sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

 



A Evolução Anímica

 

  Gabriel Delanne

 

Parte 16

 

Damos prosseguimento ao estudo do clássico A Evolução Anímica, de Gabriel Delanne, conforme a 8ª edição da tradução de Manoel Quintão, publicada pela Federação Espírita Brasileira.

Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. Se a obsessão se prolongar por muito tempo, podem daí surgir desordens físicas?

B. De que forma o perispírito se une ao corpo físico?

C. Onde se radica a memória?

 

Texto para leitura

 

166. Na subjugação, o domínio do Espírito é completo. O subjugado é um instrumento absolutamente dócil às sugestões do Espírito. A vontade do obsessor avassalou, substituiu totalmente a sua vontade. Com mais um pouco, acabará perdendo a noção de si mesmo, passando a crer-se um personagem célebre, um reformador do mundo; numa palavra, tornar-se-á louco, pois não é impunemente que a influência perturbadora se exerce por longo tempo e, uma vez sobrevindo as lesões do cérebro, a moléstia torna-se incurável. (Pág. 218) 

167. Kardec conheceu um homem que, impelido pelo Espírito obsessor, ajoelhava-se aos pés de todas as moças. Outro sentia nas costas e nos tornozelos uma pressão tão forte que o levava a ajoelhar-se e beijar o chão, em plena rua. O hipnotismo veio dar a chave desses fenômenos. O indivíduo obedece, mais ou menos passivo, a quem o imergiu nesse estado. Se essa situação se prolonga por semanas, meses, anos, podem surgir desordens físicas, difíceis de curar, mesmo depois de afastado o obsessor. É necessário, pois, o tratamento moral do enfermo, coincidente com a intervenção junto do obsessor, de tal modo que, em muitos casos, se a lesão não for irremediável, se torna possível restituir ao alienado o seu vigor orgânico e, com ele, a razão. (Págs. 218 e 219) 

168. Importa reconhecer, no entanto, que a loucura é devida, em muitos casos, a uma lesão do sistema nervoso e se manifesta em certas fases da vida, provinda dos pais por vias hereditárias. Em casos assim, não há que presumir se trate de Espíritos obsessores. Trata-se do próprio organismo viciado, deteriorado, e que, não mais obedecendo à alma, pode engendrar alucinações radicadas no falseado mecanismo cerebral. É frequente também a complicação do fenômeno, podendo a hereditariedade apresentar metamorfoses. Assim, um alcoólatra pode procriar idiotas, caso em que o encéfalo fica parcialmente destruído por influência do álcool. Outras vezes, as convulsões dos genitores transmudam-se em histeria ou epilepsia nos descendentes. (Págs. 219 e 220) 

169. Casos assim, diz Delanne, são abundantes. É que o perispírito não é criador, é simplesmente organizador da máquina. Ora, se a hereditariedade lhe faculta apenas materiais viciados ou incompletos, ele é incapaz de os regenerar e sempre restarão partes do cérebro forradas à sua influência. Vê-se, no entanto, que são as enfermidades e não as faculdades propriamente ditas que se transmitem por via seminal. O Espírito, ao encarnar-se, traz consigo as aquisições de vidas anteriores, mas é preciso ter em conta as disposições orgânicas, que podem ser favoráveis ou prejudiciais ao desenvolvimento de suas faculdades inatas. Dr. Moreau, de Tours, que não admite a hereditariedade senão do ponto de vista fisiológico, afirma que é a transmissão hereditária das falhas orgânicas que produz as moléstias mentais nos descendentes. (Págs. 220 e 221) 

170. Acreditamos, diz Delanne, na independência constitutiva da alma e dizemos que ela não adoece jamais e que somente não pode manifestar suas faculdades num corpo mal aparelhado, a que faltem elementos indispensáveis ao bom funcionamento do Espírito. Estamos, pois, com a Ciência, no convir que a loucura resulta, as mais das vezes, de uma lesão ou perturbação nervosa, transmissível por hereditariedade, mas a nossa explicação do fenômeno – assevera o autor desta obra – difere totalmente, visto que a alma é uma entidade independente e sobrevivente à morte. (Págs. 221 e 222) 

171. Firmemo-nos bem, diz Delanne, neste ponto importante para nós outros: 1º – O que prova a reencarnação é que, por vezes, tendo os pais uma inteligência assaz limitada, os filhos revelam as mais auspiciosas disposições; 2º – Filhos indignos têm nascido de pais ilustres; 3º – As raças inferiores podem produzir grandes homens; 4º – É muito comum observar que, a despeito de grandes semelhanças físicas, os filhos podem, moralmente, em nada se parecer com os pais. (Pág. 223) 

172. Quais as causas dessa metamorfose? Por qual transmutação misteriosa a natureza extrai o melhor do pior? Ribot se diz impotente para responder a tais perguntas, que ele considera questões fora do alcance da ciência atual, mas – diz Delanne – não do Espiritismo, que as explica com meridiana clareza. As disposições orgânicas herdadas são vantajosas ou nefastas, e o Espírito, ao encarnar-se, submete-se a uma família ou escolhe a que lhe permita realizar na Terra as suas aspirações. Desse modo se explicam as enfermidades terríveis que parecem assaltar tantas famílias, e que nos levariam a duvidar da Justiça Divina, se o Espiritismo não aclarasse o porquê da aparente iniquidade. (Págs. 224 e 225) 

173. Resumo – Fechando o cap. V, Delanne resume os pontos principais das lições nele contidas e que adiante sintetizamos:

I – No momento da encarnação, o perispírito une-se, molécula a molécula, à matéria do gérmen.

II – Este possui uma força vital cuja energia, mais ou menos rigorosa, determina a longevidade do indivíduo.

III – É, pois, sob a influência da força vital que o perispírito desenvolve as suas propriedades funcionais.

IV – O gérmen material contém em si a impressão indefectível de todos os sucessivos estados do perispírito. A ideia diretriz que determina a forma está, desse modo, contida no fluido vital.

V – Impregnando-se dele e se transfundindo nele, o perispírito materializa-se o bastante para tornar-se o diretor, o regulador, o suporte da energia vital modificada pela hereditariedade. É também graças a ele que o tipo individual se forma, desenvolve-se, conserva-se e se destrói.

VI – É ao perispírito que o Espírito deve a conservação de sua identidade física e moral. A memória é atributo do invólucro fluídico, ou perispírito.

VII – A alma, com o seu invólucro, não atinge o período humano senão quando apta para dirigir um corpo humano.

VIII – As afinidades fluídicas têm grande importância no ato do nascimento.

IX – Os Espíritos não podem encarnar onde desejam.

X – Todos os seres evoluem por gradações insensíveis, por transições imperceptíveis. Se quisermos avaliar o caminho percorrido, basta comparar os extremos de uma série: o selvagem e o homem civilizado. Veremos, então, a diferença que separa o homem contemporâneo do seu ancestral quaternário.

XI – As disposições mórbidas são transmissíveis, constituindo isso uma das mais dolorosas provações.

XII – Sucede, porém, que a loucura não é, às vezes, real, não se radica no organismo, mas é produzida por Espíritos obsessores, cuja influência vai da obsessão à subjugação. (Págs. 225 a 227) 

174. O Universo – Graças aos progressos da ciência, sabemos hoje que a Terra não passa de pequeno planeta caudatário do sistema solar e que mundos outros, em profusão, se estendem por todas as regiões do espaço. Foi a lente astronômica o primeiro aparelho que revelou a nossa verdadeira posição no Universo. Galileu mostrou que, em vez de pontos luminosos, há terras no céu, com seus continentes, atmosferas e satélites, tal como aqui mesmo. (Págs. 229 e 230) 

175. Tudo no Universo nos induz a crer na eternidade do movimento e da vida. As descobertas astronômicas atestam que a matéria existe em todos os graus de condensação e que, muito antes da formação da Terra, as estrelas já fulgiam no firmamento. (Pág. 233) 

176. Matéria e espírito – Se admitirmos que a força é uma maneira de ser, um aspecto da matéria, não haverá mais que dois elementos distintos no Universo – matéria e espírito – irredutíveis entre si. O que caracteriza essencialmente o espírito é a consciência, isto é, o eu, mediante o qual ele se distingue do que não está nele, isto é, da matéria. Desde as primeiras manifestações vitais, o eu evidencia a sua existência reagindo, espontaneamente, a uma excitação exterior. (Pág. 234) (Continua no próximo número.)

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Se a obsessão se prolongar por muito tempo, podem daí surgir desordens físicas?

Sim. Se a situação se prolongar por semanas, meses, anos, podem surgir desordens físicas difíceis de curar, mesmo depois de afastado o obsessor. É necessário, pois, o tratamento moral do enfermo, coincidente com a intervenção junto do obsessor, de tal modo que, em muitos casos, se a lesão não for irremediável, torna-se possível restituir ao alienado o seu vigor orgânico e, com ele, a razão. (A Evolução Anímica, pp. 218 e 219.)

B. De que forma o perispírito se une ao corpo físico?

O perispírito une-se à matéria do gérmen, molécula a molécula. (Obra citada, pp. 225 a 227.)

C. Onde se radica a memória?

A memória é atributo do invólucro fluídico, ou perispírito. E é a esse invólucro, a que Kardec chama de perispírito, que o Espírito deve a conservação de sua identidade física e moral. (Obra citada, pp. 225 a 227.) 

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 15 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2022/11/blog-post_25.html

 

 

 

 


 

 

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