sábado, 3 de janeiro de 2015

Manifesto Espírita



JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Amada leitora, amigo leitor, certo dia em que jantava no lar de Pedro, em Betânia, junto de seus discípulos, o Governador da Terra permitiu que uma jovem derramasse sobre sua cabeça um vaso carregado de unguento de alto valor. Foi o bastante para que fossem ouvidos os seguintes murmúrios indignados: — Quanto desperdício! Há tantos pobres entre nós que poderiam usufruir do dinheiro arrecadado com a venda desse óleo...
Os anos correram, o Cristo foi crucificado e, no ano 64 da Era Cristã, Nero pôs fogo em Roma e culpou os cristãos, que foram queimados em postes para iluminar o circo romano, onde eram realizadas festas e jogos.
Decorridos duzentos e poucos anos, durante os quais quanto mais cristãos eram martirizados, mais o Cristianismo crescia, Constantino estava a caminho do domínio de Roma e de ser eleito seu Imperador, cavalgando à frente de seu Exército, quando viu uma cruz luminosa e uma inscrição: "Com este sinal, vencerás". Mandou reproduzir a cruz em ouro e pedras preciosas e, dias mais tarde, assinou um edito de tolerância religiosa, em especial, aos cristãos.
Em 381, o Imperador Teodósio declara o Cristianismo a religião oficial do Estado.
Em 607 D.C., o Imperador Focas favoreceu a criação do papado na Igreja romana. Depois disso, tivemos cerca de 1260 anos de amarguras e violências medievais...
Após séculos de guerras religiosas entre muçulmanos e católicos e destes com protestantes, em que, de perseguidos se tornaram perseguidores, os cristãos inverteram o alerta de Jesus a Pedro no Horto: "quem matar pela espada, pela espada morrerá".
No século XIX, em vista das absurdas desigualdades socioeconômicas e da miséria de muitos, surgem as teorias filosóficas e econômicas de Marx e Engels, expressas no Manifesto Comunista de fevereiro de 1848, que se afastam completamente da ideia de uma vida post-mortem e centralizam a vida na matéria. Esses e outros pensadores seduziram um grande número de pessoas, em sua maioria idealistas, mas desejosas de impor, pela força das armas, tais teorias, que incentivavam a ditadura do proletariado.
Adepto dessa luta contra a burguesia, emerge, do seio do povo argentino, um jovem que viveu apenas 39 anos, na Terra, mas quanto sofrimento causou a si mesmo e a dezenas de seus seguidores. Seu nome era Ernesto e viveu de 14 de junho de 1928 a 9 de outubro de 1967.
Filho de família burguesa, seus pais empobreceram quando ele ainda era adolescente e passaram a morar nas proximidades de uma favela. Para ajudar no sustento da família, Ernesto tornou-se funcionário público e estudava muito. Então conheceu as teorias dos citados comunistas, que transtornaram sua mente. Em 1951, ele entra para a universidade e inicia o curso de medicina, especializando-se, mais tarde, em lepra.
Percorre, em 1951 e 1953, vários países da América Latina, em cima de uma moto, acompanhado pelo amigo Alberto Granado, na primeira viagem, e por Ricardo Rojo, na segunda. Percorrem o interior da Bolívia, Equador, Peru, Colômbia, etc. e têm contato com índios, leprosos, oprimidos de toda a sorte.
Lembrado da tese de Friedrich Engels de que "o Estado é o Poder acima da sociedade" e adepto do comunismo soviético, Ernesto alimenta o sonho revolucionário de criar uma América Latina socialmente igual para todos. Associa-se a Raul e Fidel e chega a ocupar o cargo de ministro de Estado de Cuba, após formarem guerrilheiros em campos de treinamentos vitoriosos nesse país.
Em 17 de fevereiro de 1957, Ernesto Guevara de La Serna, já então conhecido como Che Guevara, executou sumariamente o primeiro traidor do grupo de guerrilheiros, o camponês Eutimio Guerra.
Com a ternura que lhe era habitual, o comandante disse que acabou com aquela situação incômoda atirando na cabeça do camponês. Em seguida, afirmou que, após apropriar-se dos demais pertences do camponês, não conseguia tirar seu relógio, preso por uma corrente ao cinto. "Então ele me disse, numa voz firme, destituída de medo: ‘Arranque-a fora, garoto, que diferença faz...’. Ele arquejou um pouco e estava morto. Assim fiz e seus bens agora me pertenciam". (Disponível em: Wikipédia. Acesso em 18.12.2014.)
Em 1959, Che Guevara recebe o título de cidadão cubano. Ele não se dá por satisfeito, quer socializar toda a América Latina. Forma nova guerrilha e tenta criar campos de treinamento no deserto do sudoeste boliviano.
Preso em 8 de outubro de 1967, Che Guevara é executado no dia seguinte por um soldado boliviano. Suas mãos são cortadas e enviadas para Cuba...
Amigos e amigas, nestes dias que antecedem o Natal, é preciso refletir nas palavras de Jesus Cristo: "violência gera violência"; nenhum poder terreno está acima do Poder de Deus, e "a cada um, segundo suas obras".
Em resposta aos discípulos, citados acima, que criticaram a mulher por ungir a cabeça dele com óleo caro, respondeu-lhes Jesus: — Por que afligis esta mulher? pois praticou uma boa ação para comigo. Porquanto sempre tereis convosco pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre (Mateus, 26: 10- 11).
Devemos entender essas palavras em dois sentidos: pobres materiais e pobres espirituais, ambos em situação apenas temporária de pobreza, pois sendo o Espírito imortal, mais cedo ou mais tarde estará de volta ao cenário da Terra, para continuar seu esforço evolutivo. Aquele que hoje está na miséria pode ter sido o rico de outrora e vice-versa, pois sendo soberanamente justo e bom, Deus não privilegia ninguém.
É por ainda não entender o significado disso que tanto intelectual, no fundo ambicioso pelo poder, esse bichinho mais contagioso do que a lepra estudada por "Che", usa mal sua pseudociência e, fazendo-se substituto de Deus, tenta criar uma sociedade igual com Espíritos desiguais evolutivamente, criados de todo o sempre para um fim comum: a felicidade, que muitos negam por não entenderem que ela decorre do grau de perfeição individual.
Há pobres felicíssimos: a Maria do pão, o Chico Xavier, eu...; e ricos muito infelizes: os políticos corruptos, os presidentes desonestos, etc. etc. etc.
O único poder que devemos nos esforçar em ter é o de amar e de seguir os passos de Jesus, cujo último recado, antes de sair de casa para ir ao encontro dos seus algozes, após lavar e enxugar os pés de todos os seus discípulos, foi pedir-lhes que fizessem o mesmo entre eles (João, 13: 5 a 14).
Esse foi um gesto de extrema humildade do Senhor da Terra, pois a verdadeira felicidade não está em matar, roubar, dominar o nosso próximo, mas em ampará-lo em sua ignorância e servir-lhe de exemplo, sobretudo de trabalho digno e retidão de caráter.
Reflitamos, então, na lição do Senhor, narrada por João, 13: 34: "Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei".
Busquemos, assim, sentir a presença do Cristo em nossas vidas e conquistar o poder que nos fará feliz pela eternidade: o de amar e servir tal qual ele nos ama e serve até hoje.
Que esse seja o "Manifesto Espírita" (18 abr. 1857), ainda tão pouco conhecido pela humanidade, mas que veio cumprir a promessa de Jesus contida em João, 14: 15 a 18, concluído com as seguintes palavras: "Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós".
Um feliz 2015 para todos!

P.S.: o que denominamos "Manifesto Espírita" é o contido no chamado pentateuco kardequiano: O livro dos espíritos; O livro dos médiuns; O evangelho segundo o espiritismo; O céu e o inferno; e A gênese. Depois de lê-los sua vida nunca mais será burguesa nem proletária e, sim, humana, profundamente humana.

Leia, quando puder, o blog www.jojorgeleite.blogspot.com



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