domingo, 27 de agosto de 2017

Reflexões à luz do Espiritismo



Com Jesus um espinho tem mil flores!

Alguém nos pergunta se existe diferença entre fé e crença e em que livros podemos ler algo a respeito.
O termo “fé” tem várias acepções. No sentido comum, significa a confiança do indivíduo em si mesmo, pois os que disso são dotados são capazes de realizações que pareceriam impossíveis àqueles que de si duvidam. Dá-se também o nome de fé à crença nos dogmas dessa ou daquela religião, casos em que recebe adjetivação específica: fé cristã, fé judaica, fé católica etc.
Há, no entanto, enorme diferença entre crença e fé.
No livro O Consolador, obra mediúnica psicografada por Chico Xavier, Emmanuel diz que crer diz respeito à crença. Diferentemente da simples crença, a fé desperta, porém, todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem e, como tal, é a base da regeneração.
Idêntico ensinamento encontramos no cap. VII, 2ª Parte, do livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, no qual o guia da médium que serviu de intermediária no caso Xumene diz que a crença é o primeiro passo; a fé vem em seguida e, por último, a transformação, mas para isso é preciso que muitos tenham de revigorar-se no mundo espiritual. 
É possível comunicar a fé a alguém por meio de imposição?
Não. Segundo Kardec, a fé não se impõe nem se prescreve, mas pode ser adquirida, não existindo ninguém que esteja impedido de possuí-la. Para crer é preciso, porém, compreender, porquanto – adverte o Codificador – a fé cega já não tem lugar em nosso mundo.
A importância da fé em nossa vida foi destacada, entre outros, por Jesus de Nazaré. “Tudo é possível àquele que tem fé”, disse Jesus, consoante lemos em Marcos, 9:23.
Sobre a fé, Emmanuel apresenta-nos também, na obra a que nos reportamos linhas acima, as considerações seguintes:

– Poder-se-á definir o que é ter fé?
Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade.
Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer “eu creio”, mas afirmar “eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento. Essa fé não pode estagnar em nenhuma circunstância da vida e sabe trabalhar sempre, intensificando a amplitude de sua iluminação, pela dor ou pela responsabilidade, pelo esforço e pelo dever cumprido.
Traduzindo a certeza na assistência de Deus, ela exprime a confiança que sabe enfrentar todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração, e significa a humildade redentora que edifica no íntimo do espírito a disposição sincera do discípulo, relativamente ao “faça-se no escravo a vontade do Senhor”. (O Consolador, pergunta 354.)
A esperança e a fé devem ser interpretadas como uma só virtude?
A esperança é a filha dileta da fé. Ambas estão uma para outra, como a luz reflexa dos planetas está para a luz central e positiva do Sol. A esperança é como o luar que se constitui dos bálsamos da crença. A fé é a divina claridade da certeza. (O Consolador, pergunta 257.)

Concluindo, pensamos que nada pode exprimir melhor a importância da fé do que este lindo poema escrito por Cármen Cinira (Espírito), uma das pérolas literárias que compõem o Parnaso de Além-Túmulo, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier:

O viajor e a Fé

Cármen Cinira

— “Donde vens, viajor triste e cansado?”
— “Venho da terra estéril da ilusão.”
— “Que trazes?”
— “A miséria do pecado,
De alma ferida e morto o coração.
Ah! quem me dera a bênção da esperança,
Quem me dera consolo à desventura!”

Mas a fé generosa, humilde e mansa,
Deu-lhe o braço e falou-lhe com doçura:
— “Vem ao Mestre que ampara os pobrezinhos,
Que esclarece e conforta os sofredores!...
Pois com o mundo uma flor tem mil espinhos,
Mas com Jesus um espinho tem mil flores!”






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