quinta-feira, 8 de setembro de 2022

 



CINCO-MARIAS

 

Bullying: como lidar com o agressor?

 

EUGÊNIA PICKINA

eugeniapickina@gmail.com



Educar mal um homem é dissipar capitais e preparar dores e perdas à sociedade. Voltaire

 

Vez por outra as crianças (e os adolescentes) brigam em razão de inúmeros desentendimentos. São brigas episódicas e que têm simplesmente um fim. Isso não tem nada a ver com o bullying.

Bullying, presente nas escolas em todo o mundo, é praga social que afeta inúmeras crianças e adolescentes e que, infelizmente, a partir da década de 1970, aumentou drasticamente, segundo demonstrativos de estudos científicos diversos.

Na infância e nos anos iniciais do ensino médio, eu fui vítima do bullying. Por causa dele, achei a escola um lugar horrível e inseguro. O que me salvou foi a minha natural introversão e o meu amor aos estudos.

Na sala de aula, no pátio da escola, especialmente durante o recreio, eu e mais duas meninas – as três recém-chegadas a essa escola –, por sofrer o sadismo de um grupo de colegas, compreendemos que se engana quem acredita que o bullying é monopólio de meninos! Meninas (e na infância e na adolescência) podem ser cruéis, maldosas, e sem fazer uso de força física, isto é, elas ofendem usando a agressão verbal, manifestando de modo repetido atitudes grosseiras (são traços inequívocos de espíritos atrasados): indiferença, exclusão, caçoada, apelidos, ameaças…

O agressor tem fragilidade? Logicamente. Contudo, a ideia de fazer o outro ser humano sofrer é sempre inaceitável. Por isso, no geral, o autor do bullying revela já precocemente mau-caráter, impulsividade, baixa autoestima, falta de empatia, um nítido sentimento de inferioridade. Além disso, na maioria das vezes, o agressor costuma promover a violência na escola com base também em antivalores que traz de sua vivência doméstica.

Bullying é prática abusiva. O agressor, então, devidamente identificado pelas autoridades educacionais, necessita de cuidado e correção. O ideal é que ele faça, por exemplo, pequenos trabalhos comunitários dentro da própria escola – auxiliar na biblioteca, na enfermaria ou na cantina, porque o mero castigo não educa, não gera mudança, não ajuda aquele que pratica violência reiterada contra colegas a entender a gravidade dos seus atos e suas consequências. E isso poderá ser feito durante o recreio ou intervalo, e para dar oportunidade ao agressor de incorporar um novo tipo de conduta, ou seja, a atitude que manifesta respeito pela dignidade alheia.

Ato violento, o bullying é realidade mundial que merece atenção e cuidado por parte das famílias e das escolas, pois gera danos contra terceiros (as vítimas do bullying). No caso de agressores menores, os pais são também responsáveis, pois há para eles o dever de supervisionar os filhos.

Aos pais que têm uma criança que está a sofrer o bullying no ambiente escolar, e a escola, por sua vez, que assume uma posição omissa, um aviso: procurem assistência jurídica, pois os atos configurados como bullying atingem diretamente os direitos fundamentais da pessoa humana (previstos na Constituição Brasileira e no Estatuto da Criança e do Adolescente) e têm, por isso, o devido amparo legal.

Rubem Alves, que foi vítima de bullying na escola, tem razão quando contou que “o bullying é a forma escolar de tortura”.

 

Notinhas

 

Bullying é definido como a violência que ocorre entre crianças e adolescentes, de forma intencional, repetitiva e sem motivação aparente, demarcada pelo desequilíbrio de poder entre agressor e vítima em alguma instância.

Prática abusiva proibida, o bullying (intimidação frequente, seja física ou psicológica) é um dos principais problemas de disciplina na escola. Uma dificuldade em combater essa prática é que muitos dos agressores (e até alguns pais de alunos e professores) acreditam estar apenas “brincando” com as vítimas.

Na literatura científica, o bullying manifesta três características principais: o comportamento agressivo e de intenção negativa, a repetição sistemática e a desigualdade tanto física quanto psíquica dos envolvidos.

Xingar, gozar, humilhar, zombar, isolar são atitudes agressivas e manifestações do bullying.

De acordo com a ONU, a maioria dos casos de bullying é devido à aparência física, etnia ou orientação sexual.

No Brasil, dados do IBGE afirmam que a quantidade de jovens vítimas de bullying subiu para 47% no ano de 2016.

Para saber mais, consulte: Fante, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. SP: Verus, 2005.Calhau, Lélia Braga. Bullying: o que você precisa saber. 3 ed. Niterói-RJ: Impetus, 2011.

 

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Esta seção, cuja estreia neste blog ocorreu no dia 6 de janeiro deste ano, traz sempre textos dedicados à infância, seus cuidados, sua educação. O título – Cinco-marias – é uma alusão a um conhecido brinquedo que integra um conjunto de brincadeiras e atividades lúdicas conceituadas como Patrimônio Cultural da Humanidade.

Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).

Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a formação em Psicanálise.

Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.

Seu contato no Instagram é @eugeniapickina

 

 

 

 

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