sábado, 31 de março de 2018




O bem transforma o mal
   
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Na questão 511 d’O Livro dos Espíritos, somos informados de que, se temos um Espírito protetor, que nos induz ao bem, também sofremos a influência de Espíritos maus, que procuram desviar-nos do caminho do bem. Nosso livre-arbítrio fará a escolha e vencerá aquele por quem nos deixemos influenciar.
Com base em nossas tendências negativas ou positivas, podemos aproveitar as influências espirituais de modos bastante característicos. Aos espíritas, vale a pena refletir sobre o alerta do discurso de Allan Kardec em Lyon, publicado na Revista Espírita de outubro de 1860:

Há, senhores, três categorias de adeptos: os que se limitam a acreditar na realidade das manifestações e que, antes de mais nada, buscam os fenômenos. Para eles, o Espiritismo é uma série de fatos mais ou menos interessantes.
Os segundos veem algo mais do que fatos. Compreendem o seu alcance filosófico; admiram a moral que dele resulta, mas não a praticam. Para eles, a caridade moral é uma bela máxima, e eis tudo.
Os terceiros, enfim, não se contentam em admirar a moral: praticam-na e aceitam todas as suas consequências. Bem convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar esses curtos instantes para marchar na senda do progresso que lhes traçam os Espíritos, esforçando-se por fazer o bem e reprimir suas inclinações más. Suas relações são sempre seguras, porque suas convicções os afastam de todo pensamento do mal. Em tudo a caridade lhes é regra de conduta. São estes os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos.

Na primeira categoria, os crentes curiosos, sempre em busca de fenômenos, ainda estão adormecidos sobre a necessidade de autorreforma para o bem. Na segunda categoria, estão os admiradores acomodados da moral, para quem o bem é algo que se aplica a outrem, mas em relação a si nada há que modificar. Na mais alta categoria estão aqueles que Kardec denomina, com justiça, de espíritas cristãos, por esforçarem-se cotidianamente em praticar o bem e melhorar suas tendências negativas.
Essa transformação moral inicia-se no pensamento. Disse Kardec: “Por sua vontade, pode o homem livrar-se sempre do jugo dos Espíritos imperfeitos, porque, em virtude de seu livre-arbítrio, tem a escolha entre o bem e o mal. Se o constrangimento chegou a ponto de paralisar a vontade, e se a fascinação é bastante grande para obliterar a razão, a vontade de outra pessoa pode substituí-la” (In: Revista Espírita, out. 1858).
 Mas o antídoto do mal é o bem. Repetindo a conclusão a que cheguei em outro artigo, na composição da palavra servir encontramos dois verbos: "ser" e "vir". Ao trocarmos as posições das sílabas dessa palavra e as ligarmos com a preposição "a" teremos "vir (a) ser". É o devenir, devir (fr.) ou vir a ser: transformação incessante e permanente, consequência natural de quem deseja sinceramente evoluir, mas que requer sua vontade e determinação.
Como não basta deixar de praticar o mal, mas “fazer o bem no limite de suas forças”1, quem deseje alcançar a felicidade dos bons precisa servir ao bem, de modo incondicional, em seu eterno vir a ser a caminho da evolução.
A música e a poesia de cunho elevado nos auxilia a enxergar o belo literário quando voltado para o culto ao bem, melhor do que as manifestações artísticas de mentes doentias. Pensando assim, elaboramos o seguinte poema, intitulado Bem-Viver:
           
Amar o próximo, dar-lhe atenção,
É agir com caridade a cada dia
E devotar-se ao bem como cristão.

No seu fazer e agir sempre no bem
Com devoção e com simplicidade
Vive-se bem aqui e mais além.

Amar, assim, a humanidade inteira,
Requer de nós postura de humildade,
Amor ao bem de forma verdadeira.

A teoria em nós é só metade
Do bem que o bom Jesus nos ensinou,
Nosso Caminho e Vida de Verdade. 

Quem busca aqui na Terra a santidade,
Recomendada há mais de dois mil anos,
Eleva sua espiritualidade.

Não posterguemos a bondade, pois
Ser bom agora é viver na luz,
Ser bom agora é não sofrer depois.

Ser bom é nunca desprezar ninguém.
Segue sereno os passos de Jesus,
Só vence o mal quem vive para o bem.

Decorre do exposto que o ser sempre ocupado na caridade serve não somente quando pensa e fala, mas quando age em favor do próximo, como nos recomenda Jesus. Serve incondicionalmente em seu incessante vir a ser melhor hoje que ontem, amanhã melhor que hoje, seguindo os passos de Nosso Senhor, que caminha adiante em nossa condução ao EU SOU2, Supremo Criador de todos nós, nosso Pai, Inteligência Suprema que nos legou uma só coisa para nossa felicidade: servir ao bem.
Quando aprendermos o verdadeiro significado de servir, sem qualquer intenção, mesmo oculta, de retribuição ao benefício que façamos, mas por amor ao próprio bem, como o Senhor nos ensinou, estaremos modificando nosso Espírito sempre para melhor, nesse eterno vir a ser. E nossa alma resplandecerá na luz, não pelo que de bom falamos, mas sobretudo pelo bem que fazemos.
 Como todos nós teremos de colher conforme semeamos, quanto mais nos colocarmos no lugar do próximo, e nos conscientizarmos de que o nosso bem é resultante do bem daquele, mais teremos contribuído com a felicidade do nosso ser. Podemos começar pela lembrança permanente da regra áurea recomendada por Jesus e parafraseada em latim: Quod tibi non vis alteri ne facias. Ou seja: “Não faças a outrem o que não queres para ti”.

1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93. ed. Tradução de Guillon Ribeiro. Brasília: FEB, 2013 (ed. histórica), q. 642.
2 Em Êxodo, cap. 3, v. 14, Deus é representado pela expressão EU SOU, ou seja, somente Ele desfruta desse eterno Ser, ao contrário de nós, que estamos num eterno “vir a ser” resultante de nossas ações.







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