A Evolução
Anímica
Gabriel Delanne
Parte 9
Damos prosseguimento ao estudo do clássico A Evolução Anímica, de Gabriel Delanne, conforme a 8ª edição da tradução de Manoel Quintão, publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Como se efetua a ligação do perispírito com o corpo
físico?
B. Qual o meio que conduz o indivíduo ao progresso?
C. Que fato demonstrou que a alma não é uma função do
cérebro, como argumenta a doutrina materialista?
Texto para
leitura
89. Os fluidos são, como sabemos,
constituídos por estados de matéria eterizada. A rapidez do seu movimento
molecular é proporcional ao grau de rarefação das moléculas. Quanto mais
densos, opacos, viscosos, maior resistência oporão a toda e qualquer
modificação. É necessário, pois, que a alma chegue a mudar a direção dos
movimentos do seu invólucro e a regularizar-lhe a atividade, para que possa
manifestar-se exteriormente. Supondo que em cada experiência o vapor não se
aclara senão em quantidades diminutíssimas, ter-se-á uma ideia aproximada do
que ocorre com a alma e com o seu invólucro, enquanto percorre a série animal.
(Págs. 101 e 102)
90. Dito isso, Delanne desenvolve
um longo estudo baseado na obra Psychologie générale, de Charles Richet,
de 1887, procurando explicar como se formaram os órgãos dos sentidos e o papel
do perispírito nesse processo. Eis de forma resumida algumas das proposições
formuladas pelo Autor: I – A vida de relação dos seres animados compreende dois
termos: ação do mundo exterior sobre o animal, traduzindo sensibilidade, e ação
do animal sobre o mundo exterior, traduzindo movimento. II – A faculdade de
corresponder por movimentos a uma força externa é peculiar a todos os seres
viventes e se chama irritabilidade. III – Em toda a natureza, a força jamais se
destrói. Ela não se perde, não se cria e, talvez, se transforme, mas persistirá
sempre e se encontrará, absolutamente integral, na matéria inerte que lhe
sofreu a ação. IV – Um fato que demonstra à saciedade esse princípio de
conservação da força é a impressão que certas substâncias, como a obreia,
deixam num metal polido, como uma lâmina de navalha. V – Desse modo, ainda que
uma força não determine movimentos aparentes num corpo, não deixa de lhe
modificar a constituição molecular, transformando-se e imprimindo no corpo um
novo estado diferente. VI – O perispírito se liga a todas as moléculas do
corpo. VII – É por meio do fluido vital, impregnado no gérmen, que a encarnação
pode realizar-se, pois o Espírito só pode atuar sobre a matéria por intermédio
da força vital. VIII – Participando da vida geral nos organismos complexos,
cada célula goza de tal ou qual autonomia, de modo que todo movimento nela produzido
altera-lhe o equilíbrio vital e essa modificação dinâmica determina no duplo
fluídico um movimento. IX – Toda ação interna ou externa produz, portanto, um
movimento no invólucro perispiritual, fato esse que, aliado à teoria exposta
por Delboeuf em Éléments de psycho-physique, nos permite compreender de
que maneira puderam formar-se os órgãos dos sentidos. X – Os exemplos citados
pelo Autor prendem-se ao órgão do tato, mas poderiam ser igualmente utilizados
para explicar-se o advento da audição e da visão. (Págs. 103 a 112)
91. Encerrando o capítulo III
desta obra, Delanne examina o tema sistema nervoso e ação reflexa e trata, por
fim, do instinto. Eis, de forma resumida, algumas das proposições aí
formuladas: I – O sistema nervoso não é senão a condição orgânica das ações
psíquicas da alma; depois de sua destruição, com a morte corpórea, a alma
continua a viver normalmente. II – Durante a encarnação ele é a reprodução
material do perispírito e toda alteração grave de sua substância engendra consecutivas
desordens nas manifestações do princípio pensante. III – A medula espinhal é
considerada pelos fisiologistas sob um duplo aspecto, a saber: como fio
condutor, transmite ao encéfalo as sensações e reconduz dele as excitações
motrizes; como centro nervoso, é a sede das ações reflexas. IV – As
propriedades notáveis do sistema nervoso não podem subsistir na matéria
mutável, fluente, incessantemente renovada. É preciso para isso que tenham o
seu fundamento na estabilidade natural do invólucro fluídico. V – Podemos
comparar o corpo a uma nação, e o mecanismo fisiológico às leis que regem o
povo. As personalidades mudam; umas morrem, outras nascem, mas as leis
subsistem sempre, não obstante passíveis de aperfeiçoamento. VI – O instinto é
a mais baixa forma mediante a qual manifesta-se a alma. VII – Na lebre que
dispara ao menor ruído, o movimento de fuga é involuntário, inconsciente, em
parte reflexo, em parte instintivo, mas é sobretudo um movimento adaptado à
vida do animal, tendo por finalidade a sua salvação. VIII – As ações e reações
são sempre as mesmas, mais ou menos, para uma espécie. Incessantemente
repetidas, essas operações incrustam-se de alguma sorte no perispírito e passam
a fazer parte daquele ser. IX – A aptidão para manifestar exteriormente essas
operações é transmitida por hereditariedade – diz a ciência; perispiritualmente,
diz Delanne. Tal é, segundo ele, a gênese dos instintos naturais primitivos. X
– A inteligência um tanto desprendida do meio perispiritual grosseiro intervém,
contudo, para que o Espírito alicie, em proveito dos instintos naturais, melhor
apropriação das condições ambientes. XI – Era indispensável que o princípio
espiritual passasse por essas tramas sucessivas, a fim de fixar no invólucro as
leis que regem a vida e, depois, entregar-se aos trabalhos de aperfeiçoamento
intelectual e moral que o devem elevar à condição superior. XII – A luta pela
vida, por mais impiedosa que seja, é o meio único, natural e lógico para
obrigar a alma infantil a manifestar as suas faculdades latentes, assim como o
sofrimento é indispensável ao progresso espiritual. XIII – Saímos todos do
limbo da bestialidade. Longe de sermos criaturas angélicas que decaíram; longe
de havermos habitado um paraíso imaginário, foi com imensa dificuldade que conquistamos
o exercício de nossas faculdades. XIV – Só o esforço individual pode conduzir
ao progresso geral, e a mesma potência que nos trouxe ao estado animal
abrir-nos-á as infinitas perspectivas da vida espiritual, a desdobrar-se na
ilimitada extensão do Cosmo. (Págs. 112 a 122)
92. Os progressos da fisiologia
evidenciaram a ligação íntima da alma com o corpo. Ficou assentado, sem
qualquer dúvida, que as manifestações do Espírito encarnado são absolutamente
dependentes do sistema nervoso e que toda alteração ou destruição do elemento
nervoso acarreta distúrbios e mesmo supressão de manifestações intelectuais.
(Pág. 124)
93. Essa correlação do estado
mórbido do corpo com o desaparecimento de uma fração do intelecto é a base da
doutrina materialista, que faz da alma uma função do cérebro. Há, no entanto,
um fato peremptório que demonstra haver pensamento sem cérebro: a manifestação
do Espírito após a morte. O perispírito, como já foi dito, é o molde do corpo.
Estudar as modificações do sistema nervoso equivale, pois, a estudar o
funcionamento do perispírito, do qual o sistema nervoso mais não é que uma
reprodução material. (Pág. 124)
94. A força vital que impregna
simultaneamente a matéria organizada e o perispírito é o agente intermediário
do corpo e da alma. Qualquer modificação na substância física produzirá
modificação da força vital, que, por sua vez, modificará o perispírito, na
mesma intensidade. (Pág. 124)
95. A noção de perispírito –
adverte Delanne – não é uma inventiva humana, uma concepção filosófica adrede
destinada a remover todas as dificuldades, mas, sim, uma realidade física, um
órgão até então ignorado e que, por sua composição física e pela função que
exerce no homem, explica todas as anomalias que as investigações de sábios e
filósofos jamais puderam elucidar. A indestrutibilidade e a estabilidade
constitucional do perispírito fazem dele o conservador das formas orgânicas.
Graças a ele, compreendemos que os tecidos possam renovar-se, ocupando os novos
o lugar exato dos antigos, e daí a manutenção da forma física, tanto interna
quanto externa. (Pág. 125)
96. O princípio vital é, por sua
vez, o motor do perispírito. É ele que lhe desenvolve as energias latentes e
lhe ministra atividade durante a vida. Alma e perispírito não fazem mais que um
todo indissolúvel e, se os distinguimos, é porque só a alma é inteligente, quer
e sente. O invólucro é sua parte material, isto é, passiva: é a sede dos
estados conscienciais pretéritos, o armazém das lembranças, em que o Espírito
se abastece quando necessita de cabedais intelectuais para raciocinar,
imaginar, comparar etc. O Espírito é, assim, a forma ativa, o perispírito a
forma passiva, e ambas, em seus aspectos, nos representam todo o princípio
pensante. (Pág. 126)
97. Quando um agente externo
impressiona os sentidos, produz-se no aparelho sensorial uma certa alteração a
que chamamos sensação, a qual é transmitida ao cérebro pelos nervos sensitivos.
Dois casos podem então apresentar-se: ou a alma toma conhecimento da alteração
e dizemos que há percepção, ou a alma não é advertida da ocorrência, ficando a
sensação registrada, mas inconsciente. Como já visto, essa transformação da
sensação (fenômeno físico) em percepção (fenômeno psíquico) torna-se
absolutamente inexplicável desde que se não admita a existência do eu, ou seja,
do ser consciente. (Pág. 127)
98. Tudo é movimento na natureza.
Os corpos que nos parecem em repouso não o estão nem exteriormente, uma vez que
participam do movimento da Terra, nem interiormente, porque as moléculas são
incessantemente agitadas por forças invisíveis que lhes dão suas propriedades
físicas particulares: o estado sólido, líquido ou gasoso, a consistência, a
cor, o brilho etc. O movimento abarca igualmente os tecidos do corpo, e vimos
como certas partes do corpo, durante a longo travessia pelas formas inferiores,
se diferenciaram pouco a pouco do conjunto, para engendrar os órgãos dos
sentidos. Essas modificações foram se fixando no perispírito e encarnando-se na
substância, à medida que aumentava o número de passagens pela Terra. (Págs. 127
e 128)
99. Qual a natureza das
modificações produzidas? “Ensaiemos demonstrar – propõe Delanne – que ela
reside nos movimentos.” Toda sensação – visual, auditiva, tátil ou gustativa –
procede originalmente de um movimento vibratório do aparelho receptor. O raio
luminoso que impressiona a retina, o som que faz vibrar o tímpano, a irritação
dos nervos periféricos da sensibilidade, tudo isso se traduz por um movimento
diferente, segundo a natureza e a intensidade do excitante. O abalo propaga-se
ao longo dos nervos sensitivos e chega, conforme a natureza da irritação, a uma
zona especial da camada cortical, dando aí origem à percepção. Desde então, a
força vital modificou-se num certo sentido, sofreu um movimento vibratório
particular, e este se comunicou ao perispírito. É então que se dá o fenômeno da
percepção, se a atenção for despertada. (Pág. 128) (Continua
no próximo número.)
Respostas às
questões preliminares
A. Como se
efetua a ligação do perispírito com o corpo físico?
O perispírito se liga a todas as moléculas do corpo, mas é
por meio do fluido vital, impregnado no gérmen, que a encarnação pode
realizar-se, pois o Espírito só pode atuar sobre a matéria por intermédio da
força vital. (A Evolução Anímica, pp.
103 a 112.)
B. Qual o meio
que conduz o indivíduo ao progresso?
É a luta pela vida, por mais impiedosa, que obriga a alma
infantil a manifestar suas faculdades latentes, assim como o sofrimento é
indispensável ao progresso espiritual. Saímos todos do limbo da bestialidade.
Longe de sermos criaturas angélicas que decaíram; longe de havermos habitado um
paraíso imaginário, foi com imensa dificuldade que conquistamos o exercício de
nossas faculdades. Só o esforço individual pode conduzir ao progresso geral, e
a mesma potência que nos trouxe ao estado animal abrir-nos-á as infinitas
perspectivas da vida espiritual, a desdobrar-se na ilimitada extensão do Cosmo.
(Obra citada, pp. 112 a 122.)
C. Que fato
demonstrou que a alma não é uma função do cérebro, como argumenta a doutrina
materialista?
A manifestação do Espírito após a morte, que provou de modo
cabal que pode haver pensamento sem o cérebro. O perispírito é o molde do
corpo. Estudar as modificações do sistema nervoso equivale, pois, a estudar o
funcionamento do perispírito, do qual o sistema nervoso mais não é que uma
reprodução material. (Obra citada, pág. 124.)
Observação:
Para acessar a Parte 8 deste
estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/10/blog-post_07.html
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