Revista Espírita de 1862
Allan Kardec
Parte 11
Damos sequência ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1862, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de
1862 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a
dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do estudo,
que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Que aconteceu ao
bispo que determinou o chamado auto de fé de Barcelona?
B. Como Santo
Agostinho define a religião de Deus?
C. Krishna era também
reencarnacionista?
Texto para leitura
112. Lamennais diz
que a guerra é permitida por Deus e que é um erro não ver em César senão um
conquistador, em Clóvis senão um bárbaro, em Carlos Magno senão um déspota. (P.
217)
113. Como se diz, os
conquistadores são os próprios joguetes de Deus, os quais se servem dos homens
para civilizar o homem, levando às outras nações o desenvolvimento, os ideais
e, em consequência disso, o progresso. (P. 217)
114. Tratando do mesmo
assunto, Barbaret, que viveu ao tempo de Henrique IV, diz que a influência dos
homens de gênio sobre o futuro dos povos é incontestável, porque sem eles as
grandes reformas só viriam muito depois. (P. 219)
115. Kardec analisa a
conferência feita na Associação Politécnica pelo dr. Trousseau, professor da
Faculdade de Medicina, em que o palestrante critica os sábios da Academia de
Ciências que se dirigem aos charlatães, trata com desdém as experiências de
Mesmer e ataca, ferino, as comunicações e práticas espíritas. (PP. 223 a 229)
116. A Revista
noticia a morte do bispo que determinou o chamado auto de fé de Barcelona. O
falecimento ocorreu nove meses depois da queima pública dos livros espíritas,
realizada em 9/10/1861. O fato produziu enorme expansão do Espiritismo naquele
país e foi, por isso, inócuo. Comunicando-se na Sociedade Espírita de Paris, o
bispo se disse arrependido e pediu preces. “Orai por mim”, rogou o falecido.
“Orai, porque é agradável a Deus a prece que lhe é dirigida pelo perseguido em
favor do perseguidor.” Kardec, evidentemente, perdoou-lhe, porque perdoar é
também caridade. (PP. 230 a 232)
117. A morte da
esposa de Daniel Dunglas Home, noticiada pelo jornal Nord, de 15/7/1862,
é mencionada pela Revista. Diz o repórter que a senhora, antes de soltar o
último alento, abjurou a religião grega, em presença do bispo de Périgueux,
para unir-se à mesma crença do marido, adepto do catolicismo romano. Home disse
ao jornal que ele e a esposa continuavam a se ver e a conversar tão à vontade como
quando ela ainda habitava este mundo. (P. 232)
118. O Espírito de
Jacques, falando à Sociedade Africana de Estudos Espíritas, formada em
Constantina, diz que, antes de fazer as evocações particulares, é preciso
iniciar a reunião com uma evocação geral, um apelo aos bons Espíritos que
queiram comunicar-se espontaneamente. Depois, então, é que se partirá para as
evocações pessoais. (P. 233)
119. Convidado a ser
o patrono espiritual da Sociedade, Santo Agostinho aceitou o encargo e
transmitiu uma mensagem, de que extraímos o seguinte:
I - Todos os homens
são irmãos e o grande objetivo do Espiritismo é reuni-los um dia no mesmo lar e
fazer que se sentem à mesa do Pai comum: Deus.
II - Amai-vos,
amai-vos! Poupai-me de me armar do açoite com que se deve ferir o mau. Embora
isto por vezes seja necessário, não sejais nunca desse número.
III - Lembrai que a
religião de Deus é a religião do coração; que ela tem por base apenas um
princípio: a caridade, e por desenvolvimento: o amor à Humanidade. (PP. 234 a
236)
120. A Revista
transcreve a carta que o Sr. Jean Reynaud, autor do livro Terre et Ciel,
enviou ao Journal des Débats, protestando contra a pecha de ser ele
partidário do panteísmo e da metempsicose. Em seu livro, Jean Reynaud defende a
doutrina da reencarnação, repelindo, porém, com toda a ênfase, a metempsicose.
(PP. 237 e 238)
121. De Nantes
(França), um assinante da Revista envia cópia do poema Mahabárata, em que
Krishna diz claramente a Arjuna, chefe dos Pandus, que a alma passa a novos
corpos em seu processo evolutivo. Comentando o assunto, Kardec diz que a ideia
da reencarnação está muito bem definida nessa passagem, como, aliás, todas as
crenças espíritas o estavam na antiguidade. “Só faltava um princípio: o da
caridade”, diz o Codificador. “Estava reservado ao Cristo proclamar esta
suprema lei, fonte de todas as felicidades terrenas e celestes.” (PP. 239 e
240)
122. O planeta Vênus
é considerado por Georges um ponto intermediário entre Mercúrio e Júpiter. Eis
outras informações ditadas pelo referido Espírito:
I - Os habitantes de
Vênus têm a mesma conformação física que os da Terra.
II - As doenças são
ali ignoradas e seus habitantes só se nutrem de frutas e produtos do leite, não
tendo o bárbaro costume de alimentar-se de cadáveres de animais.
III - A forma
política reveste a expressão da família: cada tribo tem seu chefe, eleito por
classe de idade.
IV - A velhice ali é
o apogeu da dignidade humana. Isenta de doenças e feiura, é calma e radiante,
como bela tarde de outono.
V - A vestimenta é
uniforme: grandes túnicas brancas envolvem os corpos.
VI - A reencarnação é
em Vênus muitíssimo mais longa que a prova terrena.
VII - Em Vênus não
estão todos no mesmo nível de adiantamento espiritual, mas os menos adiantados
de lá equivalem às estrelas do mundo terrestre, isto é, aos nossos gênios e
nossos homens virtuosos.
III - Não existe ali
servidão: os superiores não são senhores, mas pais dos inferiores. (PP. 240 a
244)
123. A Revista
reproduz uma carta escrita por um adepto do Espiritismo ao jornal de
Saint-Jean-d’Angely, protestando contra o tratamento irônico e leviano dado
pelo jornal aos partidários da doutrina espírita. (PP. 244 a 246) (Continua
no próximo número.)
Respostas às questões propostas
A. Que aconteceu ao
bispo que determinou o chamado auto de fé de Barcelona?
O bispo, segundo
notícia publicada pela Revista, faleceu nove meses depois da queima pública dos
livros espíritas, realizada em 9/10/1861. Mas, ao comunicar-se na Sociedade
Espírita de Paris, se disse arrependido e pediu preces. “Orai por mim”, rogou o
falecido. “Orai, porque é agradável a Deus a prece que lhe é dirigida pelo
perseguido em favor do perseguidor.” Kardec, evidentemente, perdoou-lhe o
infeliz ato, visto que perdoar é também caridade. (Revista Espírita de 1862,
pp. 230 a 232.)
B. Como Santo
Agostinho define a religião de Deus?
Convidado para ser o
patrono espiritual da Sociedade Africana de Estudos Espíritas, formada em
Constantina, Santo Agostinho aceitou o encargo e transmitiu uma mensagem, de
que extraímos o seguinte: Todos os
homens são irmãos e o grande objetivo do Espiritismo é reuni-los um dia no
mesmo lar e fazer que se sentem à mesa do Pai comum: Deus. Amai-vos, amai-vos!
Poupai-me de me armar do açoite com que se deve ferir o mau. Embora isto por
vezes seja necessário, não sejais nunca desse número. Lembrai que a religião de
Deus é a religião do coração; que ela tem por base apenas um princípio: a
caridade, e por desenvolvimento: o amor à Humanidade. (Obra citada, pp. 233 a
236.)
C. Krishna era também
reencarnacionista?
Sim, e isso está bem
claro no poema Mahabárata, em que Krishna diz claramente a Arjuna, chefe dos
Pandus, que a alma passa a novos corpos em seu processo evolutivo. Comentando o
assunto, Kardec disse que a ideia da reencarnação está muito bem definida nessa
passagem, como, aliás, todas as crenças espíritas o estavam na antiguidade. “Só
faltava um princípio: o da caridade”, diz o Codificador. “Estava reservado ao
Cristo proclamar esta suprema lei, fonte de todas as felicidades terrenas e
celestes.” (Obra citada, pp. 239 e 240.)
Observação:
Para
acessar a parte 10 deste estudo, publicada na semana passada, clique em https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/02/blog-post_08.html
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