O artigo

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília, DF

 

Após anos de sucesso, o concurso de artigos destinado a alunos, funcionários e professores foi, mais uma vez, lançado naquela famosa escola. Os alunos competiam entre si, mas os funcionários graduados concorriam com os professores. Naquele ano, um dos concorrentes do corpo docente soube que uma funcionária muito dedicada, embora jamais houvesse participado do evento antes, concorreria à premiação...

O prêmio para o vencedor era bastante generoso: três mil reais. Isso equivalia a dois meses de trabalho de Marcela, a concorrente citada acima. Genebaldo, professor de História da instituição promotora do concurso, antes de saber da história de Marcela, resolvera participar... Afinal, no evento do ano anterior fora o vencedor, com o ensaio intitulado A ética na educação. Por isso mesmo, confiava na lisura da nova diretora do evento. Entre professores e funcionários, havia mais de cem inscritos no certame.

Genebaldo trabalhava no mesmo departamento da exemplar funcionária, a quem devia favores mil, como o de conferir lançamentos de menções de seus alunos em diários, tirar cópias de exercícios e provas, fornecer materiais didáticos para suas aulas etc. É certo que havia outras pessoas do local aptas para o mesmo serviço, mas a funcionária-chefe de todos eles era Marcela. Sem sua autorização, nada de cópias, nada de material didático, nada de conferência de diários etc.

Numa bela manhã, após o encerramento das inscrições, uma colega de Marcela, chamada Larissa, também muito querida por todos os professores, ao atender Genebaldo com fornecimento de material didático, disse-lhe o seguinte: — Professor, o resultado do concurso do qual o senhor participou deve sair na próxima semana, e a Marcela vai ser premiada como autora do melhor artigo, pois ela está coordenando o evento, e a diretora quer auxiliá-la com o valor do prêmio principal. Esse será também um reconhecimento público à competência profissional da colega, que trabalha aqui há mais de quinze anos.

— Como assim? — disse-lhe o perplexo Genebaldo — Os artigos ainda nem foram avaliados e você já sabe quem vai ganhar?

— Não é nada disso, “fessô”. Acontece que a colega está passando uma grande dificuldade financeira e precisa do dinheiro para pagar suas dívidas...

— Ah, sim, já entendi. Uma semana antes de serem avaliados todos os artigos, e de ser publicado o resultado do concurso, há uma participante que, além dela, você e a diretora do evento estão cientes de quem será sua vencedora, na categoria professores e funcionários, não é isso?

— ...

Na semana seguinte, Marcela foi declarada vencedora do concurso.

Dias depois, falou, meio sem graça, a Genebaldo: — Pois é, professor, esta foi a primeira vez que participei desse concurso e consegui o primeiro lugar. Muita sorte, né?

— Parabéns — disse-lhe o professor, abraçando-a —, você precisa... Quando eu necessitar duma boa redatora vou procurar seus serviços remunerados.

E ela respondeu-lhe: — Pena que não posso ajudá-lo, mestre. Tenho muito trabalho nesta escola.

E foi saindo de fininho...

 

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