domingo, 25 de março de 2018




Basta-nos deixar de praticar o mal?

No texto intitulado “Introdução ao Livro dos Espíritos”, que abre a tradução d´O Livro dos Espíritos publicada pela Lake Editora, J. Herculano Pires escreveu:
“Com este livro, a 18 de abril de 1857, raiou para o mundo a era espírita. Nele se cumpria a promessa evangélica do Consolador, do Paracleto ou Espírito da Verdade. Dizer isso equivale a afirmar que O Livro dos Espíritos é o código de uma nova fase da evolução humana.”
Na sequência, reportando-se ao Espiritismo como sendo a terceira revelação da lei divina, Herculano acrescentou:
“A Bíblia é a codificação da primeira revelação cristã, o código hebraico em que se fundiram os princípios sagrados e as grandes lendas religiosas dos povos antigos. A grande síntese dos esforços da Antiguidade em direção ao espírito. Não é de admirar que se apresente muitas vezes assustadora e contraditória, para o homem moderno. O Evangelho é a codificação da segunda revelação cristã, a que brilha no centro da tríade dessas revelações, tendo na figura do Cristo o sol que ilumina as duas outras, que lança a sua luz sobre o passado e o futuro, estabelecendo entre ambos a conexão necessária. Mas assim como, na Bíblia, já se anunciava o Evangelho, também neste aparecia a predição de um novo código, o do Espírito da Verdade, como se vê em João, XIV. E o novo código surgiu pelas mãos de Allan Kardec, sob a orientação do Espírito da Verdade, no momento exato em que o mundo se preparava para entrar numa fase superior do seu desenvolvimento.”
Um aspecto pouco comentado a respeito de algumas diferenças existentes entre as três grandes revelações evidencia-se no modo como elas enfatizam os deveres que nós, os homens, devemos observar em face da lei divina.
No Decálogo recebido no Sinai por Moisés, a partícula “não” está presente em oito dos dez mandamentos:
- Não farás imagem esculpida, nem figura alguma do que está em cima do céu, nem embaixo na Terra, nem do que quer que esteja nas águas sob a terra. Não os adorarás e não lhes prestarás culto soberano.
- Não pronunciarás em vão o nome do Senhor, teu Deus.
- Não matarás.
- Não cometerás adultério.
- Não roubarás.
- Não prestarás testemunho falso contra o teu próximo.
- Não desejarás a mulher do teu próximo.
- Não cobiçarás a casa do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu asno, nem qualquer das coisas que lhe pertençam.
Já nos ensinamentos de Jesus, as ações de caráter afirmativo são claramente colocadas:
- Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos fazem mal e orai pelos que vos perseguem.
- Aquele que ouve estas minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha.
- Nem todos os que me dizem: Senhor! Senhor! entrarão no reino dos céus; apenas entrará aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
Com o advento do Espiritismo, as lições acima vistas, no sentido da importância da prática do bem, e não apenas da abstenção do mal, ganharam uma ênfase ainda maior, como o leitor pode verificar à vista das questões d´O Livro dos Espíritos abaixo reproduzidas:
- Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?
“Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.” (L.E., 642)
- Haverá quem, pela sua posição, não tenha possibilidade de fazer o bem?
“Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nunca encontra ensejo de o praticar. Basta que se esteja em relações com outros homens para que se tenha ocasião de fazer o bem, e não há dia da existência que não ofereça, a quem não se ache cego pelo egoísmo, oportunidade de praticá-lo. Porque fazer o bem não consiste, para o homem, apenas em ser caridoso, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu concurso venha a ser necessário.” (L.E., 643)
- Têm, perante Deus, algum mérito os que se consagram à vida contemplativa, uma vez que nenhum mal fazem e só em Deus pensam?
“Não, porquanto, se é certo que não fazem o mal, também o é que não fazem o bem e são inúteis. Demais, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que o homem pense nele, mas não quer que só nele pense, pois que lhe impôs deveres a cumprir na Terra. Quem passa todo o tempo na meditação e na contemplação nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque vive uma vida toda pessoal e inútil à Humanidade e Deus lhe pedirá contas do bem que não houver feito.” (L.E., 657)




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