A Evolução
Anímica
Gabriel Delanne
Parte 10
Damos prosseguimento ao estudo do clássico A Evolução Anímica, de Gabriel Delanne, conforme a 8ª edição da tradução de Manoel Quintão, publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Há alguma prova direta do papel do perispírito na
conservação das lembranças do que ocorre ao homem?
B. Onde se forma a biblioteca do ser pensante, esse tesouro
chamado inconsciente?
C. Em que consiste a memória?
Texto para
leitura
100. O Espírito não conhece
diretamente o mundo exterior. Entaipado num corpo material, não percebe os
objetos senão pelos sentidos. Ora, a luz e o som só lhe chegam sob a forma de
vibrações, diferentes segundo a cor, para a vista, e segundo a intensidade,
para o som. Ele dá um nome a tal ou qual natureza de vibrações, mas não conhece
intrinsecamente a luz nem o som. Já houve quem comparasse a célula psíquica ao
fósforo, que, depois de sofrer a ação da luz, permanece luminoso na
obscuridade. Delanne prefere, no entanto, compará-la à placa sensível, que,
impressionada pela luz, conserva para sempre, graças a uma reação química, fixo
e indelével, o traço da excitação luminosa. (Págs. 128 e 129)
101. Todo o mundo, diz Delanne,
está de acordo em que as modificações produzidas nas células são permanentes.
Delboeuf afirma: “Toda impressão deixa um traço inapagável, isto é: uma vez
diversamente dispostas e forçadas a vibrar de outro modo, as moléculas jamais
retornarão ao estado primitivo”. Richet assevera: “Assim como na natureza não
há, jamais, perda de energia cósmica, mas, apenas, transformação incessante,
assim também nada se perde do que abala o espírito humano. É a lei de
conservação da energia, sob um ponto de vista diferente”. (Págs. 129 e
130)
102. É fato averiguado que a
repetição de palavras e frases de um idioma acaba por tornar-se uma operação
automática para o Espírito. O que sucede com a linguagem ocorre com qualquer
outra aquisição intelectual. Em todos nós, a tábua de multiplicação tornou-se
automática, e, contudo, começamos por decorá-la conscientemente. Esses fatos
colocam-nos em face do problema ora focalizado: a ressurreição das lembranças
prístinas, a despeito da renovação integral e global das células. Se não
houvesse perispírito, que é que imprimiria nas novas células o antigo
movimento? É no perispírito, pois, que reside a conservação do movimento e
damos como prova direta disso a manifestação da alma após a morte, a qual se
nos revela dotada de todas as faculdades e lembranças, não apenas de sua última
encarnação, mas abrangendo longos períodos pretéritos. (Págs. 130 e 131)
103. Condições da percepção – Para que uma sensação seja percebida, isto
é, para que se torne um estado consciencial, duas condições são indispensáveis:
a intensidade e a duração. (Pág. 132)
104. A intensidade é condição
muito variável, mas faz-se preciso um mínimo de intensidade para que se
verifique a percepção, porque não ouvimos, por exemplo, os sons muito brandos.
É por não guardarem intensidade constante que as percepções diminuem
insensivelmente, até não mais poderem ficar presentes no espírito, caindo assim
“abaixo dos domínios da consciência”.
(Pág. 132)
105. A duração, ou o tempo
necessário para que uma sensação seja percebida, ou melhor, para que o Espírito
tome conhecimento do movimento perispiritual, foi determinada há uma trintena
de anos para as diversas percepções. Se bem que os resultados variem conforme
as pessoas, as circunstâncias e a natureza dos atos psíquicos estudados, ficou
pelo menos estabelecido que cada ato psíquico requer uma duração apreciável e
que a pretensa velocidade infinita do pensamento não passa de metáfora. Fique
claro, pois, que toda ação nervosa, cuja duração seja inferior à requerida pela
ação psíquica, não pode despertar a consciência. Assim, para que uma sensação
se torne consciente é imprescindível que o movimento perispiritual tenha uma
certa duração; sem isso o registro se fará, sem que a alma tenha dele
conhecimento. (Pág. 132)
106. Gravam-se, pois, no
perispírito as sensações com uma certa durabilidade; mas elas não permanecem no
campo da consciência. Desaparecem, momentaneamente, para dar lugar a outras e
tornam-se, por assim dizer, inconscientes. A mesma coisa dá-se em relação a
tudo que temos visto, lido e aprendido. Por conseguinte, nossa alma cria, desde
o nascimento, uma reserva imensa de sensações, volições, ideias, uma vez que o
mecanismo mediante o qual a alma atua sobre a matéria é igualmente mantido no
invólucro fluídico. Cada painel contemplado, cada leitura que fazemos, deixa em
nós um traço. As ideias ligam-se e entrosam-se por lei de associação, que
também prevalece para as sensações e percepções. O território em que se
escalonam esses materiais é o perispírito. É nele que se forma a biblioteca do
ser pensante, esse tesouro que denominamos o inconsciente. (Pág. 133)
107. O eu, o único ser que pode
conhecer e compreender, é sempre ativo e operante; mas tudo o que aprende e
sente classifica-se mecanicamente, em virtude da diminuição de intensidade e
temporariedade das impressões, sob a forma de movimentos no seu invólucro,
prontas a reaparecer ao primeiro apelo da vontade. O inconsciente pode ser
movido também pelo trabalho do Espírito durante o sono. Os atos psíquicos que
se produzem sem a intervenção do corpo físico não têm, contudo, a intensidade
suficiente para se tornarem conscientes no estado normal. (Pág. 134)
108. Reitor do corpo e guarda dos
estados conscienciais, o perispírito está, assim, em constante movimento,
determinando o ritmo incessante das ações vitais da vida vegetativa e orgânica
e o correspondente a outras modalidades psíquicas da alma consciente, inclusive
as correspondentes aos estados passados. (Pág. 135)
109. A memória é o fulcro, o
alicerce da vida mental e compreende três coisas: a conservação de certos
estados, sua reprodução e sua localização no passado. Na velha psicologia, só o
terceiro termo constituía a memória, mas se comprovou indispensável admitir o
inconsciente, ou seja, as lembranças não mais percebidas pelo eu normal e que,
no entanto, subsistem. (Págs. 135 e 136)
110. O instinto, dizem, é ato
hereditário específico, o que implica a existência de uma memória hereditária,
memória orgânica, que sabemos residir no perispírito. Eis o mecanismo dessa
operação: 1º – Há na vida orgânica, primariamente, fenômenos automáticos
dependentes da vida em si mesma e que começam e acabam com ela: são os
movimentos do coração os respiratórios. 2º – Em seguida temos toda uma série de
ações reflexas: o melhor tipo a apresentar desses reflexos é o conjunto dos
fenômenos da digestão, que são a consequência do movimento inicial da
deglutição. 3º - Uma excitação exterior provoca movimentos reflexos de reação que
buscam uma melhor adaptação do ser vivente ao seu meio, seja por defender-se,
fugir ou buscar. Essas ações, que eram primitivamente voluntárias, tornaram-se
instintivas, por efeito de repetições inumeráveis. 4º – Também se produzem
conjuntos de movimentos musculares pela simples ação da vontade e que requerem
quantidade enorme de ações reflexas apropriadas, a revelarem uma técnica
inteiramente desconhecida do Espírito. (Págs. 136 e 137) (Continua
no próximo número.)
Respostas às
questões preliminares
A. Há alguma
prova direta do papel do perispírito na conservação das lembranças do que
ocorre ao homem?
Sim. A prova disso é a manifestação da alma após a morte, a
qual se nos revela dotada de todas as faculdades e lembranças, não apenas de
sua última encarnação, mas abrangendo longos períodos pretéritos. (A Evolução Anímica, pp. 130 e 131.)
B. Onde se
forma a biblioteca do ser pensante, esse tesouro chamado inconsciente?
É no perispírito que se forma essa biblioteca de
informações e reminiscências pertinentes às existências do ser pensante, do
qual elas podem emergir em dado momento, ou seja, transitar do inconsciente
para o consciente. (Obra citada, pág. 133.)
C. Em que
consiste a memória?
A memória é o fulcro, o alicerce da vida mental e
compreende três coisas: a conservação de certos estados, sua reprodução e sua
localização no passado. Na velha psicologia, só o terceiro termo constituía a
memória, mas se comprovou indispensável admitir o inconsciente, ou seja, as
lembranças não mais percebidas pelo eu normal e que, no entanto, subsistem.
(Obra citada, pp. 135 e 136.)
Observação:
Para acessar a Parte 9 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/10/blog-post_14.html
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