domingo, 19 de fevereiro de 2023

 



Kardec e os desentendimentos entre nós

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

Toda vez que surgem desentendimentos entre irmãos ou companheiros do mesmo grupo de trabalho, não há como deixar de recordar um dos mais oportunos depoimentos deixados por Jesus, que declarou, certa vez, que seus verdadeiros discípulos seriam conhecidos por muito se amarem.

Essa frase certamente passou despercebida a muitas pessoas que, valendo-se de sua condição de cristãos, chegaram a combater ou perseguir companheiros – igualmente cristãos – com cujas ideias não concordavam. A perseguição aos huguenotes(1) foi disso um expressivo exemplo, como aliás o foi toda a perseguição feita pela Igreja aos chamados hereges.

Estará o movimento espírita isento de problemas dessa ordem?

Antes de tratar da questão, examinemos a frase dita por Jesus: “Meus discípulos verdadeiros serão conhecidos por muito se amarem”.

A interpretação do texto leva-nos às considerações abaixo.

Se os que se dizem discípulos do Cristo não se amam, não são eles verdadeiros discípulos.

Em conhecida classificação dos espíritas publicada em O Livro dos Médiuns, Kardec valeu-se do termo “espíritas cristãos” para designar os verdadeiros espíritas, isto é, os que conhecem, estudam, aceitam e, mais do que isso, praticam os ensinamentos espíritas, movidos sempre pelo desejo do bem e tendo por farol de suas ações a caridade.

Juntando os dois pensamentos – a afirmativa de Jesus e a análise feita por Kardec – podemos concluir que, se não existir o sentimento de amor, de respeito, de fraternidade entre dois espíritas, não podem, tanto um quanto o outro, merecer o título de “discípulo do Senhor” nem o qualificativo de “verdadeiro espírita” e, por conseguinte, de “espírita cristão”.

Como o movimento espírita é formado por pessoas situadas nos mais diferentes níveis evolutivos, é evidente que não se encontra ele isento dos desentendimentos e das rusgas que deparamos, às vezes, nas instituições espíritas mais conceituadas, algo que não ocorre apenas aqui, mas em diferentes lugares.

Kardec referiu-se, certa vez, a esses conflitos em discurso pronunciado nas reuniões gerais dos espíritas de Lião e Bordéus. (Cf. Viagem Espírita em 1862, Editora O Clarim, pp. 76 a 105.)

Disse, então, o codificador do Espiritismo:

 

“Se, entre vós, há dissidências, causas de antagonismos, se os grupos que devem todos marchar para um objetivo comum, estiverem divididos, eu o lamento, sem me preocupar com as causas, sem examinar quem cometeu os primeiros erros e me coloco, sem hesitar, do lado daquele que tiver mais caridade, isto é, mais abnegação e verdadeira humildade, pois aquele a quem falta a caridade está sempre errado, assistido embora por qualquer espécie de razão, pois Deus maldiz quem diz a seu irmão: racca.” (Obra citada, pág. 101.)

 

O conselho do codificador em casos tais é muito claro e vem bem a propósito nesta hora difícil em que desentendimentos diversos têm-se verificado em nosso meio.

“Abafai as discórdias”, propõe-nos ele. “Seja-vos possível fundir-vos em uma única e mesma família e dar-vos mutuamente, do fundo do coração e sem pensamento premeditado, o nome de irmãos.” (Idem ibidem.)

Se agirmos como Kardec propõe, mostraremos que entendemos a mensagem e que temos, sim, ciência da exata dimensão do que representam em nossa vida a prática da caridade e a observância dos ensinos que Jesus nos legou.

 

(1) Designação depreciativa que os católicos franceses deram aos protestantes, especialmente aos calvinistas, e que estes adotaram.

 

 

 


 

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