Golpe de vento
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
— Não, Machado, eu não vou morrer de
golpe de vento, como ocorreu com Joanino Garcia. Tenho muitos planos, vida
afora, e preciso trabalhar.
Era o que eu respondia a Assis, após
ter ouvido dele a história narrada pelo espírito Hilário Silva e psicografada por
Chico Xavier (Almas em desfile, 2ª
parte, O golpe de vento). Sim, amigo leitor, os “mortos” também leem, e leem
muito... Foi a leitura dessa narrativa contida em Almas em desfile que levou o Bruxo
do Cosme Velho, fã incondicional do Chico e dos escritores do Além aos
“vivos” da Terra, a dar-me os seguintes conselhos:
— Joteli, o personagem hilariano também é hilário, pois, mesmo
sendo espírita e, consequentemente, tendo a seu dispor uma excelente gama de
informes sobre a vida em duas dimensões, era hipocondríaco.
Nos dois últimos anos de sua existência
física, já se imaginara tuberculoso, após uma bronquite rebelde; embora ainda
jovem, julgara estar com o mal de Parkinson, ao consumir remédio inadequado,
que lhe provocara tremores; curado, pouco tempo depois, uma intoxicação levou-o
a crer-se hemorrágico, por ter ficado com a pele avermelhada; por fim, uma
artrite reumatoide, em princípio não letal, acabou por levá-lo a óbito, após um
simples golpe de vento ter mudado a página do livro de medicina consultado
sobre os sintomas da doença.
— É mesmo, Machado, e que foi que ele
leu?
— Leu sobre angina de peito, sintoma
decorrente de doença arterial coronariana grave.
— E que manifesta esse sintoma?
— “[...] dor pungente e agoniante.
Geralmente a crise perdura por segundos e termina com a morte [...].” Nem bem
acabou a leitura, Joanino passou a sentir-se sufocado por “dor agoniante”, no
peito, e terminou por desencarnar quatorze anos antes do tempo que lhe fora
programado. Ao chegar aqui, ouviu do seu mentor espiritual que “o peso de sua
tensão mental” o levara à morte prematura.
— O meu caso é parecido, Machado...
— Você também é hipocondríaco?
— Não, mas minha mulher o é por mim...
— Como assim?
— Um mês após meu tratamento de uma
pneumonia, vacinei-me contra essa doença e também contra gripe; entretanto, na
semana seguinte, adoeci. Vendo-me tossir muito, principalmente à noite, após
cinco dias gripado, Maria insistiu tanto para eu procurar atendimento médico,
que acabei acedendo aos seus rogos.
— E que disse o facultativo?
— Após examinar-me atentamente com o
estetoscópio, recomendou-me o uso diário de prednisolona, descongestionante
nasal, muito líquido e repouso.
Caso não melhore, em uma semana, devo
tomar Clavulin 875/125 mg ao longo de dez dias. Mal comecei o tratamento, minha
mulher implora-me insistentemente que eu volte ao clínico, rs, rs.
— Pois eu lhe digo, Joteli, que o seu
caso é diametralmente oposto ao do Joanino. Começa pela “angina de peito” e
termina pela bronquite crônica.
— Então eu ainda vou viver mais
quatorze anos, pelo menos, meu bom amigo...
— Bem mais, meu caro, bem mais... Coisa
ruim não morre cedo. Releia a mensagem d’O
evangelho segundo o espiritismo: “Se fosse um homem de bem, teria morrido”.
— Uma coisa é certa, com golpe de vento
não morro...
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