluminado; é o maior e o mais puro sentimento vivido neste plano.
Talvez se possa aprender, com este profundo gesto, a incomparável nobreza: o amor pela vida, pelo próximo e por nós, incondicionalmente.

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