CINCO-MARIAS
Cada um é cada um
EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho ímpar. Carlos Drummond
de Andrade
Temos o (péssimo) hábito de comparar. Comparações, comparações.
Quando se é adulto, há recurso psíquico e emocional para enfrentar o
homem, a mulher, a textura peçonhenta da comparação. Mas enquanto se é pequeno,
principalmente até os sete anos, a criança precisa saber que é única.
Danoso então compará-la, rotulá-la, que são modos de maldizer entranhados
na nossa vida cotidiana:
“Termina de comer o que está no seu prato. Olha lá o seu irmão! Ele já
está quase acabando…”
“Você viu como a Flávia é educada? Você deveria fazer igual sua prima!”
“Esse aí puxou o pai. Os dois têm o temperamento parecido.”
“É que meu filho não é tão inteligente como o seu, ele vai mais
devagar…”
Quando uma criança é continuamente comparada com seu irmão, parente,
colega, vizinho, sente angústia, tristeza, raiva, fortalecendo uma percepção
negativa sobre si mesma, sobre suas aptidões, tornando-se alguém marcado por
traços de inferioridade, insegurança, timidez, ciúme, inveja.
Se educar depende do respeito às individualidades, quando uma mãe ou um
pai compara um filho com o outro, atribuindo a um deles ser mais estudioso, por
exemplo, é muito provável que o filho que foi tachado de menos estudioso fique
ainda com menos vontade de estudar. Porque comparar uma pessoa com outra é
atitude injusta, que desestimula, gerando angústia e temor desnecessários na
criança… E o fato de o comparado tornar-se “menos estudioso” é uma forma
distorcida dele comunicar aos pais: “na verdade, vocês estão errando em
comparar-me. Eu sou eu, ele é ele, e ponto final.”
É por meio de um vínculo seguro que a criança desenvolve sua integridade
física, psíquica, emocional e relacional, sua autonomia. Acolher o filho como
ele se apresenta, segundo seu modo de ser, evitando comparar, rotular, porque
poucas coisas são mais nocivas do que dar a entender a uma criança sua escassez
de aptidões, de habilidades, humilhando-a, atacando de maneira furtiva sua
autoconfiança.
A infância é rica em descobertas, mudanças, aquisições. E aquele que cresce
em uma família em que existe compreensão e respeito uns com os outros, quando
adulto será naturalmente mais inclinado à tolerância, à paz e ao amor. E isso
poderá eliminar uma boa quantidade de sofrimento...
*
Esta seção, cuja estreia neste blog ocorreu no dia 6 de janeiro último,
traz sempre textos dedicados à infância, seus cuidados, sua educação. O título
– Cinco-marias – é uma alusão a um conhecido brinquedo que
integra um conjunto de brincadeiras e
atividades lúdicas conceituadas como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta
floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em
Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto
Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim
Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em
Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a
formação em Psicanálise.
Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental
em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu contato no Instagram é @eugeniapickina
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