Voltar a observar os desenhos das nuvens
CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
Simplesmente para observar a vida. Simplesmente um tempo.
Em algumas horas, nenhuma palavra, nem ação, nenhum dever oficial,
apenas a quietude que apazigua a alma, traz, à percepção, a grandeza que
existe. Não é necessário para isso ter um dia definido, um ritual, uma
preparação, o espetáculo é ininterrupto, é a vida. Sentir com mais valor a
aurora e o entardecer.
Quando se compreende que nada se repete, que o tempo não volta, mas
pode-se perceber cada segundo e ocasião, então, tanto se é capaz de sentir o
que está ao redor. Proponho-me, em todo amanhecer, a observar mais a natureza
do que cuidar do ponteiro do relógio, ter menos o pensamento de que preciso
cumprir o prazo de entrega de trabalhos e mais encantar-me com a perfeita
delicadeza de uma flor.
Sinceramente, é um esforço, já que a nossa atenção é mínima diante da
perfeição divina. Ainda me esforçando não é nem o início desse reconhecimento.
E o tempo todo a luz ilumina.
Lembro-me de que quando era criança, adorava deitar-me na varanda para
ver as nuvens branquinhas unirem-se e distanciarem-se formando figuras
conhecidas, fantásticas, daqui e de lá. E aqueles minutos, comparados às muitas
horas de um dia, faziam-me tão bem, eram tão importantes e... passageiros. Eu
os adorava. Por que temos tanto que complicar?
Tornamo-nos perseguidores de inúmeras causas que nos cerceiam o primoroso
tempo para a observação das belezas e a inserção em momentos de plenitude. A
maior parte da sociedade nos ensina que tempo é dinheiro. Pobres de nós! O que
faremos com os bolsos cheios e o coração amedrontado e vazio? Precisamos
realmente repensar ou, então, ocuparmo-nos a ponto de não restarem os minutos
preciosos para olhar, pelo menos, uma vez, para o céu, infinito que nos acolhe
e apequena nossas dificuldades.
Deveras, a vida é tão além comparada à limitação desenhada por nós. O
nosso despertamento está atrasado demais, embora tudo tenha sua hora. Mas
quando se pode viver tão mais completamente e demora-se em estradas de
pedregulhos por própria escolha é o mesmo que virar as costas para o campo de
flores coloridas e lindas e olhar mais as montanhas gris atrás.
E se as observações se voltarem para o canto dos pássaros, o sopro
suave do vento, o barulhinho da água descendo o rio, o olhar brilhante de um
animalzinho de estimação, a saudação durante o dia nos encontros casuais com
quem já se conhece e com quem acabou de conhecer-se, o olhar amoroso de quem se
ama, o abraço reconfortante e carinhoso, a risada leve por estar de bem com a
vida, a alegria de sentir mais um amanhecer e agradecer outro anoitecer, e se
as observações forem para as preciosidades constantes, isso, sim, será o início
do crescimento, já que as simples coisas demandam pouco tempo, no entanto,
enriquecem para sempre um coração.
O espetáculo ininterrupto, naturalmente, acontece agora. Ele não para.
Apenas eu é que vou parar mais e onde eu estiver sei que haverá algo para a
apreciação. Penso que anexarei em meu ser um importante lembrete: menos
compromisso com o ponteiro e mais importância às reais coisas que emancipam o
coração.
E quando me aquietar e ficar em paz observando não mais me preocuparei,
pois não é que eu esteja perdendo tempo, apenas estou interagindo com a mais
nobre criação: a vida.
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