sábado, 7 de setembro de 2019





Coerência, virtude difícil (II)

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Em conversa espiritual com H. Campos sobre as incoerências relatadas em meu blog, ele contou-me a seguinte parábola, extraída de uma das crônicas arquivadas em biblioteca do Mundo Maior, que fora narrada por Jesus, mas não citada pelos evangelistas:
— Residiam em Jericó um fariseu idoso, usurário, com sua esposa também idosa. Ambos, diariamente, subiam dessa cidade para Jerusalém, onde ele fazia suas pregações. A mulher era possuidora de grande bondade e o auxiliava nos trabalhos do templo.
Em suas palestras, Joseph Jacobson, o fariseu, sempre ressaltava aos seus ouvintes a importância de auxiliar os pobres, não somente com denários, como também na aquisição de seus produtos, para lhes garantir a sobrevivência digna. E concluía com lindas orações.
Algo, porém, inquietava Joseph: sua esposa, atenta às suas palavras, não perdia oportunidade de ajudar as pessoas diariamente. Como a carência material encontrada pelo caminho era grande, sempre que a rica carruagem com o casal, puxada por três lindos corcéis, parava numa vila, Mariah, a generosa mulher, dava esmolas e comprava algo dos vendedores ambulantes do local. Nada além de um denário.
Joseph, embora mesquinho com o próximo, gostava de usar roupas caras, para causar boa impressão aos seus ouvintes. Certa ocasião, na noite anterior à subida para o Templo de Salomão, gastou, na compra de ricas roupas para si, 100 denários (aproximadamente R$ 3.000,00).
No dia seguinte, seguia com a esposa para Jerusalém. Ao passarem pela primeira vila, a mulher, com dó de vendedor de banquinhos de madeira, embora não precisasse, comprou um dos pequenos móveis, pelo qual pagou o equivalente a um denário (R$ 30,00). Joseph, como bom fariseu, não perdeu tempo:
— Desse jeito, mulher, quando voltarmos a Jericó, você já terá gastado todo o nosso dinheiro. É como dizem: as mulheres, quando envelhecem, acham que precisam comprar o céu, antes de morrer. Assim não é possível. Como você é pródiga! Estou pensando em contratar uma curadora para você, Mariah. Não tem um dia que não dê esmola ou que não compre algo no valor desse banquinho, que não nos serve para nada.
E a mulher calada estava, calada ficou. Apenas pensou: Que é um denário diário, para quem ganha 900 denários todo mês?
Somos bem o retrato desse fariseu. Com os desafortunados, somos muito mesquinhos e com nós mesmos, bastante pródigos. Coerência é virtude de poucos, muito poucos...
Lembrete: Nossas crônicas são fruto de nossos devaneios literários, ainda que, por vezes, baseados na recriação de fatos reais.







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