Sempre
podem ser lindos dias
CÍNTHIA
CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
A primeira coisa que me chamou atenção foi a
pequenina flor amarela bem rente ao canteiro das rosas brancas e vermelhas no
jardim de casa; na verdade, ainda quase não as havia percebido com todos os
seus admiráveis detalhes. Sabemos que as singelas e verdadeiras coisas, várias
vezes, não as percebemos e, por isso, quanto perdemos.
Admirei-as como se as visse pela primeira vez, mas
há quanto lá estavam e somente agora as enxerguei. Que céu azul perfeito com
nuvens brancas de algodão aconchegando nossos lares. Sinto agora o ar mais puro
que minha respiração pôde sorver, recebo o olá mais doce que meus olhos já
puderam sentir, esse cumprimento foi o da senhora, vizinha, que há anos mora
ali, na mesma casa, e tão pouco, com ela, conversei. Passei sob a sombra do
flamboyant mais refrescante e acolhedora de todo o caminho. Vi um passarinho,
prodígio cantor, passeando pelo muro enquanto eu andava na calçada com canteiro
ao redor. Nunca tinha visto essas maravilhas tão de perto.
A melodia continuava. Um bem-te-vi também veio ao
encontro e, também pelo muro, me acompanhou um pouco. Logo deu lugar ao
intrépido voo de um beija-flor, e veja que magnífica flor este último
encontrou.
Mais uma saudação e não bastou um só aceno de
cabeça, esse agora veio até aqui e...
− Há quanto tempo! – meu antigo professor de português,
agora velhinho, falou e me abraçou com saudade dos tempos de escola.
− Que bom vê-lo! − também falei e o abracei muito.
Conversamos um pouquinho. Deixei-lhe um até logo e
segui.
O sol estava a cor laranja mais viva e vibrante que
meus sentidos já constataram; era luz mantendo a vida terrena.
− Bom dia! − o dono do quiosque de frutas me falou
com um sorriso lindo.
− Bom dia, senhor... − não me recordei seu nome.
− Que a paz esteja com você neste tão belo dia... −
e falou meu nome baixinho.
Ele sabe meu nome? Surpreendi-me.
Acenei com a mão e continuei.
De repente, um chuvisquinho de chuva, que não era
provável, mas vejam só... apenas para fazer florir o arco-íris no céu.
Que dia é esse? Quanta imagem sequenciada
maravilhosa! O que será? Algum aviso?
Será o meu último dia aqui? Tentei desvendar. Parei para pensar e é
lógico que há as mais belas ocasiões, fenômenos, pessoas o tempo todo, a grande
diferença é o estado de ânimo no qual nos encontramos. Se nosso foco está
limitado, assim nosso ânimo também estará. Veremos e viveremos o que
construirmos em nós.
E após o percurso de três quadras e toda essa
experiência, cheguei ao trabalho. Em minha mesa havia flores. De alguém para
mim. Fiquei curiosa e logo peguei o cartão no sutil envelope.
Assim estava escrito: Um lindo dia.
Da mesma maneira que se olha e se sente a vida,
assim também ela sentirá o ser.
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