Os jogos de azar como
fonte de recursos
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
O saudoso confrade
Altivo Ferreira, então vice-presidente da Federação Espírita Brasileira,
relatou certa vez em Curitiba, num simpósio sobre o Centro Espírita, um fato
que ocorreu na cidade de Santos, onde determinada instituição espírita, às
voltas com grandes dificuldades financeiras, decidiu realizar um bingo.
Evidentemente, as pessoas que a
frequentavam dispuseram-se a ajudar. Dentre elas, um casal, que jamais
assistira a um bingo, comprou cartelas para si e também para seus filhos. E na
data aprazada lá estavam, todos eles, para participar daquilo que se tornou uma
autêntica festa, tantos foram os amigos reunidos.
O casal gostou tanto do que viu que, a
partir de então, jamais perderia uma rodada de bingo, onde quer que ele se
realizasse.
Altivo comentou na oportunidade que
bastaria esse fato para anular os possíveis resultados financeiros
proporcionados pelo bingo, um tipo de promoção que, além de ilegal, foi objeto
de oportuna advertência feita por André Luiz num de seus livros.
A ideia de se utilizarem os jogos de azar,
como rifas, vísporas e bingos, para captação de recursos destinados à
manutenção das obras assistenciais espíritas, sempre esteve associada, em nosso
meio, à influência de pessoas que migraram do Catolicismo para o Espiritismo
trazendo consigo uma natural predisposição para essas práticas, tão comuns nas festas
e promoções católicas.
Com efeito, nos eventos organizados
pela Igreja, como as comemorações do Mês de Maria, tem sido tradicionalmente muito
forte, sobretudo nas comunidades do interior, o recurso aos bingos, esquecidos
todos dos malefícios inerentes a essa modalidade de jogo.
Em nosso meio, embora essa tendência
não esteja de todo erradicada, dirigentes e trabalhadores têm no livro Conduta Espírita, de André Luiz, um
roteiro seguro que assevera ser um equívoco associar jogos de azar aos eventos
espíritas, mesmo quando a finalidade seja louvável. Mas a tentação de realizá-lo
é muito grande visto que, como se sabe, um bingo bem realizado – e apenas um –
é capaz de propiciar recursos para erguer uma obra inteira, enquanto as
campanhas habituais no meio espírita conseguem arrecadar muito pouco,
aumentando o trabalho dos que se propõem a realizar alguma coisa.
Um dia, com toda a certeza, as pessoas
vão-se conscientizar dos perigos que representa o jogo de azar, como, por
sinal, parece estar ocorrendo no seio da própria Igreja.
Anos atrás, o padre Ivani Leonardi, então
coordenador da Pastoral do Dízimo em Curitiba, liderou uma campanha no sentido
de que as paróquias da capital de nosso Estado não mais recorressem ao bingo e
procurassem manter-se tão somente com os recursos do dízimo e com promoções em
que não estivessem presentes os jogos de azar.
Em sua paróquia, por exemplo, segundo
o padre Leonardi, os recursos eram auferidos com almoços comunitários, jogos
infantis, cama elástica, venda de artesanato e apresentações culturais, um
exemplo que deveria ser seguido pelas instituições espíritas, ainda que se
tenha de trabalhar um pouco mais, um esforço que será, sem dúvida, recompensado
pelos amigos espirituais, que ficariam contentes se nos lembrássemos de que
viemos ao mundo para progredir e cooperar no progresso do próprio mundo.
Quando tivermos essa ideia bem
presente em nossa mente, com certeza entenderemos que os fins não justificam os
meios e que é preciso ter mais seriedade naquilo que propomos e fazemos em nome
do Espiritismo.
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