CINCO-MARIAS
Poesia e
alfabetização
EUGÊNIA PICKINA
Se a criança desde
cedo fosse posta em contato com obras-primas, é possível que sua formação se
processasse de modo mais perfeito. Cecília Meireles
Embora nem todo poema
necessariamente seja construído com métrica fixa e rimas, eles, os poemas,
ajudam as crianças a tomarem consciência sobre a fonética (sons) e a ortografia
e a desenvolverem habilidades ligadas à linguagem. Ou seja, a poesia colabora
com o processo de alfabetização infantil e, por isso, escutar o texto lido em
voz alta – os sons literais das palavras – e repeti-los com o auxílio do
adulto, impele a criança a encantar-se desde cedo com o “jogo harmônico” das
palavras, o que facilita a aquisição (gradativa) da linguagem oral e escrita.
Em casa, o pai ou a
mãe pode colaborar com o processo de alfabetização lendo para o filho poesia,
mas com habitualidade – na sacada do apartamento, no quintal, no jardim, na
sala, à mesa da cozinha... Além disso, através desses exercícios de escuta e de
repetição, a criança vai, de acordo com seu ritmo, adquirindo recursos para a
expressão oral e escrita, à medida que ganha vocabulário e compreensão a
respeito da formação das palavras.
Além da poesia,
músicas e cantigas favorecem e enriquecem as descobertas e os exercícios com a
linguagem na infância. Se seu filho estiver na fase da alfabetização e
letramento, não tenha dúvida: leia poemas para ele, porque a poesia
naturalmente contribui com o desenvolvimento da criança, desperta a imaginação,
a criatividade, possibilitando também o despertar para a autoexpressão, para as
habilidades com a musicalidade e, além disso, desperta o gosto pela leitura.
Por fim, quem educa
uma criança não pode negligenciar o aviso de Monteiro Lobato, o grande escritor
pré-modernista, considerado um dos mais importantes autores de livros infantis
no Brasil: Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê.
Notinha
Eis alguns poemas que
podem ser lidos para e com as crianças:
Pontinho de Vista – Pedro
Bandeira
Eu sou pequeno, me
dizem,
e eu fico muito
zangado.
Tenho de olhar todo
mundo
com o queixo
levantado.
Mas, se formiga
falasse
e me visse lá do
chão,
ia dizer, com
certeza:
— Minha nossa, que
grandão!
As borboletas – Vinicius de
Moraes
Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas.
Borboletas brancas
São alegres e
francas.
Borboletas azuis
Gostam muito de luz.
As amarelinhas
São tão bonitinhas!
E as pretas, então…
Oh, que escuridão!
A bailarina – Cecília Meireles
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó
nem ré
mas sabe ficar na
ponta do pé.
Não conhece nem mi
nem fá
Mas inclina o corpo
para cá e para lá
Não conhece nem lá
nem si,
mas fecha os olhos e
sorri.
Roda, roda, roda, com
os bracinhos no ar
e não fica tonta nem
sai do lugar.
Põe no cabelo uma
estrela e um véu
e diz que caiu do
céu.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Mas depois esquece
todas as danças,
e também quer dormir
como as outras crianças.
Da Felicidade – Mário Quintana
Quantas vezes a
gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o
avozinho infeliz:
Em vão, por toda
parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do
nariz!
*
Eugênia
Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia
Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros
infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência
ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista
em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), ministra
cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de
São Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu
contato no Instagram é @eugeniapickina
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