sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Iniciação aos clássicos espíritas





Memórias do Padre Germano

Amalia Domingo Soler

Parte 9

Continuamos o estudo metódico e sequencial do livro Memórias do Padre Germano, com base na 21ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo constitua para o leitor uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte compõe-se de:
1) questões preliminares;
2) texto para leitura.
As respostas correspondentes às questões apresentadas encontram-se no final do texto indicado para leitura. 

Questões preliminares

A. Qual foi a consequência imediata do primeiro sermão do Padre Germano?
B. Decidido a não ficar na aldeia para onde o levaram, que fez Padre Germano?
C. Que fim teve a mãe do Padre Germano?
D. Que conselho Padre Germano nos dá sobre a vigilância?
E. Nossa conduta pode atrair Espíritos inferiores?

Texto para leitura

104. No cap. 21 de suas Memórias, Padre Germano reitera que a Igreja não é mãe, mas madrasta, e que o sacerdote desejoso de cumprir seu dever é um indivíduo profundamente desgraçado. Se as paredes dos conventos falassem, revelações horríveis, confissões patéticas seriam de todos conhecidas, afirma Germano. (P. 220)
105. O amor de Germano pela Igreja era grande. Isto ele sempre o disse, e foi por amá-la tanto que desejou vê-la despojada de suas ricas e subversivas vestes e de seus palácios de mármore. Essas e outras ideias tornadas públicas em sua primeira missa selaram, porém, o seu destino, visto que logo no dia seguinte o Geral dos Penitentes Negros o procurou e lhe disse: “Vai-te, foge, uma vez que tua palavra é inspirada pelo inimigo de Deus!”, acrescentando que, para não dizerem que a Igreja o abandonava, lhe caberia preencher a vaga de um curato de aldeia. (P. 222)
106. Sobre esse momento difícil de sua vida, anotou Padre Germano que, antes de seguir para seu destino, sofreu o desterro, a fome e a calúnia, e, ao chegar o momento de tomar posse de sua pequena igreja, sentiu frio. Situado num vale rodeado de altíssimas montanhas, constantemente coberto de espesso nevoeiro, naquele lugarejo a Natureza não falava à alma, nem havia formosas paisagens que elevassem o Espírito. (PP. 222 e 223)
107. A aldeia continha muitas mulheres formosas desejosas de confiar ao pároco seus segredos, um encargo insuportável, por apresentar-se superior às débeis forças do homem. “Se o demônio existisse – conta Padre Germano –, dir-lhe-ia ter sido ele o inventor da confissão. Falar com uma mulher, sem peia alguma; saber, um por um, dos seus pensamentos, dos seus mais íntimos desejos; dominar sua alma; regulamentar seu método de vida e depois... ficar isolado ou cometer um crime, abusando da confiança, da ignorância de uma mulher... ou ver passar gozos e alegrias, como visões fantásticas de um sonho, é impossível!” (P. 223)
108. Decidido a não mais residir naquele lugar, onde lutavam em plena efervescência as paixões, a ignorância e a mocidade, Padre Germano, acompanhado de Miguel e Sultão, caminhou dias e dias, parando em diversas aldeias, sem em parte alguma sentir-se bem, até que encontrou a aldeia onde passaria todos os anos restantes de sua existência. (P. 224)
109. A paisagem encantadora daquele sítio impressionou tanto o Padre Germano que, durante largo tempo, permaneceu imerso em extática meditação, enquanto, em resposta ao seu desejo de ficar, uma voz longínqua lhe dizia: “Ficarás!”... (P. 225)
110. Conduzido pelas crianças até a aldeia, os habitantes o receberam com afeto e um ancião lhe disse: “Chegais bem a tempo e com a maior oportunidade, porque o nosso cura está moribundo e sabe Deus quantos meses, ou mesmo anos, ficaríamos sem pastor...” Curiosamente, naquela mesma noite o velho cura deixava a Terra, abrindo a vaga para Germano. (PP. 226 e 227)
111. No cap. 22, Padre Germano narra seu reencontro com sua mãe, que o abandonara aos cinco anos de idade. Havia oito anos que ele chegara à aldeia e já formara ali uma grande família, além de transformar a velha igreja em ninho de amor e de esperança. (P. 230)
112. Uma tarde, quando o Padre Germano estava entregue aos estudos, Sultão entrou e apoiou sua cabeça nos joelhos do pároco; em seguida, fitou-o, ladrou lastimoso e cerrou os olhos. Dois meninos que acompanhavam o cão, ao verem-no piscar os olhos, alternativamente, puseram-se a rir e um deles disse: “Padre, não entendeis o que vos diz Sultão? É que encontramos uma pobre cega”. Era a mãe que Germano perdera na infância e nunca mais vira. (PP. 230 e 231)
113. Quando Germano se aproximou, sua mãe gritava furiosamente, dizendo que queria morrer, porque seus filhos a atormentavam. A infeliz via os dez filhos, irmãos de Padre Germano, que ela enjeitara, acrescentando que eles a ameaçavam e se convertiam em répteis que se lhe enroscavam no corpo. (PP. 232 a 235)
114. Sem lhe revelar a verdade sobre sua pessoa, Padre Germano a acolheu durante alguns meses em casa de uns aldeães, que a trataram com o maior carinho; mas, logo que ela se fez forte e saudável, passou a cometer abusos de toda espécie, inclusive pervertendo jovens e crianças, o que obrigou Germano a interná-la numa enfermaria de uma associação religiosa, para tratamento, providência que não se consumou, porquanto, em meio à viagem, ela se precipitou num desfiladeiro, buscando assim a morte em que tanto pensava. (PP. 235 a 238)
115. Um ano e meio depois, Germano conheceu a menina pálida dos cabelos negros, o grande amor da vida de um sacerdote que, em momento nenhum, se deixou levar pelo ardor da paixão, mas respeitou em todo o tempo os seus votos. (P. 239)
116. No cap. 23, intitulado “O Último Canto”, Padre Germano chama atenção especial para a necessidade de vigilância, a fim de não cairmos sob o jugo de uma influência espiritual negativa. “Permanecei sempre de sobreaviso; perguntai continuamente a vós mesmos – recomenda Germano – se o que pensais hoje está de acordo com o que ontem pensáveis; e se desse exame resultar sensível diferença, acautelai-vos, lembrando que não estais sós, que os invisíveis vos rodeiam, expostos que vos achais ao seu assédio. Fui fraco uma vez e asseguro-vos que esse fatal descuido me custou muitas horas de tormento.” (P. 242)
117. Quando alguém se alegra, sem saber por quê, é que almas benfazejas o cercam, atraídas por bons pensamentos; ao contrário, quando alguém se empenha em tudo ver negro, atrai, por sua intemperança, Espíritos inferiores. (P. 243)
118. Germano narra então como se recusou a orientar e aconselhar a uma mulher que a ele se dirigiu buscando o amparo da religião. O pároco não apenas se negou a confortá-la, como ainda a amaldiçoou, dirigindo-lhe palavras inconcebíveis na boca de um sacerdote equilibrado: “Fugi, daqui, maldita dos séculos! Fugi daqui, leprosa incurável! Fugi, fugi, que o Sol se empana para esquivar-se ao vosso contágio!” (PP. 245 e 246)
119. A infeliz mulher, rejeitada nestes termos pelo Padre Germano, assustada com o tratamento recebido, deu um grito horroroso e fugiu qual sombra. Germano sentiu então, no mesmo momento, agudíssima dor de coração, que o fez rolar por terra, ficando dois dias desacordado. E, como consequência do seu ato invigilante, o remorso tomou sua alma, apesar do consolo recebido dos paroquianos, de Rodolfo, de Maria e das crianças. (PP. 246 a 248)
120. Dois dias antes de morrer, o Padre disse aos fiéis de sua igreja: “Meus filhos, quero confessar-me convosco: ouvi-me”. E contou-lhes seu procedimento com a pecadora, pedindo em seguida que sua velha capa fosse queimada em praça pública, visto que, se muitos culpados cobrira com ela, com ela negara abrigo à infeliz que lhe rogara misericórdia. (P. 248)
121. Como a prostração do pároco continuava, Rodolfo teve a ideia de pedir às crianças da aldeia que cantassem um hino dedicado por Germano a um velho ancião, falecido fazia algum tempo. Ao ouvir o canto dos petizes, Germano sentiu um bem-estar indizível e sua mente acalmou-se, desaparecendo as sombras do terror. Ele viu então o quarto inundado de intensa luz, enquanto várias Entidades rodeavam seu leito, destacando-se dentre todas a menina pálida dos cabelos negros, que lhe disse com voz carinhosa: “Escuta, alma boa... Escuta o último canto que te consagram na Terra... Escuta as vozes dos pequenitos que dizem: Bendito sejas!” (PP. 248 e 249) (Continua na próxima edição.)

Respostas às questões preliminares

A. Qual foi a consequência imediata do primeiro sermão do Padre Germano?
As ideias tornadas públicas em sua primeira missa selaram seu destino, visto que logo no dia seguinte o Geral dos Penitentes Negros o procurou e lhe disse: “Vai-te, foge, uma vez que tua palavra é inspirada pelo inimigo de Deus!”, acrescentando que, para não dizerem que a Igreja o abandonava, lhe caberia preencher a vaga de um curato de aldeia. (Memórias do Padre Germano, pp. 222 e 223.)
B. Decidido a não ficar na aldeia para onde o levaram, que fez Padre Germano?
Primeiro é preciso explicar por que ele não quis ficar ali. É que, segundo Padre Germano, além do clima péssimo, a aldeia continha muitas mulheres formosas desejosas de confiar ao pároco seus segredos, um encargo insuportável, por apresentar-se superior às débeis forças do homem. “Se o demônio existisse – diz ele – dir-lhe-ia ter sido ele o inventor da confissão. Falar com uma mulher, sem peia alguma; saber, um por um, dos seus pensamentos, dos seus mais íntimos desejos; dominar sua alma; regulamentar seu método de vida e depois... ficar isolado ou cometer um crime, abusando da confiança, da ignorância de uma mulher... ou ver passar gozos e alegrias, como visões fantásticas de um sonho, é impossível!” Então, acompanhado de Miguel e Sultão, ele deixou o lugar e caminhou dias e dias, parando em diversas aldeias, sem em parte alguma sentir-se bem, até que encontrou a aldeia onde passaria todos os anos restantes de sua existência. A paisagem encantadora daquele sítio o impressionara tanto que, durante largo tempo, permaneceu imerso em extática meditação, enquanto, em resposta ao seu desejo de ficar, uma voz longínqua lhe dizia: “Ficarás!”. Conduzido pelas crianças até à aldeia, os habitantes o receberam com afeto e um ancião lhe disse: “Chegais bem a tempo e com a maior oportunidade, porque o nosso cura está moribundo e sabe Deus quantos meses, ou mesmo anos, ficaríamos sem pastor...” Curiosamente, naquela mesma noite o velho cura deixava a Terra, abrindo a vaga para Germano. (Obra citada, pp. 223 a 227.)
C. Que fim teve a mãe do Padre Germano?
Sem lhe revelar a verdade sobre sua pessoa, Padre Germano acolheu sua mãe durante alguns meses em casa de uns aldeães, que a trataram com o maior carinho; mas, logo que ela se fez forte e saudável, passou a cometer abusos de toda espécie, inclusive pervertendo jovens e crianças, o que obrigou Germano a interná-la numa enfermaria de uma associação religiosa, para tratamento. Essa providência, porém, não se consumou, porquanto, em meio à viagem, ela se precipitou num desfiladeiro, buscando assim a morte em que, nos últimos dias, tanto pensava. (Obra citada, pp. 232 a 238.)
D. Que conselho Padre Germano nos dá sobre a vigilância?
No cap. 23 do livro ele chama atenção especial para a necessidade de vigilância, a fim de não cairmos sob o jugo de uma influência espiritual negativa. “Permanecei sempre de sobreaviso; perguntai continuamente a vós mesmos – recomendou Germano – se o que pensais hoje está de acordo com o que ontem pensáveis; e se desse exame resultar sensível diferença, acautelai-vos, lembrando que não estais sós, que os invisíveis vos rodeiam, expostos que vos achais ao seu assédio.” (Obra citada, pág. 242.)
E. Nossa conduta pode atrair Espíritos inferiores?
Sim. Padre Germano diz que quando alguém se alegra, sem saber por quê, é que almas benfazejas o cercam, atraídas por bons pensamentos; ao contrário, quando alguém se empenha em tudo ver negro, atrai, por sua intemperança, Espíritos inferiores. Certa vez, ele se recusou a orientar e aconselhar uma mulher que a ele se dirigiu buscando o amparo da religião. Germano não apenas se negou a confortá-la, como ainda a amaldiçoou, dirigindo-lhe palavras inconcebíveis na boca de um sacerdote equilibrado. A infeliz mulher, rejeitada e assustada com o tratamento recebido, deu um grito horroroso e fugiu qual sombra. Germano sentiu, então, no mesmo momento, agudíssima dor de coração, que o fez rolar por terra, ficando dois dias desacordado. E, como consequência de seu ato invigilante, o remorso tomou sua alma, apesar do consolo recebido dos paroquianos, de Rodolfo, de Maria e das crianças. (Obra citada, pp. 243 a 248.)


Nota:
Links que remetem aos 3 textos anteriores:




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