A pergunta
que dá título a este texto foi feita pelo papa Bento XVI em Auschwitz
(Polônia), por ocasião de uma visita ao antigo campo de concentração de tão
funesta lembrança, em que morreu mais de um milhão de pessoas, a maioria de
origem judia.
“Por que,
Deus, o senhor permaneceu em silêncio? Como pôde tolerar tudo isso?”, completou
o papa, que se comportava, diante de uma tragédia, como se comportam geralmente
as pessoas que ignoram as leis de Deus e a finalidade de nossa presença no
mundo.
Teria Bento
XVI vacilado em sua fé?
A repercussão
das dúvidas papais foi imediata. Na revista VEJA, em que a declaração do papa
foi noticiada, três depoimentos diferentes foram reproduzidos na seção de
cartas da edição seguinte.
No primeiro,
diz o leitor “que o Deus que procuro não é o mesmo que ele conhece”. “O meu
Deus, magnânimo e justo, fala ao homem por meio de suas leis, expressas em tudo
o que Ele criou.” E acrescenta que Bento XVI parecia ignorar o que Homero
intuiu há 3.000 anos: as desventuras que assolam a Humanidade são consequência
dos nossos próprios erros, das faltas e imprudências que nós mesmos cometemos.
O segundo
depoimento veio de um ateu: “Deus não poderia fazer nada. Quem nunca existiu
não pode em momento algum dar sua contribuição. Já o homem, sim, poderia, e
muito, evitar uma das maiores barbáries de nossa história”.
O terceiro
foi assinado por um religioso, que entende que o papa não vacilou em sua fé,
mas deu, sim, uma bela manifestação de humildade e humanidade ao citar o Salmo
22:1: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Essas palavras, aduziu o
leitor, também “foram usadas por Jesus quando de seu sofrimento na cruz, ao
carregar os pecados de toda a humanidade”.
Na edição seguinte
àquela em que foram publicados os depoimentos citados, VEJA transcreveu a carta
enviada por Suzel Tunes, assessor de comunicação da Igreja Metodista, o qual,
baseando suas ideias no pensamento do teólogo inglês John Wesley, fundador do
movimento que deu origem à referida igreja, disse que cabe ao homem restaurar a
harmonia divina por meio do relacionamento responsável e amoroso com a natureza
e com o seu semelhante. Assim, na perspectiva wesleyana, “era o homem que
estava distante de Deus em Auschwitz, e não o contrário”.
*
Diante de
tantas e tão diferentes ideias, que podemos dizer, à luz do Espiritismo?
O mundo em
que vivemos é, como sabemos, uma escola bastante acanhada, na qual a maioria de
seus habitantes é formada por Espíritos semicivilizados ou bárbaros. Pelo menos
é isso que Frederico Figner revelou no livro Voltei, psicografado por Chico Xavier em 1948, pouco tempo depois
do término da 2ª Guerra Mundial.
Mundo de
provas e expiações, não admira, pois, que nele ocorram tantas tragédias e
tantos sofrimentos, o que Jesus conseguiu sintetizar com impressionante clareza
nos ensinamentos que se seguem:
• “Ai do mundo, por causa dos escândalos;
porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o
escândalo vem!” (Mateus, 18:7.)
• “Então Jesus disse-lhe: Mete no seu lugar a
tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão.”
(Mateus, 26:52.)
Com respeito à
pergunta que dá título a este texto, não há dúvida de que o assessor da Igreja
Metodista está corretíssimo, visto que, de fato, “era o homem que estava
distante de Deus em Auschwitz, e não o contrário”.
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