O
que o Espiritismo nos ensina de diferente a respeito da alma e da vida
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@gmail.com
Segundo a doutrina da Igreja católica, apostólica, romana, a alma,
independente da matéria, é criada no nascimento de cada ser. Sobrevive e
conserva sua individualidade depois da morte. A partir desse momento, sua sorte
está irrevogavelmente fixada. Seus progressos ulteriores são nulos e, por isso,
ela será por toda a eternidade, intelectual e moralmente, o que era durante a
vida. A exceção a essa regra seriam os anjos, almas privilegiadas e isentas,
desde a sua criação, de todo e qualquer trabalho para chegarem à perfeição.
Quanto a todos os outros, o regime é bem diferente.
Os indivíduos maus são condenados a castigos perpétuos e
irremissíveis no inferno, do que resulta, para eles, a inutilidade completa do
arrependimento. Parece, segundo tais ideias, que Deus não deseja que eles
tenham a oportunidade de reparar o mal que fizeram.
Os bons, por sua vez, são recompensados pela visão de Deus e a
contemplação perpétua no céu. Os casos que podem merecer, pela eternidade, o
céu ou o inferno, são deixados para a decisão e o julgamento de homens
falíveis, a quem é dado absolver ou condenar.
Essa doutrina ensina, ainda, a separação definitiva e absoluta dos
condenados e dos eleitos e a inutilidade dos auxílios morais e das consolações
para os condenados.
Em face de semelhante doutrina, ficam sem solução os problemas
seguintes:
1º Por que Deus criou anjos, chegados à perfeição sem trabalho, ao
passo que outras criaturas estão submetidas às mais rudes provas, nas quais têm
mais chances de sucumbir do que de sair vitoriosas?
2º De onde vêm as disposições inatas, intelectuais e morais, que
fazem com que os homens nasçam bons ou maus, inteligentes ou idiotas?
3º Qual é a sorte das crianças que morrem em tenra idade? Se forem
para o céu, por que entram elas na vida feliz sem o trabalho ao qual outras
estão sujeitas durante longos anos? Se não forem para o céu, por que são privadas
de uma felicidade sem terem feito o mal?
4º Qual é a sorte dos cretinos e dos idiotas e de todos os seres
que não têm consciência de seus atos?
5º Onde está a justiça da miséria e das enfermidades de
nascimento, uma vez que não são resultado de nenhum ato praticado em sua vida?
6º Qual é a sorte dos selvagens e de todos aqueles que morrem
forçosamente no estado de inferioridade moral, em que foram colocados pela
própria Natureza, se não lhes é dado progredir ulteriormente?
7º Por que Deus cria almas mais favorecidas umas do que as outras?
8º Por que o Criador chama a si, prematuramente, aqueles que
teriam podido melhorar-se se tivessem vivido por mais longo tempo, tendo em
vista que não lhes é dado avançar depois da morte?
A doutrina espírita ou o Espiritismo apresenta-nos uma visão
totalmente diferente acerca da alma e da vida.
O princípio inteligente é independente da matéria. A alma
preexiste e sobrevive ao corpo. É o mesmo o ponto de partida para todas as
almas, sem exceção nenhuma. Todas são criadas simples e ignorantes, e
submetidas ao progresso indefinido. Nenhuma criatura é privilegiada ou
favorecida mais do que outras.
Os anjos são seres chegados à perfeição depois de terem passado,
como as outras criaturas, por todos os graus da inferioridade.
As almas, ou Espíritos, progridem mais ou menos rapidamente em
virtude de seu livre-arbítrio, pelo seu trabalho, pelos seus esforços, pela sua
boa vontade.
A vida espiritual é a vida normal; a vida corpórea é uma fase
temporária da vida do Espírito, durante a qual ele reveste, momentaneamente, um
envoltório material de que se despoja na morte.
O Espírito progride no estado corpóreo e no estado espiritual. O
estado corpóreo é necessário ao Espírito até que ele atinja um certo grau de
perfeição. Nesse estado, o Espírito se desenvolve pelo trabalho a que está
sujeito pelas suas próprias necessidades, e adquire conhecimentos práticos
especiais.
Sendo uma única existência corpórea insuficiente para fazê-lo
adquirir todas as perfeições, retoma um corpo tantas vezes quantas forem
necessárias e, a cada existência, a ela chega com o progresso que alcançou nas
existências anteriores e na vida espiritual.
O estado feliz ou infeliz dos Espíritos é inerente ao seu
adiantamento moral; sua punição é a consequência de seu endurecimento no mal. Mas
a porta do arrependimento jamais lhes é fechada, e podem, quando quiserem,
retornar ao caminho do bem e chegar, com o tempo, à meta a que todos somos
destinados.
As crianças que morrem em tenra idade podem ser mais ou menos avançadas,
porque já viveram em existências anteriores, onde puderam ou não fazer o bem. A
morte não as livra das provas que devem sofrer e, por isso, recomeçam, em tempo
útil, uma nova existência sobre a Terra ou em mundos superiores, segundo seu grau
evolutivo.
A alma dos cretinos e dos idiotas é da mesma natureza que a de
qualquer encarnado; e frequentemente sua inteligência é superior. Eles tão
somente sofrem a insuficiência dos meios que têm para entrar em relação com seus
companheiros de existência, como os mudos sofrem por não poderem falar. Em face
de equívocos cometidos em suas existências anteriores, aceitaram,
voluntariamente, estar reduzidos à condição em que vivem a fim expiarem o mal
que cometeram. Finda essa expiação, voltarão ao estado normal que caracteriza a
criatura humana.
Ao leitor que nos lê, sugerimos: compare os ensinamentos resumidos
neste texto e veja quais deles são dignos do Pai sábio e amoroso que nos criou.
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