Como a branca flor que
desperta na primavera
CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
E a menina queria apenas uma companhia para brincar, mas ninguém ali
naquele rico casarão percebia isso. Os empregados, com tantos afazeres, mal
conseguiam tempo para algo que não fosse os afazeres. As pessoas da família mal
observavam outra coisa que não fosse o destaque social e o aumento do dinheiro
em suas graúdas contas.
A menina queria apenas uma companhia para brincar. Ela sempre estava
com vestidinho claro, meias curtas brancas e sapatinhos pretos de verniz, mesmo
em dias mais frios. Andava pela casa, talvez alguém lhe desse atenção, mas
todos tinham seu próprio interesse. E numa manhã de primavera, a menina,
surpreendentemente, quando foi à cozinha, deparou-se com um garoto de quase a
mesma idade. Ela ficou estática, mas um sorriso lindo logo surgiu em seu rosto.
O menino também sorriu.
‒ Olá! Quem é você?
‒ Sou Marcus, sobrinho de Louise, a cozinheira.
‒ Nunca o vi aqui.
Ele sorriu.
‒ Você quer brincar? ‒ a menina lhe perguntou.
‒ Sim. Vamos!
E os dois foram para o belo campo de grama verdinha em frente da casa.
Havia um imenso e muito bem cuidado jardim ao redor com um raio de alguns
quilômetros, na verdade, uma bela fazenda no sul da Europa.
O sol estava o seu puro dourado; o céu, anil; o vento tão agradável
como o afago de quem se ama; e as duas crianças, felizes como próprias
crianças. As risadas demoradas e verdadeiras, risadas de quem tem, puro, o
coração.
Corriam sem pressa de chegarem a nenhum determinado lugar, alegria
simplesmente por estarem ali, um com o outro. Descobriam novas flores no jardim
e insetos delicados, uns mais bonitos do que outros; as joaninhas eram as
preferidas. Compartilhavam cada descoberta.
E os donos da casa continuavam sem tempo para observarem a vida; o
tempo era somente para o aumento de lucro, posições de destaque na sociedade e
a tristeza os acompanhava. E os empregados tinham de servir, com o rigor
exigido, seus patrões.
Mesmo na primavera, o sol não demorava tão mais das seis para começar a
descer. Esse foi o sinal para as crianças voltarem para a casa. Entraram pela
porta da cozinha, lavaram as mãos numa pia própria para essa higiene e
sentaram-se à mesa a fim de saciarem fome e sede. Louise estava na cozinha, mas
sempre triste nem os percebeu. Outra senhora empregada lhes serviu suco com uma
fatia de bolo. E os olhinhos das crianças brilhavam felizes.
Depois de comerem, as crianças se levantaram e foram em direção a um
quarto de estudo onde havia livros interessantes para essa idade. Entraram e a
menina foi direto ao seu favorito. Pegou-o para mostrar a Marcus que sorriu por
também dele gostar.
Sentaram-se no grande tapete do cômodo e o menino começou a ler suas
partes preferidas em voz alta. A menina sorriu por também serem essas as suas
partes preferidas. Leram mais um pouco.
E a noite chegou.
As crianças se levantaram e sorrindo saíram pelo corredor.
Foram até o quarto da menina que sempre estava arrumado.
Entraram e a porta ficou semiaberta. A mãe passou pelo corredor e
estranhou. Olhou o quarto, tudo estava impecável. Mais uma vez os olhos da mãe
se encheram e ela encostou a porta. Seguiu pelo corredor; o marido ainda não
havia chegado. Ela estava só. Lembrou-se tanto de quanto podia ter brincado
mais com a filha e lhe dado amor e carinho. Tanto deixou de observar que a
filha adoeceu sem a mãe perceber. A mãe começava a compreender a importância
das pessoas, da vida. A importância do que é real e não da efemeridade,
materialidade, orgulho.
O marido chegou tarde da noite. Pensava ser necessário a cada dia mais
dinheiro e destaque. E a esposa estava adormecida na fria poltrona.
Ainda no quarto a menina foi embalada pelo carinho de Marcus e de
outros amigos que lhe explicaram sua condição atual e que no lugar que a
esperava haveria muita atenção, amor e companhia para brincar. Ela sorriu.
Seguiram para o local onde o que realmente valerá é o sentimento de amor no
coração e o de bondade no olhar.
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