terça-feira, 27 de março de 2018




O consultório sentimental

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

A chuva estava decidida e eu a observava através da janela da sala de espera de um consultório. Pelo menos por uns bons minutos aguardando veria aquela imagem: janela, chuva. Mas comecei a dividir a atenção entre a janela e chuva e um pai de primeira viagem, que aguardava segurando o seu pequenino embrulhado num cobertor bem quentinho.
O jovem homem estava com a esposa que acabara de ser chamada para a consulta. Nem me lembrei mais da janela. Fiquei encantada com aquele momento. Nunca havia presenciado tanto amor e ternura como os daquele cuidadoso pai olhando docemente para o seu menino no colo.
O pai o admirava tanto e talvez estivesse pensando:
“Como é lindo, filho meu. Vou amá-lo e o protegerei até ficar crescido e precisar de meu cuidado, e quando eu estiver bem velhinho, minhas preces é que o alcançarão e o protegerão, pois minhas pernas talvez não mais terão força, meus braços apenas, com dificuldade, poderão abraçá-lo, mas precisarei muito do seu abraço. Peço que os raios solares lhe proporcionem a vitamina necessária, que a lua o embale com o bom e protegido descanso e que seus sonhos sejam em cores e totalmente felizes. Filho, que se realize num trabalho e que ampare mais outras pessoas do que lhe traga apenas dinheiro, que tenha os valores abençoados de um bom homem e seja o mais nobre exemplo para os meus netos, que seja alma bondosa, forte, mas também doce, pois quem possui a doçura os beija-flores gostam de visitar. Ah, filho querido, como o amo e o respeito!”
E uma lágrima desceu devagar pelo rosto paterno até diminuir e cair de raspãozinho na face do amado bebê, e logo a mão protetora limpou delicadamente o rostinho daquela criatura.
− Pronto, meu bem. Podemos ir – a jovem mulher havia saído da consulta.
− Sim, meu amor – o rapaz levemente disfarçou a emoção.
A família foi para seu caminho.
E eu... ah, eu gastei os meus três últimos lencinhos e logo fui chamada.

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