Coerência, virtude difícil (II)
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Em conversa espiritual com H. Campos
sobre as incoerências relatadas em meu blog, ele contou-me a seguinte parábola,
extraída de uma das crônicas arquivadas em biblioteca do Mundo Maior, que fora narrada por Jesus, mas não citada pelos
evangelistas:
— Residiam em Jericó um fariseu idoso,
usurário, com sua esposa também idosa. Ambos, diariamente, subiam dessa cidade
para Jerusalém, onde ele fazia suas pregações. A mulher era possuidora de
grande bondade e o auxiliava nos trabalhos do templo.
Em suas palestras, Joseph Jacobson, o
fariseu, sempre ressaltava aos seus ouvintes a importância de auxiliar os
pobres, não somente com denários, como também na aquisição de seus produtos,
para lhes garantir a sobrevivência digna. E concluía com lindas orações.
Algo, porém, inquietava Joseph: sua
esposa, atenta às suas palavras, não perdia oportunidade de ajudar as pessoas
diariamente. Como a carência material encontrada pelo caminho era grande,
sempre que a rica carruagem com o casal, puxada por três lindos corcéis, parava
numa vila, Mariah, a generosa mulher, dava esmolas e comprava algo dos
vendedores ambulantes do local. Nada além de um denário.
Joseph, embora mesquinho com o próximo,
gostava de usar roupas caras, para causar boa impressão aos seus ouvintes.
Certa ocasião, na noite anterior à subida para o Templo de Salomão, gastou, na
compra de ricas roupas para si, 100 denários (aproximadamente R$ 3.000,00).
No dia seguinte, seguia com a esposa
para Jerusalém. Ao passarem pela primeira vila, a mulher, com dó de vendedor de
banquinhos de madeira, embora não precisasse, comprou um dos pequenos móveis,
pelo qual pagou o equivalente a um denário (R$ 30,00). Joseph, como bom
fariseu, não perdeu tempo:
— Desse jeito, mulher, quando voltarmos
a Jericó, você já terá gastado todo o nosso dinheiro. É como dizem: as
mulheres, quando envelhecem, acham que precisam comprar o céu, antes de morrer.
Assim não é possível. Como você é pródiga! Estou pensando em contratar uma curadora para você, Mariah. Não tem um
dia que não dê esmola ou que não compre algo no valor desse banquinho, que não
nos serve para nada.
E a mulher calada estava, calada ficou.
Apenas pensou: Que é um denário diário, para quem ganha 900 denários todo mês?
Somos bem o retrato desse fariseu. Com
os desafortunados, somos muito mesquinhos e com nós mesmos, bastante pródigos.
Coerência é virtude de poucos, muito poucos...
Lembrete: Nossas
crônicas são fruto de nossos devaneios literários, ainda que, por vezes,
baseados na recriação de fatos reais.
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